Fundação Padre Anchieta

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Ser empreendedor não é fácil. Mas existem dificuldades adicionais se a pessoa que empreende for negra. É o que mostra uma pesquisa do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) em parceria com a FGV (Fundação Getulio Vargas), feita entre 27 de maio e 1º de junho deste ano, com 7.820 respondentes de todos os Estados.

O levantamento mostrou que a maioria dos empresários negros recebe um não como resposta quando pedem empréstimos em bancos. De cada 100, 56 saem de mãos abanando. Entre os brancos, o número cai para 43, conforme a 11ª edição da Pesquisa de Impacto da Pandemia do Coronavírus nas Micro e Pequenas Empresas.

“Alguns algoritmos levam em conta o número do código postal do cliente na avaliação de crédito. Ou seja, se o CEP for de periferia, as chances são menores”, diz a empresária Adriana Barbosa, dona e fundadora da Feira Preta e do PretaHub, um núcleo de empreendedorismo negro e de criatividade.

Mas a situação tende a mudar, de acordo com o banqueiro Sérgio All. Ele mesmo, que era proprietário de uma agência de publicidade com mais de 30 funcionários, disse que teve um empréstimo negado exatamente por ser negro. O gerente admitiu isso, segundo ele.

“Acredito que a digitalização dos bancos pode, sim, ajudar nisso”, afirma ele, que, motivado pela revolta da recusa, montou, em 2017, o Conta Black, um banco digital voltado para a comunidade preta, mas aberto a todos. Com 18 mil clientes, ele se prepara para lançar uma linha de microcrédito para pequenos empresários, especialmente negros.

“Um algoritmo que analisa o comportamento financeiro da pessoa que usa a Conta Black vai definir se ela é apta ou não a receber o empréstimo, independentemente de cor ou local de moradia. E como o aplicativo do Conta Black tem uma vertente de educação financeira, dando discas para os clientes, isso vai ajudar a diminuir a inadimplência”, explica ele.

All e Barbosa batem forte na tecla da educação financeira não só como ferramenta para análise de crédito. Ela ajuda também na gestão do negócio do empreendedor. É a isso que se dedica, por exemplo, o PretaHub. Esse apoio ao empreendedor negro é fundamental: a pesquisa do Sebrae detectou também que as perdas de faturamento são maiores entre os pretos. Entre esse grupo, 81% alegam ter tido queda no faturamento durante a pandemia. Já entre os brancos, essa proporção ainda é alta, mas cai para 77%. Ambos os grupos dizem que as vendas caíram em torno de 50%.

“Os empreendedores negros têm menor escolaridade, menos tempo no empreendedorismo, atuam em atividades que não exigem muita qualificação e preparo e 70% são microempreendedores individuais – o que acaba afetando mais fortemente o desempenho desses pequenos negócios”, observa o presidente do Sebrae, Carlos Melles.

Adriana Barbosa, porém, discorda. “Antigamente, a escolaridade era realmente um fator. Mas agora, não acredito mais nisso. Acabamos de concluir uma mentoria de um ano com 500 mulheres negras e indígenas empreendedoras e 80% delas tinham curso superior”, afirma Adriana.

Para ela, os negros também não estão há menos tempo no empreendedorismo. “Os negros estão se virando e empreendendo desde 1888, quando houve a abolição da escravatura e não tinha – ou negaram – empregos para eles.”

Mas ninguém duvida que a rotina de empreendedor é mais dura para essa população. Enquanto 43% dos negros que são donos de pequenos negócios estão com dívidas e empréstimos atrasados, entre os brancos esse percentual cai para 32%. “Essa pode ser uma das justificativas para uma maior recusa de crédito para esse público”, pontua o presidente do Sebrae.

Mágoa

O casal Silmara de Almeida e Edson Rodrigues, de São Paulo, são donos da fábrica de sorvetes Sabor da Cor, especializada em frutos do Norte e cerrado. “Quantas vezes eu vi uma pessoa entrar na sorveteria, olhar para gente e sair em seguida”, conta Rodrigues.

Os dois contam que quando abriram a fábrica, a Vigilância Sanitária fez cinco vistorias seguidas no estabelecimento. “Comentei com outros empreendedores de alimentos, brancos, e nenhum deles disse que isso aconteceu com eles. Achei muito estranho”, conta Rodrigues.

Silmara disse que já chorou muito e já guardou muita mágoa desses episódios. “Hoje vejo que a comunidade preta está se unindo mais e isso ajuda, dá forças.” Na pandemia, o casal recorreu a empréstimos e mesmo com garantias e o balancete da empresa positivo nas mãos, também não conseguiu financiamento. Mas só de poder contar essas experiências, os dois sentem que há esperança de que algo mude para melhor.