As imagens estavam sob sigilo por fazerem parte de inquérito policial que investiga os ataques de 8 de janeiro, mas trechos inéditos foram divulgados pela CNN na última quarta-feira. As gravações mostraram o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Gonçalves Dias parecendo atordoado diante da invasão e militares que fizeram parte do governo Bolsonaro interagindo com os golpistas que depredaram o prédio.
Por conta da divulgação, Gonçalves Dias pediu demissão do cargo. Até então, ele havia dito que as imagens em que aparece durante a invasão estavam indisponíveis.
Nesta sexta-feira, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator das investigações sobre os atos golpistas, determinou a quebra do sigilo das imagens do circuito interno do Palácio do Planalto, que compreendem centenas de horas de gravação.
Militares alegaram "risco de vida"
As gravações do circuito interno foram entregues ao STF, por determinação de Moraes, junto a uma lista com o nome dos militares que aparecem nas gravações. Nove deles foram ouvidos pela Polícia Federal neste domingo, no âmbito de uma investigação que procura saber se houve algum tipo de colaboração com os golpistas. Desses nove militares, sete atuaram diretamente na segurança de Jair Bolsonaro em viagens presidenciais.
Em depoimentos à PF, neste domingo, os nove militares do GSI disseram que não prenderam os invasores do Planalto porque a situação envolvia "risco de vida". Eles alegaram que os golpistas eram muitos, face ao efetivo do GSI, considerado insuficiente. Relataram ainda que a estratégia era fazer uma "limpeza" de cima para baixo, retirando os invasores dos andares superiores para que eles fossem presos no segundo andar.
Agentes interagem com invasores
Os vídeos mostram os agentes interagindo com alguns golpistas. Os servidores do GSI também aparecem orientando os invasores a sairem das salas e gabinetes.
Membros do GSI, órgão responsável pela segurança do local, aparecem nas imagens abandonando seus postos e interagindo com os golpistas, aparentemente sem a intenção de detê-los ou de impedir a depredação.
Em um dos trechos das gravações, o major José Eduardo Natale, um ex-segurança de Bolsonaro, dá água aos vândalos. Em depoimento à PF, ele argumentou que a ação era uma técnica de gerenciamento de crise e afirmou que os golpistas entraram atrás dele na cozinha de uma das salas da Presidência exigindo água.
Ao depor à PF, Gonçalves Dias afirmou que não foi omisso e que houve um apagão no sistema de inteligência. Ele argumentou que naquele momento não tinha condições de efetuar sozinho a prisão dos invasores.
Gonçalves Dias atônito ao ver estragos
Imagens das câmeras do Planalto mostram o general do Exército surpreso quando encontra os invasores no terceiro andar do palácio. Segundo análises do jornal O Estado de S. Paulo, Dias se mostrou ''atônito ao ver os estragos na portaria principal do prédio".
Um dos primeiros momentos registrados, às 16h19, mostra o então chefe do GSI no elevador privativo de ministros. A porta do elevador se abre e ele parece se surpreender ao ver os extremistas. Falando ao celular, ele não sai do elevador e aperta o botão do térreo. Um minuto depois, no térreo, Gonçalves Dias atravessa a porta principal do prédio, seguindo à área externa.
Fora do prédio, Dias caminha sozinho por cerca de 2 minutos e volta ao edifício, reaparecendo às 16h29 no terceiro andar. Dois minutos depois, ele e outros membros do GSI indicam a saída para pessoas vestidas de verde e amarelo.
Em outras imagens, o militar é visto acompanhando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante uma vistoria no Planalto, às 21h26.
Irritação de Lula e Dino
Após os golpistas deixarem o prédio, Lula pôde ser visto em alguns momentos gesticulando em sinal de irritação, diante das marcas de vandalismo, quando passou em frente ao seu gabinete, acompanhado por uma comitiva de ministros e auxiliares.
Os vídeos do circuito interno do Planalto mostram que a antessala do gabinete presidencial foi arrombada às 15h56, quando um homem chuta a porta de vidro. O homem é visto desferindo o chute sabendo que sua ação era registrada por um fotógrafo.
Em outro instante, é possível ver uma acalorada conversa entre o ministro Flávio Dino (Justiça), que gesticula enfaticamente, e o ministro José Múcio (Defesa), que paralelamente fala no celular.
Flagrantes de falhas na segurança
Em várias gravações, são perceptíveis várias falhas de segurança e uma aparente desorientação dos poucos agentes presentes, o que permitiu o acesso e o livre trânsito dos vândalos pelos andares e salas do Planalto.
A principal entrada do palácio ficou desprotegida durante cerca de 45 minutos após policiais e militares do BGP (Batalhão da Guarda Presidencial) retirarem o bloqueio naquele local.
Assim, golpistas que já haviam entrado no prédio por outros acessos abriram a porta principal do palácio, facilitando a entrada de mais golpistas e a depredação de vidraças, obras de arte e equipamento de segurança.
Neste domingo, o ministro interino do GSI, Ricardo Cappelli, defendeu seu antecessor no cargo e fez críticas aos generais Augusto Heleno, que ocupava o cargo na gestão Bolsonaro, e Walter Braga Netto, que foi ministro da Casa Civil e da Defesa no governo Bolsonaro.
No Twitter, Cappelli escreveu: "O general Heleno 'pilotou o carro' por 4 anos e entregou o 'veículo' avariado e contaminado para o general G.Dias, que pilotou por apenas 6 dias. No 7° dia o carro pifou. De quem é a culpa? Não é possível falsificar a história. Conspiração não passa recibo".
md (ots, EBC)
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