Ana Pastana - AGÊNCIA CENARIUM
MANAUS (AM) - O deputado federal Amom Mandel (Cidadania/AM) fez uso de um termo considerado capacitista, "se fazendo de doido", para atacar um adversário no primeiro debate entre os candidatos a prefeito de Manaus. "Doido" é uma expressão que perpetua preconceitos e estereótipos sobre a saúde mental e contribui com a exclusão, apontam especialistas.
A declaração de Amom Mandel foi feita no confronto da TV Band, na quinta-feira, 8, ao candidato Roberto Cidade (Cidadania), presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam). Termos capacitistas são palavras e expressões naturalizadas na fala e usadas no dia a dia, que normalmente tem o objetivo de atacar, criticar ou ridicularizar alguém. Esses termos banalizam as deficiências das pessoas e criam uma conotação negativa em torno de palavras que definem doenças humanas.
Amom Mandel usou o termo "doido" ao questionar Roberto Cidade sobre recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). "Mais uma vez se fazendo de doido", disse, no debate realizado na TV Band Amazonas, ao afirmar que o adversário não havia respondido o que ele questionou.
O capacitismo é uma forma de preconceito que engloba todo tipo de discriminação cometida contra pessoas com deficiência (PCDs), e neurodivergentes (NDs), que são pessoas que sofrem de autismo, bipolaridade, demência, entre outras doenças ligadas ao cérebro.
Alguns exemplos de termos capacitistas são: doido, louco, maluco, retardado, mongoloide, imbecil, estúpido, demente, capenga, bipolar, deformado, surdo/mudo, virou um hospício, e cego de (um sentimento).
A professora do Laboratório de Educação Inclusiva (LEdI) da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) Geisa Kempfer Bock explicou como a linguagem capacitista carrega significados equivocados ou pejorativos em relação à pessoa com deficiência (PCD), em entrevista ao Instituto Claro.
Segundo a especialista, ao perpetuar preconceitos e estereótipos, tal linguagem contribui com a exclusão. “A linguagem pode hierarquizar formas de ser e de se estar nesse mundo, como se houvesse corpos mais dignos de viver em sociedade do que outros. São termos que possuem como referência um corpo normativo que é heterossexual, branco, cisgênero e sem deficiência. Assim, tudo o que foge desse perfil passa a ser retratado como sub-humano ou risível por meio de palavras e expressões”, alegou, em 2023.
A psicanalista Samiza Soares analisa o impacto das palavras usadas no cotidiano. Ela cita o termo "doido", comumente usado para descrever alguém diferente ou que age de maneira incomum. "O termo "doido" e outras expressões semelhantes têm uma conotação capacitista, o que significa que elas desvalorizam e reduzem a seriedade das deficiências ou condições mentais. Quando usamos essas palavras de forma trivial, acabamos contribuindo para a banalização das dificuldades enfrentadas por muitas pessoas, criando um ambiente onde é mais difícil para elas serem compreendidas e respeitadas", conclui.
A neuropsicopedagoga Rafaela Santos avaliou que termos como "doido", "louco", "maluco", "lelé da cuca", entre outros, discriminam pessoas que sofrem com esquizofrenia, por exemplo. Para ela, se faz necessário abolir essas expressões do vocabulário e combater a discriminação e a falta de conhecimento frente a visão sobre Pessoas com Deficiência (PcDs).
"O termo 'retardado' se refere a pessoas que sofrem de deficiência intelectual, então quando passamos a utilizar esse termo, estamos reduzindo uma pessoa a sua deficiência, e nos colando como superiores a uma pessoa que sofre de algum tipo de deficiência. Não podemos olhar as deficiências como algo ruim, algo negativo. Infelizmente o preconceito está enraizado em nossa sociedade, e muitas vezes as pessoas não conseguem identificar quais atitudes e discursos são preconceituosos, por isso, a busca pelas informações corretas é a saída para abolir o capacitismo", conclui.
REDES SOCIAIS