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Sobreviventes do programa de repatriação e apoiadores antes do início de audiência em tribunal de TóquioCoreanos que foram repatriados do Japão entre 1959 e 1984 afirmam que sofreram violações de direitos humanos. "Disseram que iríamos para um 'paraíso na Terra'. Em vez disso, fomos levados para um inferno", diz desertor.Cinco desertores norte-coreanos prestaram depoimento nesta quinta-feira (14/10) em um tribunal de Tóquio no âmbito de um processo simbólico contra o ditador Kim Jong-un. Os autores da ação procuram responsabilizar, ainda que simbolicamente, o atual dirigente do regime norte-coreano por violações de direitos humanos durante a execução de um antigo programa de repatriação.

O tribunal japonês convocou o líder norte-coreano para responder às queixas. Não se esperava que o ditador comparecesse, mas a decisão de convocar o ditador foi uma rara ocasião em que não foi concedida imunidade a um dirigente estrangeiro, afirmou Kenji Fukuda, um advogado que representa os cinco autores da ação, que exigem uma indenização de 100 milhões de ienes (769 mil euros) para cada.

Os cinco autores acusam o regime norte-coreano de forçá-los "a viver em condições em que usufruir dos direitos humanos era impossível".

Todos os queixosos aderiram a um programa de repatriação voltado para coreanos que viviam no Japão, que funcionou entre 1959 e 1984. Antes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), milhares de coreanos foram realocados para o Japão – muitos contra sua vontade – quando a península coreana era uma colônia administrada com mão de ferro por Tóquio. Muitos permaneceram nas ilhas japonesas após o conflito, mas após a Guerra da Coreia, o norte comunista começou a tentar atraí-los para ajudar na reconstrução do país.

Pelo menos 90 mil coreanos que viviam no Japão acabaram se mudando para a Coreia do Norte, atraídos por propagandas que vendiam a região como um "paraíso na terra" e cansados da discriminação que sofriam nas ilhas japonesas. O governo japonês também incentivou a repatriação, ansioso para se livrar dos coreanos.

Alguns se mudaram com esposas e esposos japoneses. No entanto, ao chegaram ao país, depararam-se com a realidade brutal do regime da família Kim. E não havia opção de mudar de ideia, já que o regime não permitia que seus novos cidadãos deixassem o país.

"Fomos levados para um inferno"

Eiko Kawasaki, uma das reclamantes, hoje com 79 anos, é uma coreana nascida e criada no Japão. O pai de Kawasaki estava entre as centenas de milhares de coreanos levados para o Japão para trabalhar em minas e fábricas antes e durante a Segunda Guerra Mundial.

Tinha 17 anos quando deixou o Japão, em 1960, um ano depois de a Coreia do Norte ter começado o programa de repatriamento. Kawasaki argumentou que permaneceu confinada na Coreia do Norte durante 43 anos, até que conseguiu fugir em 2003, deixando para trás os filhos já adultos.

"Se tivéssemos sido informados da verdade sobre a Coreia do Norte, nenhum de nós teria ido", disse, durante uma conferência de imprensa, no mês passado.

De acordo com Kawasaki, Pyongyang prometeu cuidados de saúde gratuitos, educação, empregos e outros benefícios, mas era tudo mentira. A maioria das pessoas foi encaminhada para trabalhos em condições brutais em minas e fazendas, disse.

Outro reclamante é Lee Tae-kyung, de 68 anos, que foi levado para a Coreia do Norte em 1960, quando tinha 8 anos. Ao jornal The New York Times, ele contou o que viu quando chegou a um porto do país.

"As pessoas reunidas na chegada não apresentavam nenhuma expressão no rosto. Eu era apenas uma criança de 8 anos, mas eu já percebi que estávamos no lugar errado", disse.

Lee conseguiu fugir 46 anos depois. "Disseram-nos que iríamos para um 'paraíso na Terra'. Em vez disso, fomos levados para um inferno em que nos foi negado o direito humano mais básico: a liberdade de partir."

A ação contra o regime norte-coreano

Em agosto de 2018, Kawasaki, Lee e três outros desertores do programa – incluindo uma japonesa que se mudou com seu marido coreano – apresentaram uma ação judicial contra o governo da Coreia do Norte no tribunal distrital de Tóquio para exigir indenizações.

No mês passado e depois de três anos de discussões, o tribunal decidiu convocar Kim Jong-un para a primeira audiência, nesta quinta-feira.

O advogado dos reclamantes não esperava mesmo que Kim Jong-un comparecesse. Ele afirma que não espera nem mesmo o pagamento das indenizações reclamadas, mesmo que isso seja concedido pelo tribunal. As vítimas encaram o caso como uma chance de estabelecer um precedente para futuras negociações entre o Japão e a Coreia do Norte, na procura da responsabilidade pelo caso e na normalização dos laços diplomáticos entre os dois países.

Embora o atual ditador norte-coreano mal tivesse nascido quando o programa em questão terminou, os cinco demandantes buscam julgá-lo simbolicamente como representante do regime.

Legalmente impedida de processar o governo japonês pela ajuda ao programa, Kawasaki espera ao menos poder ajudar milhares de participantes a regressar da Coreia do Norte. "Penso que o governo japonês também devia assumir a responsabilidade", disse.

"Nós não esperamos que a Coreia do Norte aceite uma decisão nem que pague pelos danos e juros", admitiu o advogado Kenji Fukuda. "Mas esperamos que o governo japonês esteja em condições de negociar com a Coreia do Norte caso o tribunal decida a favor dos demandantes", completou. Uma parte da demanda dos desertores diz respeito à separação de suas famílias, ainda aprisionadas na Coreia do Norte.

jps/ek (Lusa, AFP, AP, ots)