Ouça o décimo programa completo:
A Grande Orquestra do Mundo rompe as quatro paredes do teatro realista e apresenta o gênero épico nas ribaltas dramáticas. Música e palavras como instrumentos da construção narrativa.
No teatro épico de Bertolt Brecht (1898-1956), a canção e a música funcionam como uma interrupção no fluxo dramático e aparecem como síntese daquilo que necessita ser mostrado ao espectador. É um atalho, um encurtamento de tempo que dá dinâmica ao espetáculo, ao mesmo tempo em que impede a empatia emocional da plateia pelo herói protagonista: quem destaca-se da cena é o próprio ator que canta para narrar aquilo que a sua personagem viveu ou sofreu. Ele desveste a máscara diante da plateia para cumprir com seu número musical, e depois de terminado, volta a vesti-la. A figura do narrador, aliás, é esse elemento subversivo que pode avançar e retroceder na dinâmica da ação sem prestar contas à coerência dramática. É como se tivéssemos um outro ponto de vista diante dos fatos que são vividos ou encenados, uma voz especial que analisa a conduta das personagens de forma a entregar ao público a chance dele próprio tirar as conclusos necessárias daquilo que ele vê no palco. Além disso, a liberdade concedida ao narrador favorece um outro tipo de fruição poética. Tão comum em Shakespeare, a narração evoca imagens e faz da audiência um elemento ativo no complemento dessa paisagem sugerida pela voz do intérprete.
A Grande Orquestra do Mundo, com apresentação do ator e radialista Chico Carvalho vai ao ar todo domingo, às 14h, na Cultura FM e no aplicativo Cultura Digital.
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