Fabyo Cruz – AGÊNCIA CENARIUM
BELÉM (PA) - A remadora Nanda Baniwa, única indígena da delegação brasileira que competirá no Campeonato Mundial de Canoa Havaiana (VA’A), no Havaí, relatou em suas redes sociais uma experiência de discriminação que enfrentou ao chegar aos Estados Unidos. Durante a imigração, seu cocar foi apreendido.
Para a amazonense que reside no Pará, o cocar não é apenas um adereço, mas um símbolo de sua identidade, luta e cultura, que foram feridos naquele momento. Ela destacou que, além de já ser difícil lidar com o racismo, sofrer discriminação sem poder reagir e apenas deixar acontecer é uma experiência angustiante.
"Meu cocar é meu grande aliado nas minhas lutas, faz parte de mim. E desde a origem de tudo nos pertence, e é assim para todos os povos originários", compartilhou.
Nanda descreveu como ela e sua equipe, composta por quatro mulheres, foram tratadas de maneira rude e preconceituosa por um agente da imigração, que parecia determinado a prejudicá-las. Apesar de apresentar documentos que comprovavam sua identidade indígena, a remadora foi informada de que precisaria de uma carta de autorização do governo brasileiro para entrar no País com o cocar, o que considerou uma afronta à sua dignidade e cultura.
Em entrevista à CENARIUM, Nanda Baniwa, 20 anos, compartilhou as dificuldades que está enfrentando nos Estados Unidos. “A situação ainda está meio complicada para a gente aqui. Eu ainda não procurei nenhum órgão brasileiro nos EUA, pois não tive tempo para buscar o direcionamento adequado, já que os treinamentos começaram. Como estamos próximas da competição, fica complicado lidar com isso agora”, relatou a atleta.
Nanda Baniwa também recorreu às redes sociais para expressar sua gratidão pelo apoio recebido de amigos e familiares.
“Eu só tenho a agradecer todo o apoio e carinho que estou recebendo de vocês. Depois de tudo que aconteceu, não é fácil estar do outro lado, com o medo de passar por situações semelhantes na volta. Para alguns, pode parecer uma lei simples e de fácil resolução, mas não foram apenas palavras; sentimos na pele as expressões e o uso de arrogância em todas as palavras durante o procedimento. Sinto o olhar diferente e a forma de expressar uma raiva. A satisfação em transformar aquilo em uma cena constrangedora por pura ostentação de prazer é lamentável”, desabafou a atleta.
Nascida no Amazonas, Nanda Baniwa mudou-se para o Pará aos 15 anos para dar continuidade aos estudos. Além de remadora, ela é estudante de psicologia na Universidade Federal do Pará (UFPA).
O que diz o Itamaraty?
A CENARIUM entrou em contato com o Ministério das Relações Exteriores para obter um posicionamento sobre o caso. A assessoria de comunicação do Itamaraty informou que, até o momento, não há registro de contato da atleta com o Consulado do Brasil nos Estados Unidos. Ressaltaram ainda que “a Rede Consular está à disposição da atleta nos EUA”.
O Ministério dos Povos Indígenas (MPI) soube do ocorrido com a atleta indígena e informou que já entrou em contato com o Ministério das Relações Exteriores (MRE) para que o consulado brasileiro nos EUA solicite a devolução do cocar. A pasta ressaltou, ainda, que a identidade étnica de um povo não pode sofrer discriminação. "O cocar tem que ser respeitado por ser um símbolo de luta, cultura e dignidade de um povo", acrescentou.
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