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Os seguidores do deputado Daniel Silveira nas redes sociais receberam uma enxurrada de desinformação e notícias fora de contexto sobre a pandemia de covid-19 no último ano.

Preso em flagrante na noite desta terça (16/2) a mando do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes após ataques feitos a ministros da corte, o deputado federal do Rio já disse que "a covid-19 idiotiza as pessoas", chamou a pandemia de "fraudemia", contestou a eficácia e segurança da vacinação e defendeu o tratamento precoce com medicamento comprovadamente ineficaz para a doença.

O Twitter chegou a colocar a marcação de "publicação de informações enganosas e potencialmente prejudiciais relacionadas à COVID-19" em ao menos uma postagem antiga sua.

A assessoria de imprensa do deputado disse, por WhatsApp, que seus questionamentos são baseados em opiniões médicas e científicas, citando "o bombardeio de informações midiáticas que utilizam o medo como ferramenta de controle social" (leia mais abaixo).

Em janeiro, Silveira recusou-se a usar máscara em um voo, alegando que tinha dispensa médica para não usá-la, e foi retirado do avião. Agora, um vídeo que circula nesta quarta (17/2) mostra como ele também se recusou a usar máscara no Instituto Médico Legal no Rio, hostilizando uma servidora que pediu que ele a vestisse. "Se a senhora falar mais uma vez, eu não boto. Me respeita que você não está falando com um vagabundo, não. A senhora é policial, e daí? Eu também sou polícia e deputado federal", disse, antes de finalmente colocar a máscara, uma das formas de reduzir a transmissão de coronavírus.

Silveira tem 123, 9 mil seguidores no Twitter, 144 mil seguidores no Facebook e 138 mil no Instagram.

Há dois dias, o deputado publicou um vídeo no Instagram com o título "Covid-19: A Fraudemia", com um palestrante questionando a eficácia do confinamento, medida mais drástica de distanciamento físico adotada por países no mundo inteiro para diminuir casos de infecção por coronavírus. Dezenas de estudos científicos apontam que, dependendo da adesão popular em cada país, medidas de distanciamento são eficazes para reduzir de forma emergencial o número de infectados, ao lado da testagem em massa ou rastreamento de contatos.

Nesta terça (15), Silveira publicou no Facebook um vídeo que mostra uma paciente de covid-19 recebendo alta e uma profissional de saúde dizendo que a hidroxicloroquina é utilizada no hospital. A insinuação é de que a paciente se curou por causa do medicamento, fazendo com que, nos comentários do vídeo, seus seguidores defendessem o "tratamento precoce" com esse medicamento. Estudos robustos já demonstraram que a hidroxicloroquina não tem efeito para a covid-19 e pode ter efeitos colaterais. O medicamento tampouco mostrou efeito na prevenção da covid-19, levando uma médica consultada pela BBC News Brasil a apontar que "ciência mostrou que ele não funciona".

Atribuir a sobrevivência de um paciente ao uso desta medicação sem um estudo científico robusto se trata de uma evidência anedótica, sem valor científico, apontam especialistas.

Essas publicações de Daniel Silveira são apenas exemplos desta semana.

"Alguém tossia, eu respirava"

Antes disso, no ano passado, o deputado afirmou que a covid-19 "idiotiza as pessoas". Quando ele mesmo contraiu o coronavírus, explicou em um vídeo que se referia não aos pacientes de covid-19, mas sim à pandemia em geral: "Idiotizou as pessoas em massa".

Além disso, afirmou ter tentado contrair o vírus propositalmente. "Alguém tossia perto de mim, eu respirava. Queria logo adquirir essa porcaria para demonstrar que era mais um vírus da família da gripe, uma gripe viral. Como diz o presidente Bolsonaro, é mais uma gripezinha aí", disse em um vídeo publicado no dia 8 de junho de 2020.

A covid-19 tirou a vida de 240,9 mil brasileiros até a última terça-feira (16/2), de acordo com as estatísticas oficiais.

