Professores indígenas da Seduc/AM esperam há quatro meses para fazer mestrado internacional
A CENARIUM teve acesso ao ofício nº 55/2024/IFCHS/Ufam, datado de 29 de abril e assinado pela diretora do Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais (IFCHS), professora doutora Iraildes Caldas das Torres.
21/08/2024 14h05
Gabriel Abreu – AGÊNCIA CENARIUM
MANAUS (AM) – Cinco professores indígenas do município de São Gabriel da Cachoeira (a 852 quilômetros de Manaus) aguardam, desde abril deste ano, autorização da Secretaria de Estado de Educação do Amazonas (Seduc/AM) para realizar uma missão interinstitucional de bolsa de mestrado sanduíche (Brasil/Bolívia) – quando parte do curso é feita em outro País. Esta é a primeira vez que o governo federal libera bolsa de mestrado para os povos originários, por meio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
A CENARIUM teve acesso ao ofício nº 55/2024/IFCHS/Ufam, datado de 29 de abril e assinado pela diretora do Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais (IFCHS), professora doutora Iraildes Caldas das Torres. O documento solicita que cinco discentes de mestrado, professores indígenas de quatro etnias, sejam autorizados a viajar para o intercâmbio no país vizinho, com data de saída de Manaus em 1º de julho de 2024 e retorno em 1º de julho de 2025.
"Os discentes são professores da Seduc e cursam mestrado no Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura da Universidade Federal do Amazonas, desde março de 2023. Cumpre-me registrar que esses discentes e outros colegas de turma não foram licenciados pela Seduc para cursar o mestrado e, com muitas dificuldades, cursaram as disciplinas do primeiro ano de mestrado", diz trecho do ofício.
Em outro ponto, a diretora aponta que os cinco discentes listados estão inseridos em um projeto de pesquisa financiado pela Capes para realizar uma missão acadêmica no exterior, motivo pelo qual "solicitamos de Vossa Excelência licença para que estes professores do ensino básico realizem o referido intercâmbio. Os ganhos desta missão para o Amazonas, para o ensino básico e para o desenvolvimento regional são enormes e imensuráveis", destaca o documento.
Angústia
A professora e mestranda Lorena Marinho Araújo, do povo Tariano, relatou que ela e os colegas estão em contagem regressiva para a viagem, pois já concluíram todos os outros processos burocráticos junto à Capes e à Embaixada da Bolívia. Ela menciona que o grupo inicialmente precisou adiar a viagem, mas agora não tem mais como prorrogar o embarque, porque a Capes já liberou o recurso para a compra das passagens aéreas. Além de Lorena, foram selecionados Viviane Alberta Gonçalves de Souza, João Ubiraci Andrade e Silva Junior, Dineia Gama Albuquerque e Wilson Bergue Vieira Fonseca.
"Na verdade, não era para estarmos passando por esse sufoco, porque foram feitas todas as tratativas com todas as instituições de ensino, inclusive o representante da Seduc regional. E deu a garantia que a formação dos professores era importante e que seria prioridade a questão da liberação. Porém, isso não aconteceu", explicou a professora indígena.
Lorena Araújo acredita que nos próximos dias a liberação deve sair, já que o reitor da Ufam, Sylvio Pulga, foi acionado para realizar tratativas junto à Seduc e à Casa Civil para liberar os mestrandos. "Estamos com a expectativa de que saia em breve, porque essa missão não é somente pelo Amazonas, é pelo Brasil. Conseguir essa bolsa de estudo com apoio da União Plurinacional dos Estudantes Indígenas, da Universidade Federal do Piauí e da Universidade Federal do Amazonas foi difícil", relata a professora.
A professora também afirmou à CENARIUM que o Governo do Amazonas garantiu que a ciência e tecnologia são prioridades na atual gestão, e que por isso acredita que o decreto liberando os profissionais deve sair até o final da semana.
"[Esperamos] que o governo do Estado assine esse decreto ainda esta semana, porque no evento do MCT&INOVAÇÃO, que aconteceu no nosso Estado, ele disse que a ciência e tecnologia são prioridades durante a sua gestão. A minha preocupação é que as passagens de São Gabriel da Cachoeira para Manaus estão se esgotando, e as passagens nesse trecho são as mais caras. Como não podemos ficar mais tempo fora de sala, não podemos viajar para encontrar os demais colegas, que já estão começando a sair e se concentrar em SP por causa dessa liberação", finaliza Araújo.
Uma pesquisa feita no site da Azul Linhas Aéreas mostra que o trecho entre São Gabriel da Cachoeira e Manaus está no valor de R$ 1.479,89. Os valores variam, e a oferta de voos da empresa é apenas duas vezes por semana, nas terças-feiras e nos sábados. Para a mestranda, é necessário que a Seduc libere a viagem o quanto antes.
São Gabriel da Cachoeira se destaca como o município com o maior percentual de indígenas do Brasil, com mais de 98% de sua população pertencente a uma das 23 etnias catalogadas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Também é uma cidade da calha do Alto Rio Negro que faz fronteira com a Venezuela e Colômbia.
A CENARIUM procurou a Secretaria de Educação do Amazonas (Seduc), por meio da assessoria de comunicação, mas não obteve retorno. A reportagem também tentou contato com a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e aguarda resposta. O espaço segue aberto.
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