Fundação Padre Anchieta

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Reprodução/Instagram
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O Metrópolis está no ar na TV Cultura há 32 anos. A partir desta segunda-feira (6), o programa estreia nova temporada completamente reformulado, mas ainda mantendo sua essência.

A atração passa por uma reformulação editorial, a fim de democratizar ainda mais o seu conteúdo e conquistar um público maior, levando arte e cultura de forma mais simples e acessível.

Dirigido por Marcos Maciel, com novo cenário, linguagem e identidade moderna e pautas interligadas com os meios digitais, o novo Metrópolis aproxima ainda mais o real do virtual.

A mudança foi um grande presente para Oroclides Gonçalves de Cunha Júnior, o apresentador Cunha Jr., que completa 30 anos no programa.

Nascido no Rio Grande do Sul e formado em medicina, com especialidade em psiquiatria, Cunha éreferência no mundo das artes. Ele fala sobre a repaginada da atração, expectativa da nova fase e relembra momentos marcantes de sua carreira.

Confira entrevista com o apresentador:

Impossível falar sobre o Metrópolis sem falar da sua trajetória. O que você está achando sobre programa repaginado?

Cunha: Eu entrei no Metrópolis quando tudo ainda era mato ainda (risos). Ao longo desses 30 anos fomos construindo essa atração que sempre teve a alma jovem, antenada, mas que, como tudo, precisa renovar. E hoje, por causa dessa mudança trazida pela pandemia, a gente teve de aprender a fazer televisão a distância. Apesar de ser uma fase muito triste para o mundo, foi uma oportunidade pra gente criar novas coisas.

A ideia é conquistar um público mais jovem. Como isso vai acontecer?

Cunha: Sim, vamos atingir um público que não vê só a televisão, mas que está muito ligado às redes sociais, que consome arte de um jeito diferente. Teremos uma linguagem moderna e pautas que estarão interligadas e lincadas com o meio digital. Cada programa terá uma hashtag com o tema do dia e um assunto vai puxar o outro.

E a exibição fica diferente também a partir da próxima segunda, dia 6?

Cunha: De segunda a quinta-feira, faremos edições de 5 minutos, e às sextas de 30 minutos, sempre às 19h40. Na edição maior teremos alguns momentos no nosso estúdio, que também foi reformulado. E, para quem perdeu o programa durante a semana, aos domingos apresentaremos um compilado das melhores matérias. A versão mais curta vai trazer essa turma mais jovem. E a mais longa vai continuar agradando o público fiel.

Dá alguma pista pra gente sobre algum quadro, uma matéria bacana para a reestreia.

Cunha: Um dos programas que criamos, o “Cinema novo”, vai falar das novas formas de fazer cinema. Como os longas vão se adaptar diante do distanciamento, como acontecem agora as filmagens, as exibições. Para mostrar isso eu praticamente criei um estúdio aqui em casa.

Como tem sido essa adaptação de fazer televisão a distância?

Cunha: Faço tudo daqui. Cada canto da minha casa virou estúdio e lugar de criação. Entrevistas incríveis, tudo remoto. Para esse programa do cinema que contei, me inspirei no Glauber Rocha de 1979 e consegui projetar imagens de filmes na minha roupa branca. Ficou legal demais.

Você se reinventando mais uma vez, não é?

Cunha: Sim, esse sou eu. Gosto de mudança. Estou há 30 anos no Metrópolis, e desde a minha entrada a ideia foi criar bastante e desestruturar as matérias, sair do padrão. Se me desafiei quando entrei na TV tenho que continuar. Não posso colocar o chinelinho e o pijama. Ainda tenho muita vontade de inovar.

Olhando para a sua história de vida, você sempre teve coragem de mudar mesmo, de arriscar. Como foi a transição da medicina para a televisão?

Cunha: Eu estava na faculdade de medicina e, como sempre gostei de festa, de escrever sobre arte, fui chamado para fazer um programa de rádio no Rio Grande do Sul. Mas isso ainda era diversão. Exerci a medicina por três anos, na psiquiatria. Conheci nessa época a Bibi Ferreira, e quando ela soube que eu gostava das artes, me chamou para fazer teatro. Aí foi a porta de entrada e me apaixonei. Em 1990 fui chamado para compor a equipe do Metrópolis, um programa de que já era fã.

Conta para esse público mais jovem como era o Metrópolis do final dos anos 1980?

Cunha: Era um clima maravilhoso de festa, como se você chegasse num bar descolado, porque nesse tempo os convidados vinham para conversar e tomar drinks. Imagina como era isso, um clássico dos anos 80. Eu ainda não fazia parte, mas era fã. Os artistas saíam de suas peças e shows e vinham direto para a TV. Nessa época o programa entrava no ar bem mais tarde.

Nesses 30 anos, quais foram as entrevistas mais marcantes?

Cunha: Já entrevistei tanta gente que admiro... mas vou citar três importantes. O diretor de teatro Antunes Filho (falecido em 2019), logo que entrei no programa. Morria de medo dele, porque ele era ranzinza e, se percebia fragilidade no repórter, esculhambava. Maria Bethânia, que sempre foi avessa a entrevistas, falou comigo quando comemoramos 25 anos de programa. E o famoso diretor americano Quentin Tarantino. Nossa primeira conversa foi em 1992, quando ele não era conhecido do público. Batemos o maior papo sentados numa escada de cinema. Mais de 20 anos depois, nos reencontramos quando ele veio ao Brasil lançar o filme “Os Oito Odiados”, em 2015.

Nessa sua vasta lista de entrevistas, falta algum artista?

Cunha: Os Rolling Stones! Quase consegui falar com eles uma vez, em 1995, mas quando dei de cara com o grupo saindo de carro de um hotel, em São Paulo, o Mick Jagger brincou de me filmar com uma câmera, mas não parou para conversar. Quem sabe ainda consigo! Podemos começar uma campanha #MickJaggerFalacomoMetropolis.

Olhando lá pra frente, com o que você sonha?

Cunha: Sou realizado, porque falo de arte no Metrópolis e uso isso para melhorar a vida das pessoas. Mas quem sabe um dia ainda volto às minhas origens da psiquiatria e abro meu consultório para atender como psicanalista. Isso só Freud explica... (risos).