Fundação Padre Anchieta

Custeada por dotações orçamentárias legalmente estabelecidas e recursos próprios obtidos junto à iniciativa privada, a Fundação Padre Anchieta mantém uma emissora de televisão de sinal aberto, a TV Cultura; uma emissora de TV a cabo por assinatura, a TV Rá-Tim-Bum; e duas emissoras de rádio: a Cultura AM e a Cultura FM.

CENTRO PAULISTA DE RÁDIO E TV EDUCATIVAS

Rua Cenno Sbrighi, 378 - Caixa Postal 66.028 CEP 05036-900
São Paulo/SP - Tel: (11) 2182.3000

Televisão

Rádio

Nadja Kouchi
Nadja Kouchi Sérgio Moro no Roda Viva

Nesta segunda-feira (26/3), o juiz Sérgio Moro foi ao centro do Roda Viva, em sua primeira entrevista ao vivo concedida a uma emissora de televisão, e respondeu a questões relacionadas a Lava Jato e ao Judiciário brasileiro. O programa foi transmitido pela TV Cultura, pelo canal oficial do programa no YouTube e pelo Facebook. A edição especial também teve cobertura em tempo real pelo Twitter, chegando ao primeiro lugar no Trending Topics Mundial e Brasil na rede.

Na bancada de entrevistadores, participaram João Caminoto, diretor de jornalismo do Grupo Estado; Sérgio Dávila, editor-executivo do jornal Folha de S.Paulo; Daniela Pinheiro, diretora de redação da revista Época; Ricardo Setti, jornalista e escritor; e Fernando Mitre, diretor de jornalismo da Rede Bandeirantes.

Sob manifestações favoráveis e contrárias a sua atuação, realizadas nos arredores da Fundação Padre Anchieta, o juiz federal adentrou a emissora por volta das 21h. Durante o programa, Sérgio Moro respondeu às principais questões em torno do que é considerado o maior processo contra corrupção da história do País. Logo de início, falou sobre as dificuldades em investigar e julgar um processo criminal. “Para você condenar alguém, precisa ter uma prova categórica, clara como a luz do dia, acima de qualquer dúvida razoável”, afirmou o juiz. Moro também aproveitou para criticar a lentidão do sistema brasileiro, que gera os chamados “processos sem fim”.

Temas polêmicos também entraram em discussão. Quando questionado sobre o auxílio-moradia dos juízes, Moro optou por não falar pela categoria: “eu não me sinto autorizado a ser uma voz para falar de direitos corporativos dos magistrados”. Ainda assim, emitiu sua opinião: "existe esse benefício, que é questionável, mas existe também uma situação que deveria ser abordada pela imprensa, o fato de que há a previsão constitucional de que os subsídios dos magistrados deveriam ser ajustados anualmente. E isso não acontece há três anos".

Ele comentou ainda sobre o foro privilegiado, que, a seu ver, é um recurso que não funciona muito bem atualmente, transformando o Supremo Tribunal Federal em uma espécie de vara de primeira instância. A respeito de seu direito ao benefício enquanto magistrado, disse: "eu acho absolutamente dispensável. Não quero isso, acho uma bobagem". E reforçou: "em uma democracia, temos que eliminar ou reduzir bastante o foro privilegiado".

Moro também se mostrou cético sobre a possibilidade de um "acordão". "Como juiz, não posso acreditar em uma hipótese dessa. Todas as instituições, e eu não digo só o Supremo, mas todas elas, devem mostrar uma firmeza, porque o que os casos já julgados na operação Lava Jato revelam é que havia um quadro de corrupção muito grave, a dita corrupção sistêmica. Isso é algo que joga o nosso País para trás, afeta a produtividade da economia, a qualidade da nossa democracia e o que é pior, a meu ver, afeta a fé que as pessoas têm no regime democrático".

Por diversas vezes ao longo da entrevista, Moro reforçou o peso da impunidade no cenário de corrupção generalizada no Brasil e no mundo. Segundo ele, "se você está envolvido em um crime e se vê dentro de um sistema em que a perspectiva de punição é praticamente nula, o que é o caso quando você tem processos sem fim, certamente você não terá nenhum criminoso disposto a colaborar".

Ao responder sobre o vazamento de áudios, como o da então presidente da República, Dilma Rousseff, ocorrido em 2016, o juiz foi enfático: “a minha posição perante o Supremo Tribunal Federal foi de pedir escusas pela controvérsia gerada. Mas eu jamais pedi escusas a respeito da divulgação daqueles áudios”.

Até mesmo o entretenimento entrou na pauta do programa. Recentemente, Moro foi retratado no filme 'Polícia Federal – A lei é para todos' e também na série da Netflix 'O Mecanismo'. O juiz demonstrou constrangimento ao falar do assunto, mas foi simpático à ideia da operação Lava Jato ser retratada no ambiente ficcional. Também comentou a repercussão do combate à corrupção associado às suas ações: "houve uma certa identificação, a meu ver não necessariamente correta, desses trabalhos com a minha pessoa". Já referente à fama momentânea, afirmou: "hoje você é incensado, adiante você pode sofrer um apedrejamento moral".

O juiz federal respondeu sobre a polêmica envolvendo o advogado da Odebrecht, Rodrigo Tacla Durán, que se exilou na Espanha após ser investigado na Lava Jato. Durán teria comentado que os juízes e promotores da investigação deveriam ser afastados do caso, pois existira um problema envolvendo tráfico de influência. Moro foi taxativo, respondendo que “é uma fantasia, não existe nenhuma prova, nenhuma base empírica em relação ao que ele fala”.

O principal nome da Lava Jato finalizou sua entrevista trazendo um ponto de vista que difere do senso comum: "não é algo inerente no brasileiro ser corrupto ou ter um desapreço à lei. O brasileiro quer um país mais honesto, mais íntegro. Eles querem um país em que você tenha um governo de leis e não um governo de interesses especiais. Eu simplesmente não acredito que isso possa ser uma espécie de destino manifesto dos brasileiros ou dos nossos vizinhos e irmãos da América Latina. O que é preciso é vontade política e construção de instituições que diminuam a corrupção. E isso é factível".