Fundação Padre Anchieta

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Nesse reino em que rola a bola não pode haver presunção maior do que querer adivinhar destinos. Há algo de fatal a espreitar os que não resistem ao encanto das evidências. Quando eu iniciei na profissão isso era coisa séria. Tinha-se mais pudor, poucos se deixavam levar por esse tipo de coisa. Fazia parte do cerimonial do ofício buscar bases mais sólidas, menos evidentes. Não me entendam mal, não acho que a crônica precise ter o ambiente rígido de um Tribunal. Nada disso.

Os tempos são outros eu sei. Inclusive, atualmente não é difícil encontrar quem tenha feito desse tipo de entrega quase um estilo. Não há juízo aqui, torcida brasileira, creia. Apenas constatação. Já que os dias passados pareceram fazer força para nos mostrar esse lado traiçoeiro do jogo. Até o meio da semana passada o Mirassol não registrava uma vitória que fosse sobre o São Paulo de tantas - e cada vez mais distantes - glórias. E um clima de agora vai rondava o time do Morumbi. Era evidente. Muitos achavam que sob o estilo original e ousado de Fernando Diniz o tricolor estava mudando de rota. Algo que o treinador e seus comandos davam a impressão de fazer por merecer, mas que boa parte de seus cartolas não. E o futebol sempre mostrou uma profunda vocação para auto reparar certas injustiças. Virtude que dirigentes e árbitros mal-intencionados, claro, deram um jeito de neutralizar. Nem que para isso tenha sido preciso mudar regulamentos ou virar a mesa mesmo. Mas é interessante notar como o futebol traz em si a fé cega em certas crenças. No dia seguinte, quando o Corinthians foi visitar o Bragantino no Morumbi, a presença de Jô entre os titulares corintianos estava cercada daquela mística do ídolo que volta para decidir, para redimir clube e torcida. Sem falar naquela outra convicção forte, a que faz o Corinthians ser visto como um time que não se pode deixar chegar até a hora do tudo ou nada. Pimba!

O Palmeiras poderia o ter tirado do caminho, o São Paulo, e aí já viu. Isso era como um mantra que se repetia aqui e ali bem antes da partida começar. De alguma forma para os corintianos era mais fácil acreditar nisso do que no bom futebol do Bragantino. Na sua estrutura bem pensada, no seu planejamento, até na sua grana, que é coisa que se costuma respeitar muito quando o assunto é futebol. Já os santistas, por sua vez, nunca me pareceram tão de pés no chão. Pudera. Se os cartolas tricolores se faziam dignos de serem castigados pela bola, o mandatário da Vila Belmiro idem. Por essas e outras a fé dos alvinegros praianos parecia estar principalmente em Soteldo e Marinho, sem desmerecer, por favor, as qualidades de um Lucas Veríssimo ou de um Alison. Enquanto o véu da confiança cobria o Morumbi, o da necessidade de alcançar uma graça se derramava sobre a Vila.

E atire a primeira pedra aquele que não viu no duelo entre Palmeiras e Santo André a partida talvez mais fácil de fazer alguém se dar bem numa aposta. Difícil seria encontrar quem quisesse colocar suas fichas em um Santo André que, depois de brilhar nas dez primeiras rodadas, se desmanchou e chegou nesse tempo pós-pandemia como um time recém construído. Ainda que o placar insinue alguma superioridade o jogo permaneceu com o placar igual por oitenta e sete minutos. E, vejam como a lógica do futebol é estranha. Isso quando Luxemburgo e seus homens vinham sendo incansavelmente acusados de apresentar um futebol quase mínimo. É por isso que eu digo: em matéria de bola, malandro é o sujeito que diz que não sabe nada. Ou que tem a sabedoria de agir como sugeria meu avô: teimando, mas sem apostar.

Vladir Lemos é jornalista, apresentador Revista do Esporte e diretor de Esporte da TV Cultura.