Ouça o décimo primeiro programa completo:

A Grande Orquestra do Mundo orgulhosamente apresenta (repiques de tambor) a adaptação radiofônica do texto A Catástrofe do Sucesso, do dramaturgo americano Tennessee Williams (1911-1983).

O famoso autor da peça Um Bonde Chamado Desejo escreve dessa vez uma crônica autobiográfica sem as pretensões de levá-la ao palco. Mas A Grande Orquestra do Mundo, em um exercício de criatividade irresponsável e sem precedentes, leva você, estimado ouvinte, até o cenário do crime para testemunhar o próprio Tennessee Williams no exercício da escrita desse material que versa sobre as intercorrências nada agradáveis de um homem que galgou os píncaros da fama. Acomode-se na sua poltrona e aumente o volume do seu aparelho de rádio movido a válvulas! Aqui vai uma amostra do nosso retumbante roteiro dramatizado:

• Efeito sonoro: trânsito congestionado de uma avenida movimentada.
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• LOCUTOR - Nova Iorque, Manhattan. O ano é 1947 e o trânsito está intenso na Rua 54 entre as avenidas Park e Madison nesta tarde de um outono surpreendentemente ameno. No número 10022 localiza-se um edifício imponente construído na década de 20 e recheado com móveis europeus em suas dependências espalhadas nos vários andares a perder de vista. Trata-se do hotel Elysée. A música que estamos ouvindo vem do lobby do hotel, diretamente do badalado Monkey Bar, onde um punhado de clientes desfruta neste instante de uma taça de vinho ao som da afamada Mercury Jazz Band.
• (sobe música!)
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• LOCUTOR - Que ritmo, senhores! Que batida, hã? Que levada maravilhosa!... Mas não vamos desviar a nossa atenção. Nossos olhos e ouvidos tem um alvo especial esta tarde: aquela janelinha de esquina contando 7 lances debaixo para cima na posição de quem observa o Hotel Elysée com os pés fincados na calçada. Olhem para cima e contem comigo: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7! Estão vendo? Sim, sim, é lá mesmo: a suíte Sunset! É lá, na suíte Sunset que está Tennessee Williams, o dramaturgo. Tennessee Williams, o dramaturgo do momento que chegou aos holofotes da glória com sua última peça teatral intitulada À Margem da Vida. Um verdadeiro drama familiar, senhores! E que drama! Atenção! O interruptor acaba de ser acionado e a Suíte Sunset agora está banhada em uma luz amarelada. Tennessee Williams está lá dentro, que emoção, senhores! Aproxima-se do horário em que o Sr. Williams costuma martelar as teclas de sua velha Olivetti. E é exatamente por isso que estamos aqui. Para tentar capturar o que esta mente brilhante desse homem das ribaltas irá imprimir nas páginas brancas de sua máquina de escrever. Neste preciso momento só é possível especular mais um novo e retumbante sucesso do Sr. Williams. (máquina de escrever trabalhando) Silêncio! Aí está... o indiscutível ruído da criatividade do gênio agindo.
• Efeitos sonoro: teclas de máquina de escrever. Sobe música!
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• TENNESSEE WILLIAMS - Este inverno assinalou o terceiro aniversário da estreia, em Chicago, de À Margem da Vida, um evento que pôs término a uma parte de minha vida e começou outro tão diferente do precedente em todas as circunstancias externas quanto será fácil imaginar. Fui arrancado de meu quase anonimato e atirado aos píncaros de uma fama repentina e, do precário aluguel de quartos mobiliados em várias regiões do país, fui trasladado para um apartamento de um hotel de primeira classe em Manhattan. Minha experiência não foi única, pois o sucesso muitas vezes já irrompeu, da mesma forma abrupta, na vida de muitos americanos. A história de Cinderela é nosso mito nacional favorito, a pedra fundamental da indústria cinematográfica, se não da própria Democracia. Eu já a vira representada na tela tantas vezes que estava agora inclinado a recebê-la com um bocejo de enfado, não com descrença mas com a atitude de quem desse de ombros, exclamando: "Que bem me importa!" Qualquer pessoa dotada de dentes e cabelos tão lindos como a protagonista cinematográfica de tal história tinha, por força, que se divertir a valer, fosse como fosse. Você podia apostar seu último dólar e todo o chá da China que aquela estrela nunca seria vista, viva ou morta, em qualquer tipo de reunião que exigisse um mínimo de consciência social. (A continuar...)

Não perca o desfecho deste surpreendente relato recheado de tintas dramáticas e especialmente levado até você, celebrado ouvinte, pelas bandas do rádio... (cornetas e repiques de tambor)

A Grande Orquestra do Mundo, com apresentação do ator e radialista Chico Carvalho vai ao ar todo domingo, às 14h, na Cultura FM e no aplicativo Cultura Digital.