Quem vive na bolha das redes sociais do mundo do trabalho deve ter notado a repercussão de uma nova rede social baseada em conversas de voz: Clubhouse.

As buscas pelo app no Google cresceram 525% em apenas uma semana, segundo o próprio buscador e tem atraído a atenção de personalidades do mundo corporativo como Elon Musk, o homem mais rico do mundo, e gente famosa como Oprah Winfrey, Drake e Ashton Kutcher.

No Brasil, globais como Luciano Huck e Boninho estão por lá e todo mundo que se define como especialista de marketing tem sua própria sala para explicar o futuro de alguma coisa.

O Clubhouse é muito parecido com as salas de conversa dos antigos portais de voz (lembra do Disk Amizade?), com diversas salas de bate-papo, sem fotos, sem vídeos. Só áudio. Tudo ao vivo.

Em tempos de pandemia, ouvir a voz de outras pessoas é um alívio para quem está muito tempo longe do convívio social. E como boa parte das pessoas ficou muito tempo sem falar, é um monte de gente tagarelando sem parar.

O fenômeno infla o ego dos seres humanos comuns, que agora podem afirmar que frequentam a mesma festa que os deuses do olimpo.

Não é novidade que humanos gostam dos encantos da voz. Se a leitora ou leitor tem mais de 40 anos, sabe o que é um rádio PX e o quanto era encantador ligar uma frequência e ficar ouvindo vozes desconhecidas.

O rádio também adora a voz. Por mais que as plataformas digitais insistam em não anunciar e desanunciar as músicas e digam que os algoritmos são mais interessantes que os locutores, o rádio continua sendo o veículo com maior alcance e penetração em todas as cidades do Brasil.

E continuará sendo.

Quando alguém fala que podcasts são uma grande novidade, lembro que existem programas de rádio que estão no ar há mais de 40 anos, com as mesmas formas, os mesmos bordões, os mesmos sinais sonoros e pasmem, os os mesmos locutores e locutoras.
E o que seria um podcast se não um programa de rádio sem uma frequência de ondas para ser transmitido?

Remixar, relançar, reiniciar.

Não existe nada realmente novo no Clubhouse ou nos podcasts, mas arrisco dizer que 2021 será o ano do fetiche da voz.

E isso até pode ser bom, se não cairmos no canto da sereia de achar que somente aquilo que é novo tem algum valor.

João Ramirez é estrategista digital e especialista em livestreaming. Fez a 1ª transmissão ao vivo da história da Internet brasileira, em 1996, e está no Guinness Book of Records. Dirigiu milhares de programas ao vivo nos últimos 20 anos e adora rádio AM e FM, discos de vinil e fitas cassete.