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A quantidade de empresas que resolveram abrir seu capital deu um salto em 2020. O ano teve cerca de 60 IPOs (sigla em inglês para oferta inicial de ações). A quantidade de estreias na Bolsa foi motivada por vários fatores, como a queda da taxa de juros, que levou mais investidores para a renda variável, e a própria recuperação do mercado financeiro depois do choque inicial da pandemia. Na outra ponta, muitos empresários passaram a ver na emissão de ações a chance de captar recursos para financiar seus projetos.

Para Álvaro Gonçalves, diretor executivo da Stratus, a quantidade de aberturas de capital só tende a aumentar em 2021. “Hoje, a questão é mais ‘quando’ do que ‘se’ as empresas vão fazer IPO. Muitas estão contratando consultorias agora para ir à Bolsa em 2022 e 2023”, conta.

E existe investidor para tanto IPO assim? Gonçalves não tem a menor dúvida que sim. Basta considerar que o Brasil ainda tem R$ 1 trilhão parado em cadernetas de poupança, e mais R$ 2 bilhões que fundos de pensão alocaram em outros produtos de renda fixa. “O dinheiro está vazando pelas laterais do mercado. Tem mais comprador que IPO. Mas o investidor é seletivo e não vai comprar todos ao mesmo tempo.”

Juan Espinhel, especialista de investimentos da Ivest, pondera que nem todos os pedidos de registro de IPO que estão na fila vão efetivamente virar negócio. Muitos acabam morrendo na praia, como aconteceu em 2020 com o das lojas Havan.

“O cenário é favorável, mas, caso uma elevação da taxa de juros melhore as condições de investimentos em produtos de menor risco, prevejo uma desaceleração no ritmo dos IPOs”, ressalva.

Varejo e logística: cardápio cada vez mais diversificado

A chegada de mais empresas à fila dos IPOs faz com que alguns setores ganhem seus primeiros representantes na Bolsa e outros tenham uma presença mais diversificada. Com isso, o mercado amadurece e, com novas opções, o investidor ganha a chance de construir estratégias mais sofisticadas.

“Não faz tanto tempo assim que o setor de saúde não tinha nenhuma empresa listada. O varejo era só Raia Drogasil e Pão de Açúcar, não tinha nenhuma segmentação competitiva. Hoje, você consegue compor uma carteira de varejo com vários ângulos. Só de farmácias, há quatro ou cinco em regiões e com visões diferentes”, diz Gonçalves.

O setor de bancos é um exemplo emblemático: há cerca de 50 com capital aberto, cada um deles com um foco de atuação. “O BB é forte no agronegócio, o Santander tem um braço internacional, o ABC tem foco no crédito middle market [para empresas de médio porte]”, enumera o diretor da Stratus. “Então, o investidor pode segmentar a carteira, de acordo com sua expectativa sobre qual posicionamento vai ser melhor para aquele ano.”

A visão do especialista para 2021 é que esse processo de segmentação, que começou com a safra de IPOs de 2020, se aprofundará neste ano, especialmente nos setores de varejo e logística, em que ele cita vários nomes para o leitor acompanhar.

“São setores que começam a criar massa crítica. No varejo estão entrando o atacadista Assaí, os chilenos do Cencosud, há um mosaico completo. Em logística, antes você olhava conceitos muito frugais: uma transportadora por estradas e outra pelo mar. Agora temos uma de transporte terrestre de carga pesada (Julio Simões) e outra de entrega de compras online (Sequoia). Ambas usam caminhões, mas com estratégias completamente diferentes.”

Tecnologia e o novo mercado financeiro também reservam oportunidades

Além de varejo e logística, Gonçalves também aposta que tecnologiarenderá bons IPOs em 2021, com “grandes atores e grandes discussões”. Ele lembra que empresas do ramo que abriram capital em 2020, como Enjoei e Locaweb, fizeram grande sucesso e o preço de suas ações mais que dobrou após a oferta inicial.

“Veja o sucesso do IPO da Mobly [realizado em 5 de fevereiro deste ano], um vendedor de móveis, em um país com construção parada e pessoas desempregadas. Ao injetar dinheiro na Mobly, o que o mercado está comprando é a possibilidade de competição da loja de móveis online sobre a loja física”, afirma.

Ele também destaca o setor financeiro, “mas não o dos bancões e sim o novo, das gestoras independentes que já têm algum histórico no Brasil”.

“O BTG neste ano entrou com emissão muito melhor que a de anos anteriores. A BR Partners entrou na fila no ano passado, adiou o IPO e agora acho que ele sai. A Modalmais comprou a Eleven e a Vítreo comprou a Empiricus. Essas novas casas financeiras devem ir a mercado em algum momento e vale ficar de olho nelas”, avisa.

Espinhel, da Ivest, divide os IPOs que considera interessantes em duas categorias. No grupo das “oportunidades”, ele pensa em empresas de tecnologia que tenham ideias novas. “Estou olhando para Horizon e WZW, que trazem propostas diferentes e podem ser grandes empresas no futuro, com potencial de agregar valor”, define.

O outro grupo ele chama de empresas de “value”, com nomes já mais firmados e que possam trazer lucro real ao investidor que montar posições. “A Kalunga é enorme, uma empresa bastante consolidada. Já o Grupo BIG tem uma grande área de atuação, market share muito bom, é uma empresa redonda e que já gera valor atualmente”, diz.

Vale a pena correr para comprar as ações na oferta inicial?

