Fundação Padre Anchieta

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Rádio

Foram três horas numa videochamada com a cabeleireira carioca Julia Navalha. Ela em casa, de moletom, guiando a cliente, a figurinista Bruna Falcão – que do outro lado da linha, usava uma tesoura de costura para cortar seu próprio cabelo.

“Fiquei encantada com o resultado. Parece loucura, mas eu não aguentava mais o meu cabelo e o resultado foi muito bom. A Julia é uma artista”, diz Bruna.

Achou doideira? Mas dirigir clientes para que cortem seus próprios cabelos foi a maneira que alguns cabeleireiros encontraram para respeitar a quarentena e, ainda assim, exercer sua profissão.

“Fiquei 100% sem renda quando a quarentena começou”, explica Julia. Assim como ela, milhares de cabeleireiros em todo o país foram afetados. Muitos abriram seus salões burlando a quarentena.

“Mas eu não poderia fazer isso. Não acho justo. E além do mais, sou grupo de risco porque sou imunossuprimido”, diz o cabeleireiro Alan de Abreu, de Florianópolis, que também começou a atender clientes por videoconferência em maio.

Já a cabeleireira Camila Nacek, que partiu para cortar cabelos online em abril, teve autorização para abrir novamente seu salão, em Belo Horizonte, no final de maio. Mas preferiu continuar com os cortes via internet.

“Só reabro quando o Atila deixar”, brinca ela, referindo-se ao biólogo e influenciador Atila Iamarino. E foi uma decisão prudente, já que o comércio, na capital mineira, teve que voltar a fechar, uma vez que os números de contaminação por coronavírus subiram após a flexibilização na cidade.

Em São Paulo, os salões e barbearias da capital voltam a abrir nesta segunda-feira. Mesmo assim, muita gente deve continuar com medo de de sair de casa para dar um jeito na juba. Os números do isolamento social, por exemplo, mostram que isso vem acontecendo desde o início da reabertura: mesmo com lojas abertas, entre 46% e 48% da população continua em quarentena.

Nesse caso, o corte online pode ser uma saída para quem não aguenta mais o cabelo desgrenhado.

A cabeleireira Julia Navalha em ação

Mas como funciona?

Primeiro, a cliente deve posicionar espelhos e providenciar, pelo menos, uma tesoura afiada. “Peço uma foto do cabelo atual e uma referência de como a cliente quer ficar”, diz Alan, de Florianópolis.

Também é preciso ter o celular, claro, para a videochamada e uma boa conexão de internet. A iluminação também é importante.

“É difícil no começo. Mas criei uma metodologia: uso uma peruca para mostrar como fazer. Uso desenhos também. Dou toda a direção e o cliente só usa a tesoura quando está tudo certo”, explica Julia Navalha.

“Utilizo meu próprio cabelo para mostrar como posicionar a tesoura”, explica Alan, que tem cabelo comprido. Ele também faz o corte em duas etapas: uma num dia e outra, para aparar possíveis falhas, no dia seguinte, após a lavagem e secagem. Ele também dá consultoria online para coloração com henna e de tratamentos com produtos caseiros, como abacate e vinagre de maçã.

Paciência

Ao contrário de um corte no salão, o online é bem mais demorado. Pode ser feito em uma hora e meia ou em até três, como foi o caso da carioca Bruna. “O importante é construir, para a cliente, uma segurança para que ela faça tudo sozinha, com nossa direção. Isso pode levar tempo”, diz Julia. “Às vezes dá vontade de virar pixel, entrar na tela e sair do outro lado. Mas no final dá tudo certo”, brinca Alan.

O preço do corte varia. A mineira Camila, por exemplo, cobra R$ 1 por minuto. Julia tem tarifas que vão de R$ 35 a R$ 75. Alan combina o preço com cada cliente, mas seu teto é de R$ 75.

“Olha, eu recomendo”, diz a figurinista Bruna. Ficou tão bom quanto se tivesse cortado presencialmente e foi uma experiência ótima. Nem vi o tempo passar. Acabei me divertindo muito.”

E compensa?

Os cabeleireiros admitem que não estão faturando o mesmo que conseguiam antes da pandemia. Mas os telecortes ajudam a pagar as contas e, mais do que isso, serve para se sentirem ocupados.

Mesmo depois da reabertura, muitos deles dizem que continuarão usando a técnica de corte online para atender novas clientes, de outros estados e países, conquistadas durante a pandemia.

Camila, por exemplo, já atendeu pessoas de São Paulo e do Rio, além de uma em Portugal. Alan cortou o cabelo de várias clientes em São Paulo e de uma cliente em Boston, nos EUA. E Julia vem atendendo pessoas de Brasília, Natal e até do Canadá.

“No meu caso, por exemplo, 40% das clientes do corte online são pessoas que nunca atendi antes”, explica Julia.

Telecorte feito por uma das clientes da Camila