O diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Luiz Fernando Corrêa, e o ex-diretor-adjunto Alessandro Moretti prestam depoimento na tarde desta quinta-feira (17) à Polícia Federal (PF), em Brasília, no inquérito que apura o esquema de espionagem ilegal conhecido como "Abin Paralela" durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
As oitivas ocorrem de forma simultânea, mas separadamente, para evitar qualquer influência mútua nas declarações.
A PF já decidiu indiciar Corrêa e Moretti por suspeita de obstrução das investigações e envolvimento em práticas de espionagem fora dos limites legais. A decisão é baseada em provas documentais, técnicas e nos relatos de dezenas de testemunhas. O cenário só poderia ser revertido caso as defesas apresentem elementos irrefutáveis durante os depoimentos, o que é considerado improvável pelos investigadores.
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O foco inicial da apuração era o ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem (PL-RJ), ligado ao ex-presidente Bolsonaro. Com o avanço das investigações, surgiram suspeitas de que integrantes indicados na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como Corrêa e Moretti, teriam tentado dificultar o trabalho da PF, inclusive com o envio de informações incompletas, formatação irregular de computadores e pressão interna para desmobilizar apurações.
Entre os fatos mais graves está a revelação de que a Abin teria realizado uma operação de espionagem contra autoridades do Paraguai em meio às negociações sobre a Usina Hidrelétrica de Itaipu. Um agente da agência relatou que a ação, iniciada ainda sob Bolsonaro, teria continuado no governo Lula, com aval de Corrêa. A suspeita de interferência nas investigações foi reforçada após uma reunião, em março de 2023, em que Moretti teria minimizado a gravidade dos fatos, afirmando que a apuração "iria passar" por ter "fundo político".
A investigação da chamada "Abin Paralela" começou em março de 2023, já no governo Lula, para apurar o uso do software espião FirstMile para monitorar adversários e jornalistas. Durante a operação Última Milha, a PF encontrou, na casa de um ex-integrante da Abin, US$ 171 mil em espécie, agravando as suspeitas de irregularidades.
A Intelis, associação que representa os servidores da agência, divulgou nota criticando a atuação da PF e acusando o órgão de ampliar indevidamente o escopo da investigação para fins políticos, além de denunciar vazamento de informações sigilosas ao Ministério Público Federal (MPF).
Corrêa afirmou, em nota, estar à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos sobre os fatos relatados na imprensa, que remontam a decisões tomadas em gestões anteriores da agência. Procurados, Abin, PF e Moretti não se manifestaram sobre o caso.
O relatório final deve ser concluído até o fim deste mês e, posteriormente, encaminhado à Procuradoria-Geral da República (PGR), que decidirá se apresenta denúncia à Justiça, pede novas diligências ou arquiva a investigação.
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