O Café Filosófico CPFL, exibido pela TV Cultura, discutiu em recente episódio o tema “O fenômeno do comer transtornado”, com a participação da psicanalista Camila Junqueira, doutora e pós-doutora pelo Instituto de Psicologia da USP.
Na edição, a especialista analisou como a cultura contemporânea tem transformado a relação com a comida em um campo de ansiedade, culpa e sofrimento.
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O comer transtornado, explicou Junqueira, é uma condição marcada pela preocupação excessiva com o corpo e a alimentação, capaz de gerar sofrimento emocional, ainda que não se enquadre nos diagnósticos clássicos de transtornos alimentares, como anorexia ou bulimia. “O que eu trago aqui é um alerta, mas talvez eu só esteja tirando o véu de uma situação que já existe”, afirmou.
Pesquisas indicam que cerca de 40% das mulheres entre 15 e 25 anos apresentam algum grau de comer transtornado, fenômeno que costuma se agravar com o avanço da idade e está frequentemente associado à ansiedade e à depressão. Para a psicanalista, o enfraquecimento das tradições alimentares e o excesso de discursos sobre “comida de verdade” criam um ambiente de cobrança constante, no qual o ato de comer se torna uma fonte de angústia.
A expansão das redes sociais também tem papel central nesse processo. Segundo a psicanalista, a intensificação do uso de smartphones coincidiu com o aumento dos casos de transtornos alimentares. “Quase metade dos adolescentes entre 13 e 17 anos afirmam se sentir pior em relação à imagem corporal devido às mídias sociais”, destacou.
Camila ainda relaciona o problema à pressão estética e à crença de que existe um modo correto de se alimentar, fruto de um discurso que reduz os alimentos a macronutrientes e transforma o corpo em projeto pessoal. Para ela, o ideal contemporâneo de “corpo produtivo” reflete um sujeito fragilizado, que busca, por meio da aparência, compensar a perda de referências coletivas. “Quando as instituições são fracas, elas não ajudam na constituição do eu. Então, a gente tem um eu flácido”, completou.
Ao final, a especialista reforçou o papel da escuta e da reflexão como formas de resistência às imposições culturais. Para ela, compreender o que é próprio e o que é imposto socialmente é o primeiro passo para uma relação mais saudável com o corpo e com o ato de comer.
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