Liderança indígena denuncia ameaças por defender território Amanayé no Pará
Segundo ele, a luta pela preservação do território indígena tem gerado um ambiente hostil, inclusive com tentativas de assassinato e perseguição em diversas partes do Estado.
21/08/2024 14h02
Fabyo Cruz – AGÊNCIA CENARIUM
BELÉM (PA) — Uma das principais lideranças do povo Amanayé e coordenador da Federação dos Povos Indígenas do Pará (Fepipa), Ronaldo Amanayé revelou em entrevista exclusiva à CENARIUM as ameaças constantes que enfrenta por sua atuação em defesa da Reserva Indígena Amanayé, localizada no município de Goianésia do Pará, no sudeste do Estado. Segundo ele, a luta pela preservação do território indígena tem gerado um ambiente hostil, inclusive com tentativas de assassinato e perseguição em diversas partes do Estado.
"Eu não tenho mais uma vida social dentro do próprio município no qual faço parte. Então, eu tenho que ter todo um cuidado, um protocolo de entrada e saída dentro da aldeia, não me expor no município", afirmou Ronaldo, ressaltando o clima de tensão que vive diariamente. "Já tive tentativa de assassinato lá, já tive perseguição, inclusive na própria capital, Belém, onde fui perseguido", contou.
Além das ameaças físicas, Ronaldo também menciona a violência psicológica sofrida por meio de redes sociais, onde recebe mensagens intimidatórias. Ele destaca a disseminação de notícias falsas que têm agravado a situação, com especulações infundadas sobre a demarcação da terra indígena. "Rola muita fake news [...] por exemplo, que a nossa terra seria demarcada e ia pegar metade da cidade, o que não é verdade", conta.
A liderança denuncia ainda a ausência de ação por parte das autoridades competentes, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Polícia Federal (PF) e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). Segundo Ronaldo, essa inação tem permitido o avanço das ameaças. "Tudo isso que está acontecendo é por falta de ação do Ibama, da Polícia Federal e da Funai", critica.
Apesar da falta de otimismo, Ronaldo acredita que as recentes ações do Ministério Público Federal (MPF), como a abertura de uma Ação Civil Pública (ACP), representam um passo importante na defesa dos direitos dos povos indígenas. "Eu sei que com certeza eles vão acionar a AGU [Advocacia-Geral da União] porque ele bota uma multa lá também, mas eu acho que vai se intensificar o processo. [...] É um passo", conclui.
Ronaldo segue utilizando as redes sociais como ferramenta de denúncia e mobilização, buscando dar visibilidade à causa e à luta do povo Amanayé. A esperança é que, com maior visibilidade e pressão pública, as autoridades finalmente tomem medidas efetivas para garantir a segurança e a preservação dos territórios indígenas.
MPF processa União e Ibama
O MPF entrou com uma ACP na Justiça Federal para obrigar a União e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) a demarcar a Terra Indígena (TI) Amanayé. Apesar de ter sido reservada para os indígenas em decreto publicado há quase 80 anos, até hoje não houve a identificação, delimitação e demarcação da área, conforme destaca o MPF na ação, ajuizada no dia 15 de agosto, com pedido de decisão urgente.
Conforme afirmou a autarquia, a omissão estatal permitiu que, na área da terra indígena, já existam 37 Cadastros Ambientais Rurais (CARs) e arrecadações de glebas para o Estado do Pará, sendo que algumas delas se transformaram em títulos particulares de terras. “Os Amanayé atualmente encontram-se parcialmente deslocados da área por uso da força, sem a colaboração da União ou da Funai para que retomem as terras”, diz a entidade.
A mais afetada por exploração ilegal de madeira no Pará
Dados do Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (Simex) apontam que, nos últimos três anos, a reserva foi a área indígena mais impactada pela exploração ilegal de madeira em território paraense. Entre agosto de 2020 e julho de 2023, a Reserva Amanayé teve 2.987 hectares devastados pela extração ilegal de madeira, uma área equivalente a quase 3 mil campos de futebol.
Somente entre agosto de 2022 e julho de 2023, 804 hectares foram explorados ilegalmente, representando 92% de toda a atividade irregular mapeada em áreas protegidas no Pará durante o mesmo período. Essa destruição maciça levanta preocupações não apenas ambientais, mas também em relação à sobrevivência do povo Amanayé, cujas vidas e tradições estão intrinsecamente ligadas à terra.
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