Estudo inédito encontra microplásticos em placentas e cordões umbilicais no Brasil
Pesquisa pioneira em Maceió detecta partículas em 100% das amostras analisadas
25/07/2025 13h00
Uma pesquisa conduzida por cientistas da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) identificou microplásticos em todas as amostras de placentas e cordões umbilicais analisadas em um grupo de gestantes de Maceió (AL).
Este é o primeiro estudo do tipo na América Latina e o segundo no mundo a comprovar a presença dessas partículas em cordões umbilicais. Os resultados foram publicados nesta sexta-feira (25) na revista Anais da Academia Brasileira de Ciências.
A equipe analisou tecidos de dez mulheres atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nos hospitais Universitário Professor Alberto Antunes e da Mulher Dra. Nise da Silveira, entre junho e outubro de 2023. As amostras foram submetidas a uma técnica chamada espectroscopia Micro-Raman, capaz de identificar a composição química das partículas com alta precisão.
Ao todo, foram encontradas 229 micropartículas: 110 nas placentas e 119 nos cordões umbilicais. O polietileno, comum em embalagens plásticas descartáveis, e a poliamida, presente em tecidos sintéticos, foram os materiais mais detectados.
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Segundo o professor Alexandre Urban Borbely, coordenador da pesquisa, o dado mais preocupante foi a maior concentração de partículas no cordão umbilical em 8 das 10 pacientes, o que indica que os microplásticos conseguem atravessar a barreira placentária e alcançar o feto ainda durante a gestação.
“Toda essa geração que está vindo já nasce exposta a esses plásticos dentro do útero. E o plástico está compondo de alguma maneira o organismo desses indivíduos desde a formação”, alerta Borbely, que lidera o Grupo de Pesquisa em Saúde da Mulher e da Gestação na UFAL.
Essa é a continuidade de uma linha de estudos iniciada em 2021, quando o mesmo grupo, em parceria com pesquisadores da Universidade do Havaí, detectou microplásticos em placentas de mulheres havaianas. Os dados mostraram crescimento contínuo da contaminação ao longo dos anos: 60% das amostras colhidas em 2006 estavam contaminadas, contra 100% em 2021.
Em Maceió, a escolha por pacientes com perfil socioeconômico mais vulnerável buscou retratar a realidade brasileira, em contraste com a maioria dos estudos internacionais, realizados em países desenvolvidos. Embora todas as amostras brasileiras estivessem contaminadas, apresentaram menos aditivos químicos do que as norte-americanas.
Ainda não é possível determinar exatamente as consequências da presença dessas partículas no organismo fetal, mas há fortes indícios de que elas podem afetar o desenvolvimento do bebê. Em estudos com tecidos humanos, os pesquisadores já observaram que plásticos como o poliestireno podem atravessar a placenta com facilidade, interferindo no metabolismo celular e na produção de radicais livres, compostos associados a danos celulares.
A principal hipótese sobre a origem da contaminação envolve a poluição marinha, já que a população local consome regularmente frutos do mar, incluindo moluscos filtradores. A ingestão de água mineral envasada também é apontada como fonte relevante, especialmente quando os galões ficam expostos ao sol.
O próximo passo do projeto é ampliar a amostragem para 100 gestantes e investigar possíveis relações entre a presença de microplásticos e complicações na gestação ou no nascimento. Para isso, está sendo criado o Centro de Excelência em Pesquisa de Microplástico, com financiamento da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Os resultados dessa nova etapa devem ser publicados em 2027.
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