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Divulgação/Leticia Sepúlveda
Divulgação/Leticia Sepúlveda

No dia 8 de março é celebrado o Dia Internacional das Mulheres. Há muitas produções audiovisuais que retratam os vários desafios do cotidiano feminino. Neste sentido, o documentário "Sertanejas: a luta pela igualdade de gênero no sertão cearense", que foi filmado em abril de 2019,  retrata a vida de 13 mulheres que nasceram em Jaguaretama, cidade do sertão cearense, localizada a cerca de 250 km de Fortaleza. Além de sofrerem cotidianamente com o machismo e as duras estruturas da sociedade patriarcal, as personagens ainda precisam enfrentar a seca, condição que perdura por longo tempo na região.

A solidão da mulher sertaneja também é retratada pelo filme. Essa realidade envolve o sexismo, discriminação fundamentada por serem mulheres, o preconceito por conta de sua região de origem - quando migram para outros lugares do País - e o isolamento acerca do vasto ambiente rural do sertão nordestino, onde muitas vezes não têm a possibilidade de denunciar as violências que sofrem.

De acordo com dados evidenciados pelo Atlas da Violência 2019, mais de 2 mil mulheres foram mortas no Ceará entre 2007 e 2017. Os números colocam o território cearense na segunda posição entre os estados nordestinos que mais matam pessoas do gênero feminino. Foram 2.371 homicídios do tipo em 11 anos.

O documentário apresenta mulheres de várias idades, desde Vitória Bezerra, de 18 anos, à Maria Raquel Pinheiro, de 94. Elas protagonizam a luta por um lugar na sociedade e são grandes exemplos de que o sexo feminino não condiz com o sexo frágil.

Personagens 

Rita Pinheiro é de uma família de sete irmãs, que nasceram e foram criadas em um sítio da região rural de Jaguaretama. Ela é agente de saúde, acompanha partos na região e relata ter conhecimento de situações de violência doméstica. Atualmente, Rita atua na linha de frente no combate ao coronavírus na cidade. 

Antonia da Silva e Suzana Rodrigues representam as mulheres que durante anos trabalharam na roça, em meio à seca, além de serem responsáveis por afazeres domésticos. "Era difícil o trabalho da roça porque às vezes faltava chuva. (...) Chegava o tempo do milho segurar e faltava chuva, então tudo dependia disso", conta Antonia. 

"O homem cuida mais ruim da casa. Não, dos filhos ele [meu marido] não me ajudava a cuidar, não. Era só eu mesmo", afirma Suzana Rodrigues, ao revelar que foi mãe solo de suas duas filhas. 

A seca é retratada pelo filme a partir das palavras de Maria Raquel Pinheiro, que hoje aos 96 anos acompanhou por toda a vida esta realidade difícil da região. "Em 1958, tínhamos uma criação boa de gado e vacas leiteiras, mas morriam no terreiro berrando para comer, isso eu nunca esqueci... Eles berravam quando viam a gente, pensando que íamos levar comida, mas não tínhamos de onde tirar". Hoje, Maria Raquel está em isolamento no seu sítio, na zona rural de Jaguaretama, e aguarda pela segunda dose da vacina contra o coronavírus. 

Conceição de Oliveira também se lembra do período que se estendeu pelo ano de 1959: "foi quando passamos mais necessidade, passamos quase fome, a gente só não passava fome porque um e outro ajudavam." 

Maísa Pinheiro, Ivone Bezerra, Vitória Bezerra, Solange Pinheiro e Gorete Sepúlveda representam as mulheres que migraram do sertão para grandes cidades em busca de oportunidades de estudo e emprego. Gorete migrou para São Paulo, enquanto Solange, Maísa, Ivone e Vitória foram morar em Fortaleza. 

Atualmente, Vitória é técnica em enfermagem e trabalha em um hospital da capital cearense, na linha de frente no combate à Covid-19. 

Judith Chaves é professora do ensino médio da rede pública de Jaguaretama. Concluiu seus estudos em Fortaleza, mas depois voltou a morar no sertão. Ela atua no documentário como fonte de dados sobre violência doméstica, educação e saúde na região.

As dificuldades relacionadas à falta de assistência médica, principalmente em partos domésticos, são relatadas por Beonides Bezerra, que perdeu a mãe ainda crianaça, devido à complicações no trabalho de parto. "Minha mãe teve quatro filhos, na gravidez do quinto filho, a criança estava deitada [no seu útero]. (...) Meu pai se desesperou e foi para Jaguaribe chamar um médico, mas antes de eles chegarem, ela morreu."

Conceição de Oliveira e sua filha, Maria do Socorro de Oliveira, contam durante o documentário a história de sua mãe e avó, Maria Tereza de Oliveira, conhecida por todos na região como "Maria Viúva",  sertaneja que perdeu o marido aos 25 anos, com seus quatro filhos. Mãe solo, ela fazia e vendia objetos de barro para poder sustentar a família. 

O filme também mostra o Museu Maria Viúva, criado por Maria do Socorro, em homenagem à sua avó, com a exposição de objetos antigos e das peças de barro. O local recebe muitos visitantes da região, mas atualmente está fechado por conta da pandemia.

Assista ao documentário "Sertanejas: a luta pela igualdade de gênero no sertão cearense":