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O Ibovespa viveu hoje um dia de intensa volatilidade, causada pelo mau desempenho das estatais, especialmente a Petrobras. A decisão do presidente Jair Bolsonaro de trocar o comando da petroleira foi o degrau mais recente em uma escalada de posturas intervencionistas do governo. Bolsonaro sinalizou que também pretende pressionar a Eletrobrás a reduzir as tarifas de energia e externou mais de uma vez a intenção de demitir o atual presidente do Banco do Brasil.

Para os investidores, as quedas nos preços dos papéis das estatais assustaram. No término do pregão desta segunda-feira (22), as ações da Petrobras acumularam baixas de 20,48% (ON) e 21,51% (PN), enquanto BB recuou 11,65%. Eletrobrás recuperou boa parte dos prejuízos – os papéis ON fecharam em baixa de 0,69% e os PNB perderam 0,17%. Diante de um dia de sustos, o instinto de se desfazer das posições é natural.

Três especialistas explicaram ao 6 Minutos por que a ingerência do governo prejudica os resultados dessas empresas e qual deve ser a atitude dos investidores das estatais nesse momento. É hora de desembarcar ou, ao contrário, aproveitar a baixa para aumentar as posições?

Petrobras: fundamentos da empresa estão em risco

Você já deve ter lido por aí que o investimento em ações é de longo prazo e que, em momentos de crise, o melhor a fazer é respirar fundo e esperar a volatilidade passar, sem fazer grandes alterações no portfólio. Afinal, uma empresa que era sólida continuará sólida – e, passados os solavancos do momento, seus fundamentos não terão se alterado.

O problema está justamente na última parte da frase anterior. Uma ingerência mais radical de Bolsonaro pode, sim, comprometer os fundamentos das estatais, fazendo com que deixem de ser bons investimentos. E um dos pontos mais sensíveis é justamente aquele em que Bolsonaro quer intervir: as políticas de preços.

“Isso muda completamente o fluxo de caixa de uma empresa como a Petrobras. As altas do dólar e dos preços do petróleo, que seriam positivas para ela, passam a ser negativas. Na medida em que ela não consegue repassar esses preços para o consumidor, passa a ter prejuízo“, explica Pedro Lang, head de renda variável da Valor Investimentos.

Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, frisa que um dos grandes pilares da tese de investimento na Petrobras era a política de desinvestimentos que vinha sendo conduzida por Roberto Castello Branco, com o objetivo de angariar R$ 30 bilhões até 2025. “O grande mote era a venda de refinarias. Mas, com o governo agindo dessa forma, quem vai querer comprá-las, com os preços controlados dessa maneira?”, indaga.

Sem que as vendas saiam do papel, a petroleira terá de recorrer a outras fontes de receita para fazer frente aos gastos e dar sequência ao seu plano de reduzir o endividamento. Se conseguisse diminuir a dívida para US$ 60 bilhões até 2022, a empresa havia prometido que elevaria os pagamentos de dividendos ao acionistas. “Possivelmente, isso não vai mais se concretizar”, diz o analista.

Eletrobrás: a galinha pode deixar de botar ovos de ouro

Quem compra papéis de empresas de energia, como a Eletrobrás, frequentemente está de olho nos bons dividendos gerados todo mês – afinal, trata-se de uma atividade em que a demanda é regular e o fluxo de receita, resiliente. Mas, para que esses proventos sejam distribuídos aos acionistas, é preciso que a empresa tenha gerado lucro.

“Se a Eletrobrás for forçada a distribuir energia mais barato, chegará a um ponto em que não haverá mais dividendos a repartir porque o lucro da empresa terá sido destruído”, diz Rafael Gouveia, head de renda variável da Speed Invest. “Uma intervenção mais extrema começa a estragar os resultados da empresa. Vai tudo pelo ralo: fluxo de caixa, resultados e dividendos.

Lang observa que as distribuidoras de energia – na Eletrobrás, a distribuição responde por 56% de sua atividade – já vêm enfrentando uma situação delicada. “Elas apresentam um grau de alavancagem financeira altíssimo, se deparam com a queda da demanda de energia na indústria e comércio e, ainda por cima, sofrem com a inadimplência e o furto de energia por meio de ‘gatos'”, enumera.

Para Arbetman, a situação da Eletrobrás não é tão preocupante quanto a da Petrobras. “O petróleo é muito dependente da cotação do óleo Brent no mercado internacional. Já o preço da tarifa de energia é muito mais regular. Por isso, o peso da interferência do governo é menor no caso da Eletrobrás”, compara.

Vender ou não vender: tudo depende da extensão do estrago

Embora os prognósticos não sejam exatamente animadores, a verdade é que, por ora, não se sabe qual será a extensão da intervenção de Bolsonaro nas estatais. Gouveia acha que, no caso da Petrobras, o governo pode buscar uma forma mais branda de influir na política de preços. “Ele pode mexer na fórmula de repasses, sem fixar arbitrariamente os preços no mercado interno, e promover a desoneração de tributos federais”, pondera.

Para Lang, tudo indica que o presidente se lançará em uma guinada populista para estancar a tensão social provocada pela alta de preços e aumentar seu capital político para 2022. Mas, até agora, nenhuma atitude concreta foi tomada.

Se Bolsonaro não mexer nas políticas de preço das estatais, nada muda. Se ele não bater na Eletrobrás e não trocar o presidente do Banco do Brasil, segue o jogo. E aí, quem comprou as ações dessas empresas barato, se deu bem.

Segundo ele, a motivação do presidente para intervir no BB não está conectada com a realidade do setor bancário. “O BB também vive um momento delicado. Em tempos de revolução digital e fintechs, o BB precisa de uma postura disruptiva, e não de um cara que não quer fechar agências.”

O head da Valor acredita que as próximas duas semanas serão decisivas para as estatais. “Nesse período, pode haver mudanças no fundamento dessas empresas que serão sentidas nos próximos três anos. Por isso, o melhor a se fazer agora é aguardar, e só se desfazer das posições se de fato ocorrerem essas mudanças“, afirma. “As decisões tomadas por impulso são sempre piores. Duas semanas não farão grande diferença em um horizonte de investimento de 20 anos.”

Para Gouveia, antes de decidir o que fazer com suas ações, cada investidor deverá fazer uma leitura pessoal sobre o quanto o governo deverá intervir. “Se ele acredita que Bolsonaro dará um passo atrás e as estatais voltarão a ter autonomia na gestão, talvez esta seja uma oportunidade de compra. Mas, se acha que a interferência vai continuar, o melhor é não investir em estatais”, afirma.

Aos investidores que estão tentados a comprar as ações das estatais apenas porque estão descontadas, Arbetman avisa: não se guiem pelo viés do preço. “As mudanças que podem acontecer dentro do organograma dessas empresas são complexas, com impacto inclusive no risco Brasil, em dólar e juros. Não vejo uma janela de compra neste momento”, afirma. “É preciso ater-se aos fundamentos. E, no caso da Petrobras, as mudanças são fortes a ponto de revisitar a tese e ponderar se realmente vale a pena manter essas posições na carteira.