A entrada de novas empresas na Bolsa provoca um entusiasmo natural no mercado, até porque ainda há um longo caminho a percorrer nesse sentido – o Brasil não tem nem 400 empresas listadas. Uma oferta inicial de ações bem-sucedida, em que a tese da empresa é abraçada pelos investidores e ela consegue vender rapidamente os papéis disponibilizados, provoca um aumento quase instantâneo de seu valor de mercado.

Isso gera em muitos investidores a crença de que comprar as ações no IPO é uma oportunidade imperdível. Afinal, na oferta inicial elas são oferecidas com descontos, em geral na casa dos 20%, e nos dias seguintes, com o sucesso da operação, o preço dispara. Mas a história não acontece sempre assim.

Algumas empresas boas caem depois do IPO, outras andam de lado e outras explodem de preço. O mercado brasileiro é muito volátil”, explica Gonçalves. “No caso da Locaweb, por exemplo, o preço das ações triplicou e depois a empresa deixou de ser boa compra, porque ficou cara demais.”

Ele diz que, nos setores com demanda mais forte, a regra geral se confirma: o IPO é uma boa oportunidade de comprar com desconto papéis que fatalmente irão se valorizar rápido. “Se você conhece bem a empresa e tem confiança no setor, então entre no IPO. Depois de dois ou três meses, a ação vai estar mais cara.”

Já em operações menores, de empresas que não estão bem vendidas, a história é diferente: um mês depois, a ação pode estar mais barata ainda. “Então, se você não conhece bem a empresa ou se tem dúvidas, espere um ou dois trimestres. Aguarde a divulgação de resultados, veja a reputação da empresa e como ela se comporta. Aí sim você pode comprar”, completa o diretor da Strauss.

O especialista da Ivest diz que os IPOs de empresas que não dão lucro no momento, mas têm boas ideias e visão de longo prazo positiva, podem ser boas oportunidades, sobretudo no ramo da tecnologia. “A Magazine Luiza entrou como varejista, mas tem uma visão de mercado diferenciada, quer se tornar também uma empresa de logística e marketplace. A Locaweb é outro exemplo, depois de um ano do IPO o preço das ações subiu 44%. Você olha o futuro dessas empresas e vê boas perspectivas.”

Já com as empresas que Espinhel considera como “value”, é preciso ter mais cautela. São papéis com volatilidade maior, e as oscilações bruscas de preço podem dificultar a vida dos investidores menos experientes.

“Às vezes, na euforia do IPO, o papel sobe 10%, muitos investidores o vendem na sequência e isso derruba a cotação, mesmo se for uma empresa redonda, com bom fundamento”, ele conta. “Se você pretende comprar para carregar [manter a ação no longo prazo], espere umas 2 ou 3 semanas, para se proteger dessa volatilidade mais alta. Você pode comprar por R$ 10 a mais ou a menos, mas tudo bem. Sua visão não é de curto prazo, você está comprando uma empresa perene, para ser sócio dela”, aconselha.

Ao investidor que não é cliente assíduo da Bolsa, o recado de Gonçalves é: devagar e sempre. “Quem compra ações deve olhar os próximos três anos, não os próximos três meses. Uma oscilada nos meses seguintes, seja para cima ou para baixo, não deveria mudar sua forma de pensar”, ensina. “Estabeleça critérios para si mesmo e siga-os, com disciplina. Aquele cara que compra e vende o tempo todo é um perdedor contumaz.”

O que o investidor precisa saber sobre a empresa antes de entrar no IPO?

Quem planeja a compra de um carro novo ou resolve ir morar em outro bairro certamente gasta um bom tempo pesquisando antes de tomar uma decisão. Entrar em um IPO também deveria ser assim. É preciso gastar tempo se informando sobre a empresa em que se está de olho.

“Não existe abertura de capital sem que haja a divulgação de um bom relatório independente de research, com 3 a 5 páginas, a respeito da empresa em questão. O investidor precisa se habituar a ler e fazer a lição de casa”, afirma Gonçalves. “Ele deve observar as recomendações dos analistas sobre o setor e a ação e, a partir daí, desenvolver um raciocínio próprio. Com isso, vai se sentir à vontade não só para comprar mais, mas também para vender as ações, quando entender que aquela empresa não está indo na direção correta do mercado. Não é como entrar em um cassino e fazer apostas.”

Uma das informações mais relevantes a se considerar – e que é sempre divulgada no prospecto da oferta inicial – é o que a empresa pretende fazer com o dinheiro captado.

Ela pode estar emitindo dívida para financiar o crescimento do negócio – comprando maquinário, por exemplo. Ou usar os recursos para cobrir dívidas e reestruturar o seu passivo. “No primeiro caso, ela vai ter lucro maior; no segundo, vai pagar menos juros. Os dois vão trazer resultados melhores para a empresa e atender aos interesses do acionista”, diz Gonçalves.

Mas há outros casos em que o voo da empresa pode ser temerário. Se uma empresa de laticínios resolve começar a trabalhar com carne, que é um setor novo para ela, pode ser que ela se dê bem, mas há um risco alto. O uso de capital fora da estratégia original do negócio precisa ser muito bem estudado.

A decisão de empregar o dinheiro captado para adquirir outras empresas tem como objetivo fazer a companhia crescer. Mas não é tão simples assim. “Crescer por aquisições não é um passeio no parque. Quem nunca fez aquisição pode se atrapalhar: pode comprar errado, precificar errado, integrar errado o que comprou”, explica o diretor da Stratus. “Por isso, quando uma empresa que já fez aquisições antes anuncia um IPO com essa finalidade, o preço dela sobe. Mas se nunca fez, a ação cai. O mercado já aposta que ela vai perder dinheiro.”