Fundação Padre Anchieta

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A pandemia impulsionou as possibilidades de trabalho remoto. Além da disseminação do home office, muitas empresas – especialmente na área de tecnologia – passaram a oferecer mais vagas que independem da localização geográfica do profissional. O importante é entregar as tarefas esperadas.

De todos os empregos existentes no Brasil, 22,7% já poderiam ser integralmente exercidos de forma remota, concluiu o estudo “Potencial de trabalho na pandemia: um retrato no Brasil e no mundo”, publicado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Isso envolve 20,8 milhões de profissionais.

Algumas áreas têm propensão especial para o trabalho remoto. Entre os profissionais das ciências e atividades intelectuais, 65% já poderiam exercer suas atribuições sem estar presencialmente em um ambiente de trabalho. Nas funções de apoio administrativo, 41% não precisariam bater ponto no escritório.

Paixão por viajar

O impulso ao trabalho remoto está servindo para dar asas à fantasia em torno de um dos estilos de vida mais desejados e invejados: o dos nômades digitais. São pessoas que vivem viajando de país em país, aproveitando o fato de que suas atividades profissionais podem ser exercidas de qualquer lugar (desde que haja uma boa conexão de internet, claro).

Quem é referência nessa prática, muitas vezes chamada até de “movimento” pelos adeptos, percebe o aumento do interesse nos últimos meses. “Desenvolvemos dois novos cursos online durante a quarentena e ambos estão indo muito bem”, conta Vinícius Teles, 44 anos.

Vinícius forma, ao lado da mulher e sócia, Patrícia Figueira, 47 anos, o “Casal Partiu”, nome do negócio que eles criaram para viver da paixão de viajar – e ao qual se dedicam integralmente há três anos, produzindo cursos, guias e outros materiais direcionados a quem deseja levar vida semelhante.

Pode ser barato

A aventura nômade de Vinícius e Patrícia começou há 11 anos, quando decidiram trocar o Rio por Buenos Aires. Logo em seguida se deram conta de que não precisavam ficar num só lugar e iniciaram uma viagem de nove meses ao redor do planeta.

As circunstâncias ajudavam: Vinícius havia desenvolvido um aplicativo e conquistado um número de assinaturas suficiente para assegurar certa renda mensal. Patrícia atuava como fotógrafa, atividade que também poderia ser realizada mundo afora.

Eles constataram que, mesmo com os custos das passagens, viver viajando pelo mundo poderia ser mais barato do que manter um apartamento no Rio de Janeiro, considerando gastos como condomínio, carro e impostos, entre tantos outros. O segredo seria escolher bem os destinos e negociar com calma os imóveis a serem alugados pelo Airbnb.

Equilibrar as finanças ficou ainda mais viável depois que o casal esgotou os destinos mais turísticos e passou a buscar países menos óbvios, com custo de vida menor. Entre os 70 já visitados, alguns dos mais recentes, antes da pandemia, foram o Irã, o Azerbaijão e a Armênia. O tempo médio de permanência é de três meses, limite normalmente adotado para o visto de turismo.

Período de sossego

O casal chegou em novembro do ano passado a Batumi, cidade litorânea da Georgia, com planos de ficar cinco meses, já que o país permite a permanência de turistas por até um ano.

Quando a pandemia chegou à Europa, eles já estavam com passagens compradas para o Brasil, onde iriam visitar familiares depois de quase um ano sem vê-los. A viagem seria no dia 15 de abril, mas precisou ser antecipada.

“Quando a Itália anunciou confinamento, no dia 9 de março, percebemos que seria preciso sair o quanto antes da Georgia, senão poderíamos ser obrigados a ficar lá por tempo indeterminado”, lembra Vinícius.

Após uma verdadeira odisseia de cinco dias para chegar ao Brasil, com mudanças de última hora nas escalas, o casal está experimentando um período de “sossego” por conta das restrições para viagens internacionais. “Decidimos que iríamos aproveitar o período da quarentena para uma dedicação plena ao trabalho, bem acima do padrão que praticamos quando estamos viajando e conhecendo as cidades pelas quais passamos”, descreve Vinícius.

O plano é retomar aos poucos as viagens, inicialmente dentro do Brasil – que, na realidade, o casal ainda não teve muita oportunidade de conhecer, pois sempre priorizou os destinos internacionais. “Um dos motivos disso são as dificuldades de infraestrutura no Brasil. Precisamos de internet boa e confiável, e não é todo lugar que proporciona essas condições aqui no país.”

