Fabyo Cruz - AGÊNCIA CENARIUM
BELÉM (PA) - Belém — capital do Estado com maior contribuição para o lançamento de gases de efeito estufa no Brasil, de acordo com um relatório de 2020 do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (Seeg) —, enfrenta desafios sociais significativos e precisa se adaptar de forma mais eficaz à crise climática. Para mudar esse cenário, mobilizações populares promovem campanhas de conscientização da sociedade para reduzir o impacto do problema na cidade.
No Pará, as atividades que mais causam poluição estão ligadas às mudanças de uso de terra, como o desmatamento, e à agricultura. Já em relação a Belém, o setor de energia, especialmente o uso de combustíveis fósseis (como diesel e gasolina) nos transportes, se destaca como a principal fonte de emissão de gases de efeito estufa.
As mudanças climáticas são variações significativas e duradouras nas condições climáticas da Terra, causadas tanto por fatores naturais quanto por atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento. Já a crise climática refere-se à situação urgente e grave das mudanças climáticas induzidas pelo homem, resultando em impactos severos, como aumento das temperaturas, eventos climáticos extremos e perda de biodiversidade, exigindo ações imediatas.
“Nas últimas décadas nós entramos numa crise climática muito grande. Modificamos o ciclo ideológico do planeta, o ciclo atmosférico do planeta, ou seja, as condições se modificam drasticamente em função do aumento da temperatura. E isso que chamamos de crise climática acontece no mundo inteiro. É enchente no Rio Grande do Sul, é a seca na região Norte, e a tendência é só piorar”, afirma Leandro Valle Ferreira, doutor em ecologia e pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG).
Com a urbanização em busca de desenvolvimento, a capital paraense se afastou de suas raízes amazônicas, priorizando vias urbanas sobre as dinâmicas dos rios e marginalizando certos grupos sociais. Nesta situação, a emergência climática se destaca como uma das questões mais urgentes, decorrente de muitos anos de um sistema econômico predatório.
Sobre a capital paraense Leandro Valle Ferreira diz: “Pode perceber nitidamente esse ciclo em Belém. Se você perceber, tem chovido menos, a temperatura tem aumentado. Belém na verdade é uma cidade privilegiada, porque como a gente está cercado por água por todos os lados, a Baía do Guajará, o Rio Guamá, todo esse volume de água vai evaporando durante o dia. Se você for lá na Estação das Docas, verá aquele volume de água evaporar. E à tarde, todo esse vapor da água é empurrado para dentro da cidade, e isso faz com a famosa chuva de tarde aqui na região, mas isso também tem diminuído”, explica.
Mobilização popular e Fórum de Mudanças Climáticas
Com objetivo de discutir os efeitos da crise climática em Belém, a Rede Jandyras - grupo formado por mulheres que visam fortalecer e ampliar a participação delas no debate político das pautas ambientais - propôs uma agenda climática para a cidade, com cinco pautas, no intuito de orientar o poder público na tomada de decisões. Entre os tópicos apresentados, estava a criação do Fórum Municipal sobre Mudanças Climáticas.
"A Rede de Jandyras é uma rede de mulheres que luta pela justiça climática em Belém. A gente existe há três anos, fomos fundadas em 2021. Nós atuamos em três eixos: no advocacy, convencendo os atores políticos a pautarem as pautas ambientais na cidade; com campanhas de mobilização da sociedade civil para movimentar essas pautas ambientais; e também na educação climática ambiental. Promovemos palestras, participamos de mesas e ainda divulgamos conhecimento científico”, conta a arquiteta e urbanista Eduarda Gonçalves, diretora financeira na Rede Jandyras.
Para o grupo, a criação do Fórum Municipal sobre Mudanças Climáticas era necessário para garantir a participação de representantes das regiões que são afetadas pelas mudanças climáticas em um debate com o poder público.
“Quando propusemos a agenda climática para Belém, a nossa principal proposta era a criação do Fórum porque Belém não tinha ainda nenhum. Então, esse fórum é um espaço na cidade onde o poder público, a sociedade civil e os pesquisadores podem ter um espaço aberto de diálogo para a criação de políticas públicas, para a discussão da crise climática na cidade, onde todas as pessoas que são afetadas pela crise climática possam ser ouvidas”, afirma a ativista.
Eduarda Gonçalves certifica que a partir da instauração do Fórum houve os primeiros avanços: “A instauração do Fórum sendo participativo foi um dos primeiros avanços. Ele tem a participação da cidade civil bastante expressiva. Em junho, ocorreu a primeira conferência do clima na cidade de Belém, e, a partir dos relatórios técnicos que foram produzidos sobre o atual cenário da cidade, nós vamos ter um plano de adaptação às mudanças climáticas para Belém. Então a Rede Jandyras participou desse processo de discussão, que é um grande avanço ver Belém conseguir formular esse plano através do Fórum Climático”, conclui.
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