Fundação Padre Anchieta

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Vivi sentimentos distintos vendo o Bayern de Munique fazer o que fez com o Barcelona dias atrás, que longe de ser o que foi ainda é o Barça. O Barça de Lionel Messi, senhoras e senhores. Senti certa angústia tentando lembrar qual tinha sido a última vez que aqui, ao sul do Equador, tinha visto uma partida de futebol ir além do que prometia. Por mais que a cada dia soe mais descabido tratar o que tem sido praticado por aqui como futebol. Não só não lembrei quando uma coisa dessas tinha se ado por estas bandas como vi a angústia quase virar depressão.

Primeiro porque o duelo Bayer e Barça já prometia muito e entregou algo quase inimaginável pra nós. E depois porque caí na real e percebi que os jogos ditos nossos não só não cumprem as mínimas expectativas como sistematicamente têm nos decepcionado entregando o mínimo. Mas acima de tudo por perceber como temos acreditado que a tradição pode nos salvar dessa condição. Nos aproximamos de um clássico, como o recente entre Corinthians e Palmeiras que valia um título paulista, e nos deixamos tomar por um sentimento que em outros tempos se dizia que costumava pertencer a mulher de malandro. Sabe? Uma certeza infundada de que tudo vai mudar? Santa ingenuidade.

Vou lembrar por muito tempo como jogava o time alemão nas profundezas dos quarenta e três minutos do segundo tempo. Com a ânsia de quem precisava de um gol para respirar. Uma grande lição se esconde nessa disposição toda. Quem, ou o quê, consegue fazer esses caras agir assim, com tamanha fome de bola? Justo eles que já tem e tinham tanto. E como aprender nunca é demais não devemos deixar de notar também as condições e atitudes a que essa pandemia nos condenou. Entre elas essa de se resolver a coisa com jogos únicos. Creio que depois do que vimos os torcedores por aqui deveriam organizar um movimento para reivindicá-los. Fazer barulho mesmo.

O jogo único provoca o que o futebol tem de melhor. Um tudo ou nada. E não me venham dizer que isso pode gerar injustiças. Algo que nos últimos tempos virou quase um consenso entre os que são do ramo. Estou convencido de que esse papo de resolver as coisas em mais de um jogo só é bom para faturar e, por tabela, dar uma nova chance a quem por descuido ou incompetência deixou escapar a primeira. Um jogo a mais, desculpem a insistência, deveria ser algo banido. Dilui uma emoção que deveria desde o início estar concentrada em 90 minutos e ponto. Dois jogos é água no chopp, é água no feijão. Estou convencido! No mais, fico aqui tentando fazer as pazes com essa tristeza que nasceu por ter visto tudo o que vi nessa reta final do pomposo torneio de clubes da Europa. E que foi bonito, hein!?

Vladir Lemos é jornalista, apresentador Revista do Esporte e diretor de Esporte da TV Cultura.