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Arquivo/ Mahadevil
Arquivo/ Mahadevil

Todos os dias, Mahadevil abre o seu estúdio de tatuagem para atender de graça pessoas que passaram por situações traumáticas e carregam consigo marcas de automutilação e tentativas de suicídio. Por meio de rituais com medicinas indígenas e acessando a espiritualidade de cada um, o tatuador procura ressignificar cicatrizes e transformar aquelas dores em arte.

Mahadevil é o nome artístico de Pietro Marinho, que começou a tatuar aos 15 anos e, mais tarde, expandiu seu trabalho para as artes plásticas e pinturas de paredes e murais. Homossexual, o ilustrador sofreu muito bullying e preconceito ao longo de sua trajetória e, atualmente, acessa todas essas memórias com gratidão, carinho e respeito, já que, para ele, elas o transformaram no indivíduo que é hoje. Este é o objetivo do Projeto Cicatrizes: ajudar outras pessoas a fazerem o mesmo sem cobrar nada em troca.

“É ser quem você é e ser para si, não ser para agradar o outro. E ser o guru, inspirar as pessoas, sair da zona de conforto, inspirar as pessoas a saírem da zona de conforto delas também, curarem esses traumas, esses ressentimentos, essas mágoas, para se tornarem pessoas melhores”, explicou.

Em sete anos de carreira, Mahadevil já recebeu diversas pessoas com cicatrizes em seu estúdio, mas, com a chegada do Setembro Amarelo - mês que abriga o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, neste dia 10 -, o tatuador decidiu fortalecer esse trabalho e atender todos os dias, ao longo de duas semanas, pessoas que passaram por situações traumáticas, mas queiram ressignificar essas memórias.

As sessões são feitas em seu estúdio em São Paulo e ele dedica um dia inteiro para o atendimento de uma única pessoa, já que os encontros não envolvem apenas a produção da tatuagem, mas também procuram estabelecer uma conexão espiritual com cada pessoa atendida.

“Eu trabalho com alguns rituais xamânicos, com algumas medicinas indígenas. Então, eu trabalho com a Medicina da Sananga, Medicina do Rapé e muita limpeza de memórias, eu vou lá na ferida, lá na cicatriz, lá na criança interior, lá na raiz do problema. E eu trago o método do Ho'oponopono, que vem do Hawaii, dos Kahunas: ‘Sinto muito. Me perdoe. Eu te amo. Eu sou grato. Sinto muito. Me perdoe. Eu te amo. Eu sou grato’. E orações para limpeza de memórias, corte dos cordões Aka, tudo aquilo que nos prende àquelas pessoas, situações, circunstâncias e acontecimentos que contribuíram para esse problema. E, consequentemente, estou fazendo uma arte em cima, estou usando de tela, né?”

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A Sananga tem como processo medicinal a possibilidade de que o indivíduo enxergue a verdade e a beleza que existe à sua volta, enquanto que o Rapé, originário entre tribos indígenas da Amazônia, está ligado às emoções e comportamentos de cada um. 

“São medicinas indígenas, são medicinas muito especiais e todas as pessoas que entram aqui e que se abrem eu explico sobre os rituais. Eu faço rituais com quem o coração está pedindo e não é brincadeira, todo o procedimento não é brincadeira, né? Eu só tatuo uma pessoa por dia, fecho o dia para receber a pessoa, para a gente poder criar e desenvolver tudo juntos no dia”, explicou.

Em resposta, o tatuador recebe relatos de pessoas agradecidas por terem conseguido superar seus traumas e encontrar “luz onde havia apenas escuridão”. Segundo Mahadevil, muitos contam que tiveram suas vidas salvas pelo ilustrador e que se sentem mais próximos da natureza e de uma nova consciência de mundo.

Os feedbacks foram tão positivos que o projeto cresceu e se estendeu para outros estados, englobando outros tatuadores. Em sua página do Instagram, diversos artistas costumam comentar que se sentiram inspirados pela arte de Mahadevil e que pretendem fazer o mesmo trabalho de graça em suas cidades.

“O propósito de eu estar fazendo isso é o de inspirar outras pessoas e que elas também possam fazer isso. [...] É bem legal ver que isso está tomando uma proporção bacana, que a gente está bem no começo de setembro e que isso está atingindo vários lugares, né? Sou muito grato. Esse projeto das cicatrizes, ele é muito forte, muito especial”, comentou o artista. “Eu estou postando isso no meu Instagram, estou postando tudo, tem um alcance grande no Instagram, tem bastante gente influente que me segue no Instagram, já tatuei muita gente grande. E isso me ajuda, isso é legal, porque essas pessoas me acompanham e elas veem e compartilham isso que eu estou fazendo e isso chega em outros lugares, chegou no Razões Para Acreditar.”

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O projeto, que ganhou força com o Setembro Amarelo, também deverá ser levado para os outros meses do ano, a fim de que Mahadevil sempre esteja ressignificando marcas e alertando para a seriedade do assunto. “O importante é passar essa consciência para as pessoas de que suicídio de não é frescura, depressão não é frescura, ansiedade não é frescura e também não é uma característica sua, que você carrega no seu corpo como se fosse uma pinta. É um estado de consciência, que é mutável.”

Para participar do projeto, o tatuador pede que as pessoas mandem uma mensagem pelo e-mail cicatrizes@mahadevil.com.br, contando suas histórias, em quais estados elas residem e anexando uma foto.

Os relatos enviados de outras cidades fora de São Paulo são encaminhados a tatuadores de diferentes lugares do país, que se candidatam a participar do projeto pelo e-mail seleçãotatuadores@mahadevil.com.br. De acordo com o ilustrador, nem sempre é possível que todas as pessoas sejam atendidas, já que a quantidade de mensagens recebidas é muito grande. No entanto, Mahadevil pede para que os que não foram atendidos não desistam e possam ser inspirados por esse trabalho.

“Cada movimento que a gente dá, a gente respinga para outras pessoas também. Então, que bom que isso está chegando em lugares, né? Vamos dar visibilidade para essa causa. O objetivo é inspirar as pessoas a trabalharem também esse outro lado”, afirmou.