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Chernov e Maloletka documentaram efeitos de ataque russo a maternidade de MariupolJornalistas ucranianos Mstyslav Chernov e Evgeniy Maloletka captaram imagens decisivas do sítio russo à cidade portuária. Após receberem o Prêmio Liberdade de Expressão da DW, ambos pretendem retornar ao front."De todas as coisas que vi em Mariupol, uma imagem não me deixa: o corpo de um bebê caído no chão do porão de um hospital." Lá foi onde o jornalista Mstyslav Chernov tirou sua última foto na cidade ucraniana sitiada por tropas russas, antes de deixá-la em meados de março.

"Estávamos filmando num hospital, quando um doutor veio e me pediu para segui-lo até o quintal dos fundos. Lá eu vi dezenas de corpos pelo chão, dentro de sacos ou enrolados em tapetes." Os cadáveres eram de vítimas civis de bombardeios. O médico o levou até o porão, onde jaziam ainda mais mortos.

"Entre eles estava esse pacote pequeno. O doutor se abaixou e o desembrulhou, aí vi que era o corpinho de um bebê. Ao lado estava um papel dizendo que ele tinha 23 dias de vida."

O ucraniano Chernov é videojornalista da agência de notícias Associated Press. Ele e seu colega de longa data Evgeniy Maloletka, fotógrafo freelancer, receberam nesta segunda-feira (20/06) o Prêmio Liberdade de Expressão da DW por sua cobertura da situação em Mariupol, em fevereiro e março.

Ambos chegaram ao porto marítimo local poucas horas antes de as tropas russas invadirem a Ucrânia e noticiaram de lá durante três semanas, até a cidade ser evacuada, em meados de março.

Em detalhes horrorizantes, suas fotos e vídeos narram como Mariupol, antes uma próspera cidade portuária, foi reduzida a ruínas, morte e caos sob o cerrado bombardeio pelos militares a mando do presidente Vladimir Putin.

Os repórteres documentaram as condições desesperadoras dos residentes, privados de gás e eletricidade, sem comida nem água potável, durante semanas; gravaram imagens de valas comuns cheias de cadáveres de civis, também de crianças.

Se não fosse o volume de provas reunidas por Chernov e Maloletka, o mundo talvez não tivesse sido imediatamente informado sobre os efeitos da invasão russa em Mariupol.

Imagens que desmentem a propaganda do Kremlin

Em 9 de março, Maloletka fotografou paramédicos retirando uma gestante de uma maternidade destroçada por um ataque aéreo russo. Chernov também filmou a cena. A grávida e seu bebê acabaram morrendo, enquanto as imagens se difundiam nas redes sociais. Na época, os dois jornalistas não podiam imaginar que seu trabalho faria manchetes e suscitaria reações oficiais.

"Não tínhamos oportunidade, nem acesso fácil à internet, para monitorar as mídias e ver as reações ao que quer que a gente tivesse filmado ou fotografado", explica Chernov. "No entanto, quando ocorreu o ataque aéreo à maternidade, eu me dei conta que ia ser um dos momentos e das imagens mais cruciais dessa guerra, e que ia ter impacto enorme."

Enquanto os dois ucranianos tentavam divulgar essas fotografias através de um sinal de internet fraco e instável, apenas acessível em alguns pontos de Mariupol, a mídia russa bombardeava o público com alegações de que as tropas nacionais não estavam atingindo civis. Contudo as fotos de Maloletka da destruição do hospital emergiram como prova irrefutável contra a versão do Kremlin.

Nenhum dos dois é calouro em zonas de crise: Chernov noticiou a partir de palcos de guerra na Síria, Iraque e Mianmar, enquanto Maloletka passou anos na Ucrânia cobrindo a revolução da Praça da Independência (Maidan) e conflitos na região de Donbass e na península da Crimeia.

Porém Mariupol foi diferente: "Foi provavelmente uma das missões mais difíceis e perigosas que eu já tive", afirma o videorrepórter. "Essa guerra é extremamente perigosa e imprevisível, com armas ultrassofisticadas. Então, enquanto você está preocupado pela própria vida, também sente essa pressão para produzir material e enviar, porque é importante." É o que sente todo jornalista que esteja noticiando a partir da Ucrânia, sublinha.

"Como não sentir que seu dever é relatar?"

Desde o começo da guerra, as tropas russas têm repetidamente visado jornalistas, como mostra um inventário publicado pela ONG Repórteres Sem Fronteiras: até 13 de junho de 2022, pelo menos 12 profissionais foram mortos nas zonas de combate na Ucrânia.

As autoridades ucranianas publicaram números mais altos, e há notícias de desaparecimentos, sequestros e mortes sob circunstâncias desconhecidas. Em 2 de abril, cerca de duas semanas após Chernov e Maloletka partirem, soldados russos mataram a tiros em Mariupol o documentarista lituano Mantas Kvedaravicius.

Apesar de todas ameaças, os dois jornalistas planejam retornar ao front, depois de uma breve estada na Alemanha, onde participaram da cerimônia do Prêmio Liberdade de Expressão da DW. Com ele, a emissora homenageia a cada ano uma personalidade ou iniciativa jornalística que promova a liberdade de expressão e de imprensa.

Segundo Chernov, a atual situação no leste da Ucrânia não é nada melhor do que a de Mariupol durante o sítio, se não pior: "Ninguém sabe a extensão das mortes de civis e da destruição que acontecem lá, porque nenhuma imagem sai dessas áreas."

Ele quer voltar para as frentes de batalha porque é ucraniano e jornalista, e está seguro que na Ucrânia estão acontecendo coisas de que o público precisa saber. "Navegando pela mídia estabelecida, tenho a impressão de que poucos se dão conta de quão próxima da Europa essa guerra é, e que impacto imenso ela vai ter no mundo todo."

A seu ver, esse conflito tem repercussões infinitas na política e na economia de um planeta interconectado, portanto seu trabalho vai muito além de noticiar a partir de uma zona de guerra: "É mais como relatar sobre o começo de algo gigantesco, testemunhar eventos e batalhas que vão configurar o futuro do mundo. Como jornalista, como não sentir que é seu dever fazer isso?"