Inicialmente, a história entre Elon Musk e o Twitter parecia um conto de amor não correspondido.
O casal improvável começou sua relação com um desequilíbrio de poder.
Elon Musk adora o Twitter. O bilionário nascido na África do Sul tem impressionantes 87 milhões de seguidores na rede social. Ele tuíta de modo prolífico, às vezes de forma controversa ou catastrófica.
A Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês), uma agência federal de regulamentação e controle dos mercados financeiros, chegou a proibi-lo de postar sobre assuntos relacionados à sua empresa automotiva Tesla depois que um tuíte fez o preço das ações da companhia despencarem US$ 14 bilhões.
Ele também foi processado por difamação após um tuíte em que chamou o mergulhador britânico Vern Unsworth, que participou da operação de resgate de 12 meninos presos numa caverna da Tailândia em 2018, de "pedófilo".
Mas ele nunca se afastou da rede social.
O Twitter, por outro lado, é muito menos empolgado com Musk.
É de se imaginar que, se alguém oferecesse US$ 44 bilhões por um negócio de 16 anos que não experimentou o mesmo crescimento exponencial de seus rivais, estaria fazendo um favor à empresa - e os acionistas do Twitter parecem concordar.
Musk diz que quer ver o Twitter atingir seu "potencial extraordinário" e não está interessado em ganhar dinheiro com isso. Ele já tem uma fortuna enorme, e os multibilionários podem se dar ao luxo de ter prioridades diferentes.
Ainda que um acordo tenha sido fechado nesta segunda-feira (25/04), o Twitter inicialmente respondeu à oferta de Musk usando uma abordagem defensiva, usando como justificativa o fato de que uma única pessoa não pode possuir mais de 15% de suas ações.
Por quê?
Talvez o conselho tenha ficado nervoso com a declaração de Musk de que queria ver mais "liberdade de expressão" e menos moderação no Twitter. Muitos republicanos, que há muito sentem que as políticas de moderação do Twitter favorecem a liberdade de expressão de pontos de vista de esquerda, se alegraram.
Mas agências reguladores de todo o mundo têm trabalhado para forçar as redes sociais a assumir mais responsabilidade pelo conteúdo que exibem, emitindo multas altas por casos de compartilhamento de material que incite à violência, seja abusivo ou classificado como discurso de ódio, entre outras coisas. Já é possível ouvir os primeiros alertas de preocupação.
Não podemos esquecer das finanças. O principal modelo de negócios do Twitter é baseado em anúncios - e Musk quer mudar isso.
Ele se diz mais interessado em assinaturas pagas, um modelo que pode ser difícil de vender em um ambiente onde todas as principais redes sociais são de uso gratuito.
A ideia é permitir que os usuários do Twitter possam decidir se preferem que seus dados não sejam usados para anúncios em troca de uma taxa - mas isso é apenas uma aposta.
O bilionário também se interessa pelas criptomoedas. Será que ele poderia usar a plataforma para incentivar pagamentos em moedas voláteis e desprotegidas, como o Bitcoin?
E há ainda o próprio Musk. Ele é o homem mais rico do mundo, um empreendedor em série cujos sucessos incluem companhias como PayPal e Tesla. Ele é carismático e não tem filtros - o que pode torná-lo bastante imprevisível. Ele gosta de testar limites e quebrar regras.
Há uma razão pela qual ele se recusou a se juntar ao conselho do Twitter depois de comprar 9,2% das ações da empresa em janeiro - ele não queria estar vinculado a nenhuma responsabilidade.
E ele tem um exército de fãs leais que o adoram. Uma vez tuitei sobre o fato de que, devido à forma como suas finanças estão estruturadas (sua riqueza é em grande parte baseada em ações e não em dinheiro, e ele não possui propriedades), ele não paga imposto de renda.
Recebi comentários e respostas me questionado como ousava dizer isso e que ele era um homem brilhante pelo qual deveríamos ser gratos.
Ele não cortejou o Twitter com flores e chocolates e, ao invés disso, fez uma oferta agressiva de um empresário agressivo - sem negociação, sem compromisso.
É uma venda privada, de uma empresa privada, e não é uma fusão entre dois gigantes, então é improvável que haja muitos obstáculos regulatórios.
O Twitter de Musk seria um cenário muito diferente para os 300 milhões de pessoas que continuam a usá-lo, se é que o fazem. Mais ousado, talvez, e menos liberal.
Ele poderia restabelecer a conta de Donald Trump, que está atualmente banido da rede social. E considerando que a plataforma criada pelo próprio ex-presidente americano, Truth Social, parece não estar dando certo, ele provavelmente retornaria para o Twitter facilmente.
É difícil resumir a visão coletiva dos usuários do Twitter. Mas de acordo com a minha análise não científica, para cada tuíte de boas-vindas a Musk, parece haver outro de um usuário ameaçando abandonar a rede.
Mas desde quando os usuários do Twitter concordam em alguma coisa?
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