Parou tudo

Outro casal de nômades que precisou voltar ao Brasil por algum tempo é composto por Carol Soares, 40 anos, bióloga que abandonou um emprego como professora universitária para viajar pelo mundo, e o publicitário Franklin Costa, 42 anos.

Eles viabilizaram a vida como nômades ao criar uma consultoria voltada ao mercado de inovação e entretenimento. O plano era dedicar o ano de 2020 à organização de viagens em grupo para eventos de tecnologia e festivais de música. Havia nove viagens agendadas quando a pandemia chegou. “Atuamos bem na intersecção entre duas áreas que estão entre as mais atingidas, viagem e entretenimento. Parou tudo, de uma hora para a outra”, diz Carol.

No final do ano passado, depois de levar um grupo para um evento em Portugal, eles seguiram para a Ásia. Lá, acompanharam as primeiras notícias sobre o surgimento do novo coronavírus na China.

Cumprindo a programação, o casal partiu do Japão para os Estados Unidos no início de março, com o objetivo de participar do festival South by Southwest, no Texas. Mas o festival foi cancelado por conta da disseminação do vírus. Carol e Franklin conseguiram voltar ao Brasil num dos últimos voos antes do fechamento das fronteiras.

Mercado adaptado

Em 2017, quando decidiram se lançar à vida de nômade, Carol e Franklin venderam o apartamento no Rio de Janeiro. Presos ao Brasil pela pandemia, tiveram que alugar um apartamento em São Paulo, por três meses. Agora estão no Rio, por mais dois meses, e depois pretendem seguir para alguma cidade serrana. “Continuamos com o mesmo espírito: nada de criar raiz. Só de pensar em decorar um apartamento eu tenho alergia”, brinca Carol.

O casal está dedicando o tempo da pandemia a converter totalmente as atividades profissionais para o digital. “Parte do nosso trabalho ainda era presencial. Tínhamos sempre que voltar ao Brasil, passar alguns meses por aqui para encontrar clientes e algumas outras atribuições. Agora a ideia é estar totalmente livre quando a pandemia passar”, diz Carol.

Ela conta que as circunstâncias da pandemia facilitaram a digitalização dos negócios. “Antes, a gente ia adiando projetos como fazer lives e lançar um podcast. Agora encontramos a oportunidade para materializar essas ideias”, descreve.

Outro problema que está sendo superado, conta Carol, é a resistência do mercado corporativo brasileiro a reuniões virtuais e videoconferências. “Tínhamos dificuldade para fechar projetos por conta disso. As pessoas diziam: ‘quando vocês passarem por São Paulo, deem um pulo aqui e a gente conversa’. Agora os contatos à distância foram naturalizados e estamos conseguindo evoluir muito mais do que antes.”

O lugar de cada um

À primeira vista, a necessidade de ficar em quarentena pode parecer o oposto exato dos princípios do nomadismo. Em certa medida, no entanto, trata-se até de uma experiência semelhante à vivida quando se está em permanente trânsito.

Afinal, sempre é bom lembrar, não se trata de ficar o tempo todo fazendo turismo – é preciso trabalhar em meio às viagens. E o modelo de trabalho é o do home office, que tantas pessoas passaram a experimentar por conta da pandemia.

No caso dos nômades digitais, a peculiaridade do home office é que o endereço vai mudando o tempo todo. Só no ano de 2017, a família da arquiteta e paisagista Daniela Ruiz, 40 anos, passou por 62 endereços em 54 cidades de 12 países, incluindo destinos incomuns, como Botsuana, Sri Lanka e Islândia.

Daniela e o marido, o empresário Arthur Hirsch, 47 anos, decidiram viver essa experiência com as filhas Mia e Lara ainda pequenas – elas tinham sete e cinco anos à época. “As meninas perderam o ano escolar, mas o que ganharam durante a viagem certamente compensou isso com folga”, diz a mãe.

Para ela, a quarentena tem lembrado a experiência das viagens por conta da convivência da família em tempo integral. “Estávamos o tempo todos juntos, vivendo um dia de cada vez, exatamente como agora”, descreve.

A experiência de 2017 foi decisiva para que o casal tomasse a decisão de fincar raízes em Barcelona, um dos destinos visitados durante a viagem. Estão na Espanha desde julho do ano passado. “O que a gente sempre quis mostrar para as nossas filhas é que podemos ter muitas experiências numa mesma vida. O nosso lugar não é onde estamos, e sim dentro de nós mesmos.”