Fundação Padre Anchieta

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Chegada ao Sul não significa encontro da felicidade para refugiados do regime comunistaEmbora Seul receba com boa vontade os que escapam do regime comunista do Norte, a sociedade nem sempre é acolhedora. Diferenças de sotaque e mentalidade e também preconceito dificultam a integração.Para dezenas de milhares de norte-coreanos que escaparam da repressão em seu país natal e completaram a frequentemente perigosa trajetória até a Coreia do Sul, os problemas estão longe de ter acabado.

Alguns sofrem preconceitos na sociedade local, assim como barreiras no acesso à educação, acomodação e emprego, segundo um relatório recente sobre as experiências dos recém-chegados ao Sul em 2020, antes que o regime da Coreia do Norte fechasse as fronteiras devido à pandemia de covid-19.

No estudo da Fundação Hana, organização estatal que auxilia dissidentes norte-coreanos a se estabelecerem no Sul, pouco mais de 17% dos 3 mil consultados revelaram ter vivenciado discriminação no ano anterior. Apesar de inferior aos 20,3% registrados em 2019, a cifra ainda é significativa.

Depressão, crise de identidade, exclusão

Yeong-nam Eom fugiu da Coreia do Norte em 2010, e agora tem trabalho estável e moradia na capital Seul. No entanto, assim como outros exilados, ele sofreu discriminação em sua luta para se adaptar a uma sociedade completamente diferente da em que cresceu.

Como parte de sua tese de mestrado, Eom entrevistou companheiros de exílio. Um rapaz lhe contou que tivera depressão severa, por se sentir excluído da sociedade sul-coreana, sabendo que retornar ao país de origem era impossível.

"Ele não estava mais seguro da própria identidade. Não se sentia pertencendo a parte alguma, ficou cada vez mais deprimido, até chegar bem perto de cometer suicídio. Ele não foi até o fim, mas por muito tempo se debateu para achar o próprio futuro na Coreia do Sul." Outro entrevistado era assediado impiedosamente por seus colegas de universidade, depois de revelar que vinha do Norte.

Em comparação, Eom considera sua experiência bastante "afortunada": "No estabelecimento educacional para onde fui primeiramente, os outros estudantes eram prestativos e não houve problemas. Mas eu realmente tive dificuldades depois de me formar", ressalva Eom.

"Primeiro, enviei meu currículo mais de 100 vezes com todo o meu histórico, inclusive minha formação e experiência profissional na Coreia do Norte. Mas nenhuma companhia me chamava para uma entrevista. Aí, só coloquei as minhas experiências no Sul, e logo passei a receber telefonemas das companhias."

Apelo à sociedade sul-coreana

Em entrevista à agência de notícias sul-coreana Yonhap News, o presidente da Fundação Hana, Jung In-sung, urgiu os cidadãos do Sul a se empenharem mais para fazer os dissidentes se sentirem bem-vindos e aceitá-los como "vizinhos comuns", sem preconceito.

A grande maioria dos participantes da pesquisa de sua organização considerou que a discriminação se deve às diferenças culturais entre as duas nações coreanas, como sotaque, modo de falar, maneiras sociais, mentalidade e estilo de vida.

Para 44%, os preconceitos partiram do mero fato de virem do Norte, enquanto quase 23% se viram criticados por não possuir o mesmo nível educacional ou de formação profissional que seus pares sul-coreanos.

Segundo Jung, anteriormente o foco estava em ajudar os recém-chegados a alcançar a "autossuficiência econômica", mas isso precisa ser ampliado para que eles sejam "completamente incluídos e unidos à nossa sociedade".

Falando konglish

Além de esbarrar nas variações do idioma coreano entre os dois países, poucos dissidentes falam inglês, uma vez que o regime comunista do Norte não encoraja seus cidadãos a olharem além das fronteiras nacionais, comenta Eun-koo Lee, cofundadora e copresidente da Freedom Speakers International (FSI), sediada em Seul.

"Pode ser bem difícil para os dissidentes encontrar emprego na Coreia do Sul por muitas razões, mas um grande problema é não terem tido a chance de aprender inglês. E costumam se confundir com o konglish, uma combinação de coreano e inglês que muitos no Sul tendem a usar."

"Os dissidentes recebem uma vaga se querem frequentar a universidade depois de chegar ao Sul, mas muitos têm dificuldade de acompanhar, porque é muito diferente do que estudaram no Norte. Eles acham o inglês especialmente difícil, e é por isso que em 2013 criamos nossa organização, para ajudá-los." Até o momento, a FSI já ajudou mais de 450 imigrantes do Norte a melhorarem seu inglês e encontrar emprego.

Decepção com a inação do Sul

Song Young-chae, acadêmico e ativista da Worldwide Coalition to Stop Genocide in North Korea, observa conflitos de identidade em grande parte dos dissidentes que sua organização ajuda a se integrar a uma nova vida no Sul.

"Quando estavam no Norte, eles nunca pensaram por si próprios e simplesmente faziam o que o Estado ordenava. Agora estão livres e têm escolhas, podem viajar, podem falar livremente. Para muitos, isso tudo é fonte de confusão."

Por outro lado, Song registra "desapontamento em muitos deles": "A Coreia do Norte está mais repressiva do que nunca, e há inúmeros relatos de abusos de direitos humanos lá, mas este governo aqui não faz nada. Agora são as famílias e amigos deles que estão sofrendo. Eles esperavam mais de um governo livre."

"Infelizmente, há muita gente comum que apoia o governo e segue a mesma linha, preferindo aplacar o Norte a se engajar por aqueles que são seus irmãos e irmãs", critica o ativista sul-coreano. "Muitos dissidentes não esperavam isso, e não conseguem entender por que não se pode fazer mais."