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Svetlana Tikhanovskaya inspirou milhões de bielorrussos a lutarem pela democraciaEm apenas alguns meses, Sviatlana Tsikhanouskaya passou de prendas domésticas a "líder da Belarus democrática". Orgulhosa de ambos os papéis, ela está segura que, para milhões de mulheres, "a força interior despertou".Há um ano, Svetlana Tikhanovskaya era uma desconhecida no meio político. Hoje, é a líder do maior movimento popular de Belarus desde que o país se tornou independente. Esse movimento democrático recebeu do Parlamento Europeu o Prêmio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, e Tsikhanouskaya foi agora indicada para o Prêmio Nobel da Paz.

Tikhanovskaya emergiu em 2020 como o rosto da oposição ao líder autoritário Alexander Lukashenko, e se autoproclamou "líder da Belarus democrática". Em maio de 2020, quando seu marido, Sergei Tikhanovsky, conhecido blogueiro e ativista da democracia, foi impedido de concorrer às eleições presidenciais, ela se candidatou em seu lugar.

"Eu era dona de casa... Ter vergonha de quê?"

Lukashenko, no cargo desde 1994 e considerado o "ùltimo ditador da Europa", não a levou a sério como oponente e afirmou publicamente que "uma mulher não pode ser presidente". Tentando menosprezar sua experiência como mãe e dona de casa, comentou: "Ela só cozinhou uma boa costeleta, talvez tenha dado comida às crianças. E a costeleta cheirava bem."

Mas a determinação de Tikhanovskaya em contra-atacar a misoginia institucionalizada encontrou ressonância junto a milhões de mulheres em Belarus e no exterior. Ciente de que Lukashenko a tentou ridicularizar ao afirmar que seu lugar é na cozinha, Tikhanovskaya não aceita a ofensa: "Nunca me ofendi com isso, porque as coisas são como são. Eu era uma dona de casa por vários motivos, é verdade. Se ele queria me ofender, não conseguiu. Eu deveria ter vergonha de quê?"

Lukashenko acabou se reelegendo, num pleito marcado por acusações de fraude e intimidação e que não foi reconhecido internacionalmente. E pode ser que a ideia de uma mulher como presidente de Belarus esteja além da imaginação dele. Mas a líder oposicionista não tem dúvidas de que a população discorda dessa retórica machista: "Sim, estou mais do que convencida de que é possível. Eu e meus aliados, e todas as mulheres bielorrussas que foram às ruas, provamos nossa resiliência e força. Por isso os bielorrussos não terão dúvidas de que uma mulher pode se tornar a futura presidente de Belarus."

O ano de 2020 foi, em muitos sentidos, um marco para a ex-república soviética e especialmente para a mulheres. As forças de segurança de Lukashenko inicialmente pouparam as cidadãs, mas a situação mudou quando elas se tornaram a força motriz dos protestos. Surgiram imagens e relatos de mulheres – de adolescentes à idosas – sendo presas, espancadas e até torturadas. Diversas ativistas conceituadas foram detidas e forçadas ao exílio.

Tikhanovskaya relata que um "impulso do coração" foi o que levou milhões de bielorrussas a protestarem contra a fraude eleitoral. "Nós nos opormos à violência foi como um instinto. Quando vimos quantas éramos, nos orgulhamos de nós mesmas. 'Aqui estou, consegui.' A força interior despertou."

"Não sou feminista"

Tikhanovskaya descreve sua impressionante ascensão à liderança como fruto da falta de escolha: "O medo sempre esteve lá: se eu acabasse na prisão, o que aconteceria com meus filhos? Todas as manhãs você convive com um sentimento de medo. Mas você faz as coisas apesar do medo, porque não tem outro jeito."

Tikhanovskaya e seus filhos foram forçados a deixar o país. Ela está exilada na Lituânia desde então, de onde continua liderando a luta pela democracia. A União Europeia e os Estados Unidos não reconheceram a vitória de Lukashenko nas eleições de 2020. Paralelamente, a oposicionista se tornou a representante de Belarus no cenário internacional, reunindo-se com diversos líderes mundiais, entre os quais a chanceler federal alemã, Angela Merkel.

O encontro foi durante uma visita a Berlim, em outubro de 2020. Ela descreveu a chefe de governo alemã como "extremamente amigável", sendo "óbvio que ela tem um senso de empatia, que entende nossa dor, e que realmente gostaria de ajudar".

O foco da reunião de 30 minutos entre ambas foi como a Alemanha poderia ajudar a intermediar um possível diálogo entre os manifestantes e as autoridades bielorrussas. Tikhanovskaya considera Merkel "muito direta", sem "absolutamente nenhuma arrogância".

No entanto "há uma sensação de calor vindo dela", e "isso em nada contradiz a ideia de mulher forte pela qual é conhecida": "Não precisa falar duro para se perceber que ela é uma líder forte." Contudo, da mesma forma que a líder alemã, Tikhanovskaya assegura: "Eu não diria que sou feminista." Suas ações são uma resposta ao contexto e uma necessidade após a prisão de seu marido.

Tikhanovskaya continuará na luta pela presidência? No início de março, as autoridades do país a colocaram na lista de procurados por supostamente "incitar tensões". Ela se diz "pronta para estar com os bielorrussos enquanto eles precisarem de mim", mas que não necessariamente fará o trabalho sozinha.

"Se as circunstâncias mudarem e tivermos novas eleições – esse é o nosso objetivo – não pretendo concorrer novamente. Mas não sabemos como será. Pode ser que o povo decida que quer confiar em mim de novo. Eu sempre digo: 'Se você quer fazer Deus rir, conte-lhe os seus planos.'"