Mas, segundo suas publicações, Silveira não acredita nisso. Para ele, "com o passar do tempo, a verdade a respeito desta pandemia surgirá". "Mortes que não foram por covid-19 aparecerão", afirmou ao jornal Folha de S.Paulo no ano passado.

Silveira é contrário à vacinação obrigatória, que chegou a ser defendida pelo governador de São Paulo, João Doria. Mas também já demonstrou ser contrário à vacina em si.

Em 22 de dezembro de 2020, escreveu no Twitter que não tomaria "vacina alguma" e que "em nenhuma hipótese" suas filhas a tomariam.

Naquele mês, também escreveu que, caso a vacina contra a covid-19 tenha sido elaborada agora, "estão cometendo um crime por tentar impô-la sem devidos testes de segurança necessários". Se não foi elaborada agora, "mas vem sendo testada há mais de cinco anos, cometeram um crime de guerra biológica em escala mundial", escreveu, adotando um discurso considerado conspiratório e bastante usado por pessoas que tentam minar a credibilidade das vacinas.

No fim de janeiro, publicou um texto no Twitter destacando que 6,6% das pessoas que haviam tomado a vacina da Pfizer, em Israel, tinham sido contaminadas com o coronavírus. O próprio texto publicado por ele diz que "a maioria dos infectados havia contraído o vírus logo após receber a primeira dose da vacina". "A explicação apresentada é que a inoculação ainda não havia surtido efeito."

Na época, o médico israelense Nachman Ash, responsável pela resposta de Israel ao coronavírus, afirmou que doses únicas da vacina da Pfizer não davam tanta proteção contra a doença como se imaginava. Mas o Ministério da Saúde de Israel o corrigiu, dizendo que "o impacto de proteção total" da vacina ainda seria observado, e que seus comentários tinham sido feitos fora de contexto e que, portanto, eram errôneos. De acordo com a própria Pfizer, uma única dose de sua vacina é cerca de 52% eficaz.

A explicação é de que, depois da vacinação, o corpo precisa de tempo para reconhecer o material genético do vírus e criar uma resposta imune, produzindo anticorpos e células T contra o vírus. Cientistas dizem que esse processo leva no mínimo duas semanas, talvez mais. Ou seja, a resposta não é imediata. Portanto, ter recebido a primeira dose da vacina e ter se infectado com o vírus não significa que a vacina não seja eficaz.

O país, que aplicou o maior número de doses per capita no mundo, é o principal exemplo de como a vacinação em massa reduz as infecções sintomáticas de coronavírus, segundo dados divulgados no fim de semana pelo maior grupo de saúde de Israel, Clalit. A empresa analisou 600 mil pessoas vacinadas e 600 mil pessoas não vacinadas no país, coordenando idade e estado de saúde em cada grupo. O estudo, cujos dados finais ainda não foram publicados, encontrou 94% menos infecções por coronavírus entre o grupo vacinado. Além disso, as duas doses da vacina preveniram quase todos os casos de doenças graves.

A assessoria de imprensa de Silveira declarou que o deputado tem uma dispensa médica para não utilizar máscaras. Questionada, não informou qual é a justificativa médica. Afirmou que a declaração de Silveira sobre a covid-19 "idiotizar" pessoas "se refere ao bombardeio de informações midiáticas que utilizam o medo como ferramenta de controle social". Sobre o confinamento, afirmou: "Lockdown não funcionou em lugar nenhum e não é ciência. É defendido apenas por uma parte de médicos e cientistas que atendem o protocolo global, e o fato de somente essa corrente ter espaço midiático, vende-se a ideia de que eles são a maioria e de que existe consenso. Uma mentira!"

A assessoria do deputado também disse que o questionamento à eficácia de vacinas é baseado em opiniões médicas e científicas "que afirmam e provam que etapas nos testes foram comprimidas e até ignoradas". O chamado "tratamento precoce", disse a assessoria, "salva vidas" e "milhares" de médicos no Brasil o defendem "pautados em estudos relevantes e significativos".


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