Fundação Padre Anchieta

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A pandemia do novo coronavírus que atingiu o Brasil e o mundo em 2020 levou a paralisação do esporte na maior parte dos países. O futebol foi atingido em cheio. Após um longo período de discussões, a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro determinou o retorno do campeonato estadual.

Além dos debates relacionados à questão da saúde dos atletas e trabalhadores envolvidos na organização das partidas, uma verdadeira novela passou a ser acompanhada com afinco pelos torcedores das equipes cariocas: a saga pelos direitos de transmissão dos jogos do Flamengo, que respingou nos outros 11 clubes da primeira divisão do Rio.

Uma medida provisória editada pelo Presidente da República e articulada em conjunto com Rodolfo Landim, mandatário da equipe rubro-negra, passou a permitir que o clube de futebol na condição de mandante da partida possa negociar os direitos desta com qualquer emissora, ou mesmo transmiti-la pela internet. Até então, o confronto só poderia ir ao ar se a empresa tivesse um acordo com as duas equipes envolvidas no jogo em questão.

Para entendermos toda essa trama e como chegamos até a situação atual precisamos voltar até 2011. Por mais de 24 anos, uma organização que reunia os principais clubes brasileiros era o responsável por negociar os direitos do Campeonato Brasileiro da Série A, o chamado "Clube dos 13". Naquele ano, divergências em relação a proposta vencedora levaram ao fim da entidade e ao início dos contratos individuais. Depois de alguns anos tendo o Grupo Globo como único parceiro na transmissão dos jogos a Turner (por meio da marca Esporte Interativo) entrou na disputa e também fechou acordos com times da primeira divisão.

No começo de 2019, primeiro ano da vigência destes contratos, equipes como Palmeiras e Athletico Paranaense não haviam acertado com nenhuma emissora de TV aberta, apenas com o EI. Logo, muitos confrontos sofreram um “apagão” e deixaram de ser transmitidos. Ir ao estádio ou ouvir pelo rádio eram os únicos meios para acompanhar os jogos.

Agora vamos voltar para o Carioca de 2020. O Flamengo foi o único clube a recusar a proposta da Globo para os direitos de TV Aberta, TV Paga e Pay-per-View, o que deixou os jogos do Mengão fora da telinha (Exceção de Fla x Portuguesa, em que foi feita uma negociação pontual entre as partes). Tudo mudou com a MP 984/20. A equipe então resolveu transmitir o segundo confronto do retorno do Estadual pela internet, levando a Globo a rescindir o contrato com a FERJ, alegando quebra de exclusividade e iniciando uma batalha judicial entre as partes.

As principais ligas europeias adotam o modelo de negociação coletiva, o que fortalece a marca da competição e aumenta o lucro individual das equipes.

Vamos pegar como exemplo o campeonato inglês. Na terra da rainha 50% do valor total pago pelos direitos de transmitir a Premier League são divididos igualmente entre as equipes participantes. 25% são destinados conforme o número de partidas transmitidas e outros 25% são pagos levando em conta a posição na tabela conquistada na temporada anterior. Os direitos internacionais também são repartidos de forma igual. Um modelo que garante uma arrecadação básica entre todos os clubes e premia o desempenho das equipes dentro de campo. Na temporada 2018-2019, o Liverpool foi o clube que recebeu mais verbas: R$ 781 milhões. Já o lanterna Huddersfield levou R$ 495 milhões, cerca de 37% a menos (valores aproximados).

Caso o modelo de negociação individual continue sendo adotado no Brasil e a Medida Provisória seja aprovada pelo Congresso Nacional o país se aproximará do modelo mexicano, onde esse formato é realidade há vários anos. Por lá, até os horários dos jogos são negociados. As partidas em casa do Atlas, por exemplo, são realizadas sempre às 9 horas da noite das sextas, com transmissão na TV Azteca e na Sky Sports.

A diferença entre os clubes vencedores (a liga do México é dividida em dois torneios, o Apertura e o Clausura) e o lanterna da competição é maior. Os campeões de 2018-2019, América e UNAM, somam R$134 milhões em contratos, enquanto o lanterna Veracruz, falido em dezembro, recebia somente R$19 milhões. Uma redução de 86% (novamente, valores aproximados).

No Rio de Janeiro, tudo pode mudar em questão de dias, às vezes, de horas. Resta saber como terminará a trama que, se levarmos em conta o imbróglio dos direitos de transmissão e o retorno da disputa em meio a pandemia, poderia muito bem ter o nome da novela das sete: "Salve-se quem puder".

Gabriel Argachoy é jornalista e repórter esportivo da TV Cultura.

Com apresentação de Vladir Lemos, o Revista do Esporte vai ao ar às quarta-feiras, a partir das 20h45, na TV Cultura.