Funcionamento prolongado com capacidade reduzida, prorrogação por anos, ou até mesmo a reativação de unidades já desligadas no contexto do programa de abandono da energia nuclear? Todas as opções estão sendo discutidas. Enquanto isso, em outros 12 dos 27 países-membros da União Europeia, a energia continua sendo utilizada para produção de eletricidade, em proporções diversas.
Único abandono total: Alemanha
Em 1998, a coalizão de governo verde-social-democrata da Alemanha decidiu implementar a reivindicação de parte da população de que se deixasse de usar a energia nuclear. Em 2009, o governo liderado pelos democratas-cristãos retirou a decisão e no ano seguinte prolongou o prazo de vida dos reatores.
Após o devastador acidente atômico de Fukushima, em 2011, mudou-se de perspectiva, e a chanceler federal Angela Merkel cuidou para que se voltasse a aprovar o abandono nuclear. De 17 reatores, até hoje 14 foram desativados, e os três restantes, responsáveis por 6% do abastecimento elétrico alemão, não deveriam passar de 2022. Porém o plano de substituí-los provisoriamente por usinas a gás tornou-se impossível com o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia.
Abandono adiado: Bélgica
No segundo semestre de 2022, após a invasão da Ucrânia pela Rússia, a Bélgica congelou por nada menos do que dez anos a decisão de abandonar a energia nuclear. No momento, 50% da eletricidade do país é de origem nuclear, e até 2035 dois dos sete reatores ativos seguirão funcionando. Têm partido da Alemanha críticas repetidas aos padrões de segurança das centrais belgas.
Calouros e arrependidos: Polônia, Lituânia, Holanda, Suécia
A Polônia até agora não adotou a energia nuclear, mas quer começar, e seu primeiro reator deverá estar pronto em 2033. Empresas dos Estados Unidos, Coreia do Sul e França competem para participar do projeto. O plano original de cooperação com a vizinha Lituânia foi posto de lado. Varsóvia quer reduzir as emissões de dióxido de carbono provenientes da queima de carvão e considera a energia nuclear limpa.
Até 2009, a Lituânia produzia eletricidade com o velho reator Ignalina, da era soviética. Sob pressão da União Europeia, ele foi fechado por considerações de segurança. A construção de uma nova usina, a Visagina, foi suspensa em 2016, após um referendo com resultado negativo. Contudo, o governo lituano ainda planeja construir novas usinas.
A Holanda desistiu do abandono da energia nuclear decretado em 2021. Em vez disso, o governo pretende construir duas novas usinas. A central atualmente em funcionamento cobre 3% da demanda nacional de eletricidade.
Seis usinas produzem 40% da eletricidade da Suécia. O país havia decidido em 1980 abandonar a energia nuclear, assim que não fosse mais possível a operação comercial das centrais existentes. Em 2010, porém, a decisão foi revogada e até dez reatores podem seguir em funcionamento. Ao mesmo tempo, quatro usinas mais antigas foram desativadas. Em princípio, Estocolmo pretende reduzir a participação nuclear em sua matriz energética, mas não menciona datas concretas.
Sem questionamento e ampliando: França, Finlândia
Na França praticamente não há dúvida quanto à utilização da energia nuclear: 56 reatores, muitos dos quais atualmente em manutenção, produzem cerca de 70% da eletricidade que a população também usa para a calefação. Um novo reator está sendo construído, há seis outros em planejamento e propostas para a substituição de oito centrais antigas.
Como maior exportador de eletricidade da Europa, o país também vende sua energia de origem nuclear para o Reino Unido e a Itália. Paris pretendia, até 2025, reduzir a 50% a participação da energia nuclear, porém já em 2019 esse plano foi adiado em dez anos.
A Finlândia tem cinco reatores em atividade, um sexto entrará definitivamente na rede até o fim de 2022. A firma russa Rosatom estava originalmente contratada para construir mais uma usina em Hanhikivi, porém os finlandeses cancelaram o contrato após o início da invasão da Ucrânia. O país será o primeiro a possuir um depósito final de lixo atômico, onde os elementos irradiados ficarão armazenados por milênios.
A Hungria aposta incondicionalmente na Rússia, não só para seu gás como na energia nuclear, para desagrado dos demais Estados-membros da UE. Além das quatro usinas em funcionamento, a firma russa Rosatom instalará mais duas, cuja primeira fase de construção se inicia em setembro. Assim, a parcela nuclear na matriz energética nacional subirá de 50% para 60%. Em julho, o ministro húngaro do Exterior, Peter Szijjártó, esteve em Moscou, a fim de selar definitivamente o negócio.
Planos de expansão: Bulgária, R. Tcheca, Romênia, Eslováquia, Eslovênia, Espanha
Dois reatores cobrem atualmente 30% da demanda energética da Bulgária, que pretende ampliar sua rede de energia nuclear. A construção por empresas russas de um reator em Belene foi cancelada no segundo semestre de 2022, e o país aposta agora em reatores menores, apropriados para instalação descentralizada.
A postura da República Tcheca em relação à energia nuclear é positiva. Com seis usinas, ela produz assim 30% de sua eletricidade. Uma nova expansão está prevista até 2040, a fim de reduzir as emissões de CO2 das usinas a gás e carvão mineral.
Na Romênia há duas usinas em funcionamento, cobrindo de 15% a 20% da demanda de eletricidade, e o governo pretende ampliar essa fonte de energia, mas sem ter ainda planos muito concretos.
A Eslováquia satisfaz cerca da metade de sua demanda com quatro reatores nucleares. Essa forma de energia tem amplo apoio no governo. Os bastões radioativos são atualmente fornecidos pela Rússia, mas a intenção é substituí-los com extração de urânio local. Planeja-se uma unidade de processamento para os elementos irradiados, mas apenas depósitos provisórios para o lixo atômico.
A Eslovênia opera juntamente com a vizinha Croácia uma usina nuclear que atende a 36% de sua demanda. Cogita-se construir um segundo reator, com um depósito provisório de lixo nuclear nas vizinhanças.
Cerca de um quarto da eletricidade da Espanha vem de sete usinas nucleares, e o futuro dessa energia no país depende de quem está no governo. Tradicionalmente, os socialistas tendem a uma contenção, enquanto conservadores são a favor da ampliação. No momento a decisão é não construir novas centrais, mas reformar as existentes. As licenças de funcionamento se encerram entre 2027 e 2035. Nos últimos anos, três unidades mais antigas foram desconectadas. Estuda-se explorar as jazidas nacionais de urânio.
A União Europeia considera a energia nuclear sustentável, e seus Estados-membros têm autonomia para definir com que tipo de matriz energética pretendem alcançar as metas climáticas até 2050. Em todo o bloco, atualmente 25% da eletricidade é de origem nuclear.
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