Fundação Padre Anchieta

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‘Antirracismo’ foi eleita uma das palavras de 2020, por levantamento da consultoria CAUSE em parceria com o Instituto IDEIA Big Data. Em um ano marcado por protestos pela igualdade e contra a violência no Brasil e no mundo, o debate em torno do preconceito e discriminação racial foi amplificado. O tema, que atravessa a realidade de toda pessoa negra, não deixa de estar presente no mundo virtual.

38% dos influencers e criadores de conteúdo pretos já receberam discursos de ódio em seus perfis. Dentre os ataques, 60% têm cunho racial. Os dados são da pesquisa Black Influence, desenvolvida pela consultoria Black Influence, site Mundo Negro, YOUPIX, empresa especializada em marketing de influência e comunidades Squid e Sharp. O relatório ainda aponta que, entre indígenas, o número de produtores que recebem ataques sobe para 63%; entre amarelos, 23%.

“Existem perfis específicos para perseguir algumas minorias nas redes sociais. Quase todo dia eu recebo uma mensagem de ódio, alguém me xingando”, diz o creator Levi Kaique Ferreira, de 26 anos. Engenheiro civil, Levi produz conteúdo para a internet desde fevereiro de 2020.

Nas suas publicações, ele resgata autores e pensadores negros para propor discussões sobre raça e sociedade.

Levi conta que já chegou a receber ameaças e ter sua imagem disseminada em contas anônimas voltadas a atacar pessoas negras. “Dependendo do conteúdo que eu publico na semana, esses ataques ficam maiores”.

“Até um tempo atrás, eu nunca tinha recebido nenhum tipo de comentários racistas diretamente para mim. Depois que eu comecei a me posicionar em relação a questões raciais, mais perto eu via que estava de receber”, relata a youtuber Sabrina Caetano, de 18 anos. Ela foi vítima de comentários racistas durante live que fez com uma amiga, no Instagram. 

O ocorrido a motivou a criar um abaixo-assinado virtual para pressionar a plataforma a criar a opção de denunciar especificamente o crime de racismo, além de melhorar os mecanismos de apuração das denúncias. “Basicamente, são robôs programados, que não enxergam racismo. Nunca vi ninguém denunciar um racista e ele realmente ter a conta derrubada”, completa.

“Sempre tem alguém para dizer que é ‘mimimi’”

Os criadores apontam que muitos dos ataques racistas acontecem, justamente, quando a postagem fala sobre racismo. “Sempre que você faz alguma publicação, vídeo, post de cunho racial, tem alguém para dizer que é ‘mimimi’. Na maioria das vezes, esses ataques vêm para nos silenciar”, diz a influenciadora Andressa Carvalho, conhecida nas redes sociais como Andressah Catty. Aos 26 anos de idade, ela disponibiliza conteúdo sobre moda, cabelo e maquiagem no YouTube e no Instagram desde 2016.

Para Levi, a negação do racismo e consequente rejeição do assunto por parte de pessoas brancas está relacionada com a falta de debate sobre o tema no Brasil. “Durante muito tempo a gente não falava sobre isso. As pessoas têm uma noção muito errada do que é o racismo, acham que é só o ataque direto à pessoas negras. O racismo é um sistema, e muita gente não entende isso [...] As pessoas têm mais medo de serem chamadas de racistas do que de efetivamente serem racistas”, comenta.

Influenciadores pretos recebem menos

“Não só o público, as marcas vêem produtores negros de maneira diferente”, opina o influencer. Os dados da pesquisa Black Influence confirmam. De acordo com o relatório, 64% de influenciadores de todas as etnias já participaram de alguma campanha publicitária. Contudo, os produtores negros recebem 12% a menos por esses trabalhos.

Enquanto um creator branco recebe, em média, R$ 564 por postagem, um negro recebe R$ 496. A diferença é ainda maior quando se trata de perfis com mais de 100 mil seguidores. Se uma pessoa branca com essa quantidade de fãs recebe, em média, R$ 1.400, uma pessoa negra recebe um pouco mais de R$ 800.

A média máxima recebida por brancos é de R$ 4.181,01. Já a recebida por pretos é de R$ 1.626,83, uma diferença de 51,1%.

Ainda, pessoas pretas são mais chamadas para publicidades que envolvem assuntos de impacto social, como as questões de racialidade. “Produtores de conteúdo que não falem especificamente sobre racismo têm uma dificuldade muito grande de crescer dentro da plataforma. Vejo muitos produtores negros com engajamento muito bom, altíssimo, que não são notados pelas marcas”, aponta Levi.

Ainda existe um abismo muito grande entre você ser um produtor de conteúdo branco e um produtor de conteúdo preto. Para as marcas chegarem em um produtor de conteúdo preto, existe um padrão. Eles têm medo de preto que se impõem. Conheço vários produtores de conteúdo que se posicionam assim como eu e têm a mesma dificuldade”, opina Sabrina.

Felipe Oliva, CEO e cofundador da Squid, afirma que a diversidade ainda é um tema a ser muito debatido dentro da publicidade, mesmo em um ramo novo como o do marketing de influência. “O mercado publicitário foi construído com base em nichos. Se, por um lado, isso contribuiu para o desenvolvimento desse segmento, por outro lado criou e reforçou estereótipos e preconceitos. Acredito que o momento agora é de subverter e utilizar essa lógica que nos trouxe até aqui para celebrarmos e impulsionarmos a diversidade de narrativas”, diz.

‘Cancelamento’

O racismo não parece ser impedir o crescimento nas redes sociais para todos. Ao contrário, não é raro que pessoas brancas vejam seu número de seguidores crescer após publicarem conteúdo racista.

Segundo Levi, entrar nesse tipo de polêmica virou prática de alguns influenciadores. “Outras pessoas que têm esse mesmo pensamento racista começam a seguir essa pessoa. Para acompanhar a discussão, as pessoas seguem essa pessoa, mesmo que não concordem com ela. Essa pessoa ganha engajamento, o perfil dela cresce. Para algumas pessoas, isso é um modus operandi. Causar polêmica já esperando que vai ter uma onda de pessoas denunciando, o perfil vai crescer, e logo as pessoas esquecem”, diz.

“Muita gente está crescendo na internet fazendo discurso de ódio”, comenta Andressa. “Se as pessoas tivessem a consciência de não irem lá dar audiência para essa pessoa, outras pessoas não praticariam isso”.