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Arquivo Pessoal/Leonardo Demiéssi
Arquivo Pessoal/Leonardo Demiéssi

Diante do aumento nos números de casos e mortes por Covid-19 no Brasil, um grupo de jovens organizou uma ação para ajudar a população a se proteger: distribuir gratuitamente respiradores padrão PFF2.

Ao lado do amigo Wagner Lanzelotti, o designer Leonardo Demiéssi saiu pelas ruas de Nilópolis (RJ) munido de kits com dois respiradores e um panfleto informativo, elaborado com ajuda de outra amiga, Nathália Cristina Ribeiro, farmacêutica e mestranda em Política e Gestão de Serviços de Saúde.

Além de entregar os equipamentos, o projeto procura estabelecer um diálogo e informar sobre as maneiras mais eficazes de proteção contra o coronavírus. "Trabalho como designer dentro do sistema de saúde, então aproveitei meus conhecimentos, essa ideia de me comunicar com as pessoas e entender as necessidades delas. A partir daí veio essa ideia de fazer não só a distribuição das máscaras, mas também de trazer uma comunicação que usasse uma linguagem mais próxima do que as pessoas das periferias usam, para poder fazer essa comunicação mais efetiva", conta Leonardo.

Mais eficientes do que máscaras cirúrgicas ou de pano na proteção individual contra a Covid-19, os respiradores padrão PFF2 (ou N95) ganharam espaço na mídia e nas redes sociais em meio à pior fase da pandemia no Brasil. Mesmo assim, dúvidas sobre a eficácia, possibilidade de reuso e cuidados com o equipamento são comuns. 

"Não é só pegar uma máscara e dar para a pessoa, é explicar porque é importante, explicar numa linguagem acessível, falar a linguagem que a pessoa fala. Eu estou aqui dando uma entrevista sobre partículas aerossóis, proteção mecânica eletrostática. Essa língua a periferia não fala. Então, acho que é sobre dar acessos, mas não só o suporte da máscara em si, é um suporte da máscara e da informação", diz Nathália. 

Embora apenas um par de máscaras não seja suficiente para alguém que sai de casa diariamente - os respiradores podem ser reutilizados, mas precisam "descansar" por alguns dias -, os idealizadores afirmam que a ideia principal era apresentar as máscaras ao maior número possível de pessoas e esclarecer dúvidas. "Fiquei pensando muito na adesão. A PFF2 e/ou N95 não está sendo utilizada em larga escala, então a gente ficou construindo isso juntos, como seria essa adesão da população? Por exemplo, uma mulher negra que usa cabelo cacheado, a máscara tem que ser bem apertada; ela vai aderir? Ou um homem periférico? A gente sabe que tem vários desafios de adesão. Então, a gente decidiu distribuir em menos números, em pares, por causa desses motivos", continua a especialista. 

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Leonardo conta que a experiência de entrega dos equipamentos foi positiva: "Nossa ideia era estar em pontos de bastante fluxo, pontos de ônibus ou na frente da estação do trem, por exemplo. [...] A recepção foi bem boa. Algumas pessoas estavam um pouquinho assustadas, achando que a gente estava querendo vender as máscaras, mas explicamos que era uma ação para distribuir e conversar". 

"Fazer o bem causa estranheza. No Brasil a gente está tão calejado, nós estamos tão acostumados a ser deixados, principalmente pelas políticas públicas, que se alguém te dá uma máscara você diz 'mas o que é isso?'. É estranho", completa Nathália.

Embora a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Anvisa não recomendem oficialmente o uso dos respiradores fora do ambiente hospitalar, os idealizadores do projeto defendem que a PFF2 é necessária para proteger a população mais vulnerável ao vírus. "Ela protege contra partículas chamadas aerossóis, são as partículas menores que a gente reproduz quando está falando. A partir do momento em que as pessoas têm que sair para trabalhar, elas têm que se aglomerar em transportes públicos, a gente tem que repensar como isso está sendo feito", afirma Nathália. 

Iniciativa

Segundo Leonardo, a ideia surgiu depois de uma temporada de estudos como bolsista no Reino Unido antes da pandemia. Ele conta que o "choque de realidade" com a situação do Brasil e um sentimento de impotência diante da gestão da Covid-19 estão entre suas motivações: "Eu pensei: 'preciso fazer alguma coisa por mim e pelos meus, agir de alguma forma'. Tem coisas que com certeza não dá para fazer; tenho plena consciência de que a gente só vai vencer a pandemia com coordenação, uma coordenação central, com vacinação, com auxílio emergencial para poder dar suporte às pessoas com maior vulnerabilidade, mas eu não posso comprar vacina, eu não posso impor medidas de distanciamento".

"Enquanto a gente não pensar no coletivo não vai haver individual. Não estou falando só do Brasil e do Rio de Janeiro, estou falando do mundo. Os Estados Unidos podem fazer maravilhosamente [a gestão da pandemia], a Europa também, mas o Brasil está incubando vírus do pior jeito, tendo uma péssima gestão de pandemia num país com mais de 200 milhões de habitantes. É uma lição", completa Nathália.

Políticas públicas

Para os jovens, ações desse tipo precisam ser tomadas pelo poder público, para distribuição de equipamentos de proteção em larga escala. "A intenção é cobrar dos governantes e das pessoas que fazem as políticas acontecerem, a implementar esse tipo de máscara devido ao aumento da gravidade viral no Brasil. Por exemplo, em alguns países você não entra em lugares fechados com máscara de pano, justamente para conter o tipo de proliferação do vírus. No Brasil, que tem uma das piores gestões da pandemia, esse risco é ainda maior", diz Nathália. 

Questionado nesta terça (20) pela TV Cultura sobre a possibilidade de distribuição das máscaras PFF2, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), citou falta de recursos. "Temos 46 milhões de pessoas, correspondendo a pelo menos uma máscara por dia. Ela não é necessariamente lavável e reaproveitável, ela é descartável. [...] É impossível que um governo forneça máscaras nessas circunstâncias, ainda que pela necessidade, dada a pandemia, não há recurso suficiente para esse atendimento. As pessoas devem ter a consciência do uso da máscara e devem ser orientadas sobre qual o melhor tipo de máscara", afirmou, em coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirantes.

José Medina, membro do Centro de Contingência da Covid-19 de São Paulo, completou: "A qualidade da máscara tem que ser em função do risco que você está sendo exposto. Então, a máscara N95 é destinada a situações de alto risco dentro dos hospitais".