Fundação Padre Anchieta

Custeada por dotações orçamentárias legalmente estabelecidas e recursos próprios obtidos junto à iniciativa privada, a Fundação Padre Anchieta mantém uma emissora de televisão de sinal aberto, a TV Cultura; uma emissora de TV a cabo por assinatura, a TV Rá-Tim-Bum; e duas emissoras de rádio: a Cultura AM e a Cultura FM.

CENTRO PAULISTA DE RÁDIO E TV EDUCATIVAS

Rua Cenno Sbrighi, 378 - Caixa Postal 66.028 CEP 05036-900
São Paulo/SP - Tel: (11) 2182.3000

Televisão

Rádio

No final de outubro, o bailarino e coreógrafo Rafael Hoffelder, 40 anos, inaugurou em Florianópolis uma loja de velas artesanais, o Bosque de Berkana. Trata-se do marco físico de um processo de reinvenção profissional iniciado junto com a pandemia.

Com o cancelamento dos eventos de dança, dos festivais dos quais era curador e dos desfiles de carnaval – Rafael também atuava como coreógrafo de comissões de frente –, ele precisou desenvolver uma nova atividade profissional enquanto a normalidade não fosse retomada.

Ao pensar sobre o que faria, lembrou de uma paixão antiga, as velas. “Sempre gostei de fazer velas artesanais, mas era só para presentear amigos ou usar em casa. Todo mundo dizia que eu poderia criar um negócio com isso, então decidi seguir o conselho quando a situação apertou por conta da pandemia”, ele conta.

Trabalho com propósito

A história de Rafael é um típico exemplo do que vem sendo chamado de Passion Economy, a Economia da Paixão. Trata-se de transformar hobbies em fontes de renda.

“Os negócios criados com essa perspectiva tendem a ser criativos e possibilitam a união entre flexibilidade, vocação e realização”, diz Nilson Filatieri, CEO e cofundador da HeroSpark, que oferece soluções para empreendedores digitais.

Filatieri diz que a pandemia impulsionou a abrangência da Passion Economy pela soma de dois aspectos: ao mesmo tempo em que as pessoas passaram a refletir mais sobre o sentido do trabalho, ampliou-se o hábito do consumo online, criando novas possibilidades para quem começa um negócio em qualquer lugar do país.

Comunidades de fãs

Espera-se, inclusive, que a Economia do Paixão tenha um papel importante para melhor a qualidade do tempo gasto nas redes sociais. Muitos usuários das grandes plataformas não estão satisfeitos com o tempo que precisam perder para garimpar informações que considerem de fato relevante.

Pesquisa recente do instituto Disciple Media nos Estados Unidos constatou que 50% das pessoas que frequentam as grandes redes sociais estariam dispostas a se juntar a uma nova plataforma social ou baixar um aplicativo que trate especificamente de uma de suas paixões pessoais.

A boa notícia para empreendedores da Passion Economy é que 34% dos usuários das redes sociais receberiam com prazer conteúdo ou ofertas comerciais fornecidas por essas fontes.

Símbolo de recomeço

“À medida que mais e mais pessoas se esforçam para tornar todo o seu tempo digital significativo, as redes e comunidades que atendem a interesses de nicho com conteúdo de qualidade continuarão a prosperar”, diz o CEO da Disciple, Benji Vaughan.

É o que vem acontecendo com Rafael. Mais do que simplesmente vender pela internet, ele criou uma comunidade de apreciadores de velas artesanais.

Compartilhou a história de vida, a visão de mundo e explicou a escolha do nome Bosque de Berkana para o negócio – trata-se de uma referência à runa que representa a bétula, espécie de árvore que, para os europeus, é símbolo de renovação e recomeço.

Rafael iniciou a divulgação e as vendas online em abril e assim permaneceu durante mais de seis meses, enquanto planejava cuidadosamente a abertura da loja física em parceria com o marido, Luciano. Mesmo depois da inauguração da loja, as vendas online continuam tendo um peso considerável no faturamento.

Passeio revelador

Rafael precisava de um plano B que fosse encantador, pois desenvolveu uma carreira fascinante na dança. Integrou espetáculos da Disney e participou de três espetáculos do Cirque du Soleil.

Depois de alguns anos, feliz com a trajetória, mas cansado da vida exaustiva de treinos e apresentações, voltou a Santa Catarina para ficar perto dos pais, especialmente por ser filho único. Passou a coreografar grupos de dança e tornou-se curador do Festival de Joinville, o mais importante do país.

Em 2016, foi convidado para coreografar o grupo austríaco Zurcaroh, que une dança com acrobacias. Durante os dois meses de trabalho, ele conheceu, na cidade de Bludenz, uma loja só de velas. “Eram produzidas de uma forma bem diferente da que conhecemos no Brasil, com pavios de madeira e flores desidratadas”, ele lembra.

A proprietária da loja, que era também a artesã, contou detalhes de como produzia as velas. De volta ao Brasil, inspirado pelo que viu na loja austríaca, Rafael passou a dedicar-se ao novo hobby, sem imaginar que um dia as velas se transformariam numa atividade profissional.

Paixão da infância

Quem também se entregou à paixão foi Alessandra Monzani Nascimento, 45 anos, fundadora da Brigalê, em São Paulo, que produz brigadeiros e outros doces.

Em 2015, depois de mais de 20 anos de atuação como farmacêutica, Alessandra foi inesperadamente demitida da empresa de saúde em que tinha um cargo de gerente. Tentou uma recolocação imediata, mas os meses se passaram sem que surgisse uma oportunidade interessante.

Ela decidiu, então, dedicar-se aos brigadeiros, paixão que cultuava desde os dez anos, quando a mãe a ensinou a preparar o docinho. Os “brigadeiros da Alê” se tornaram um sucesso nas festas familiares.

Horas passam voando

A paixão por doces foi sendo ampliada e ela passou a fazer bolos e tortas ao longo de toda a adolescência. Quando chegou a época do vestibular, ela escolheu Farmácia. Formou-se e seguiu carreira, até a reviravolta que transformou o antigo hobby em atividade profissional.

Alessandra cuida pessoalmente de toda a produção dos doces, e também das compras, do atendimento dos clientes e das entregas, incluindo finais de semana e feriados.

 

Trabalha em média 60 horas por semana e ainda ganha cerca de 20% menos do que o salário que recebia na época de carteira assinada, mas não se queixa de nada disso. “Não tenho dúvidas de que a minha satisfação com o trabalho e a minha qualidade de vida são muito maiores do que naquela época.”

Luz e doçura

As histórias de Alessandra e Rafael têm muitos aspectos em comum. Além do fato de terem buscado novas atividades profissionais nos prazeres pessoais, ambos conseguem estabelecer uma linha de continuidade entre o que faziam antes e fazem agora.

“Tanto a farmácia quanto a brigaderia são baseadas na alquimia de tratar as pessoas – uma com drogas, outra com doçura”, diz Alessandra. Para Rafael, a nova atividade é uma continuação da trajetória artística. “Minha missão com a dança sempre foi levar luz à vida das pessoas. Continuo fazendo isso.”