As disputas pela distribuição já começaram, com a Colômbia, por exemplo, suspendendo temporariamente o fornecimento de energia ao Equador para não colocar a sua própria rede em risco. Embora os motivos dos gargalos difiram de país para país, as consequências são as mesmas: racionamentos e apagões, forçando um debate sobre como estabilizar a situação energética.
Energia nuclear e ressalvas ao lítio
Na América Central, El Salvador é um dos países que planejam retornar à energia termonuclear. "Dentro de sete anos, pretendemos ter primeiro um reator de pesquisa, e depois um de produção", anunciou o chefe da Comissão Executiva Hidrelétrica do Rio Lempa (CEL), Daniel Álvarez, durante uma recente conferência em Assunção.
Também em outros países o tema energia nuclear retornou à pauta, com uma nova geração de reatores menores despertando interesse. O consenso é que essa forma de produção seria livre de emissões carbônicas e, portanto, verde.
O debate energético também passa pelo mineral lítio. No atual estado da ciência, ele é indispensável para a maior parte da produção de baterias para os automóveis elétricos, que estão substituindo os movidos a combustíveis fósseis. Em diversos países latino-americanos, contudo, esse tema encontra resistência, por exemplo devido ao grande volume d'água exigido na extração do lítio.
É o caso, por exemplo, de um projeto de extração no Peru: nas proximidades da geleira de Quelccaya, na região de Puno, no alto dos Andes, a firma Yellowcake, sucursal da canadense American Lithium, pretende extrair 9,5 milhões de toneladas dessa matéria prima.
Em entrevista ao portal da Radio France International, o ambientalista Vito Calderón criticou o projeto, levando em consideração o abastecimento d'água dos habitantes: como "a água doce dessa região flui para a bacia de Azángaro, a qual desemboca no lago Titicaca", ele teme que o recurso seja contaminado ou desconectado do circuito natural.
Euforia do hidrogênio verde e o Brasil
Enquanto isso, em parte da América do Sul a euforia inicial em torno do hidrogênio de baixo carbono como solução mágica parece ter cedido lugar a um certo desencanto. Recentemente, o portal chileno Emol resumiu esse sentimento no artigo Hidrogênio verde: Dúvida global quanto ao setor industrial estratégico para o futuro do Chile, em que aponta como causa da retração a grande escala dos investimentos envolvidos.
Alex Godoy, diretor do Centro de Pesquisa de Sustentabilidade e Gestão Estratégica (CiSGER) da Universidad del Desarrollo, recomenda mais realismo e pequenos passos controláveis e planejáveis: "O cronograma deveria estabelecer metas de curto prazo, possibilitando projetos de investimentos rentáveis, mas também ambientalmente corretos."
A grande exceção nesse quadro é o Brasil, onde os planos em torno do hidrogênio verde permanecem eufóricos. Segundo a mídia nacional, o Nordeste poderia se transformar numa espécie de polo global de energia, na qualidade de uma das regiões do mundo em que é mais barata a produção de eletricidade e, portanto, de hidrogênio de fontes renováveis. Os estados de Ceará e Pernambuco já fecharam acordos com investidores estrangeiros.
"Infelizmente, entre eles não estão investidores alemães", lamenta Ansgar Pinkowski, fundador da Agência Neue Wege, especializada em consultoria e mediação entre o Brasil e a Europa em assuntos de energia. "Com a recém-aprovada lei do hidrogênio renovável, os riscos para os investidores ficaram consideravelmente menores e mais calculáveis."
Pinkowski arrisca um prognóstico: "Nos próximos anos, vamos ver um crescimento econômico muito grande na região, com que, espero, todas as camadas da população vão lucrar."
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