Fundação Padre Anchieta

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Ouça o programa completo: 


Há histórias que transitam entre momentos de grande agitação e outros de maré calma. Instantes em que a orquestra toda toca em uníssono em paralelo ao instrumento solo e melancólico. A fábula que vamos contar hoje é cheia de contrários. Poderíamos dizer que é um libelo entre a justiça e a crueldade, ou mesmo entre o interesse mesquinho e as paixões desapegadas. Talvez o que sobra de tudo o que iremos contar é a falta de bom senso e humanidade em um mundo cada vez mais fincado nas cláusulas do comércio, onde as nossas relações interpessoais passam a ser regidas pela ética do status e do dinheiro. Parece atual, não? E é mesmo. Mas também é Shakespeare. Uma prova de que o grande poeta e dramaturgo inglês era dessa espécie de diapasão que afinava suas melodias para que extrapolassem o tempo e o espaço, consciente de que o ser humano nunca é tão diferente assim que não possa ser resumido em um palco de teatro: um terreno ao mesmo tempo reduzido, e igualmente infinito.

Mas nossa história de hoje é recheada de imposturas difíceis de engolir, porque suas linhas são explicitamente antissemitas. Shakespeare certamente não a escreveria se houvesse testemunhado o genocídio do holocausto perpetrado por Hitler. A fábula gira ao redor da relação conflituosa entre Antônio, um mercador de Veneza cristão, e o judeu Shylock, outro comerciante cuja prática de emprestar dinheiro a juros o tornou rico através destas transações. Porém, há uma outra camada maior e que ultrapassa as questões religiosas envolvidas na fábula. O judeu Shylock não é somente um vilão cruel, o cristão Antônio também não se resume a uma ingenuidade inocente. Ambos não são caricaturas, ao contrário, são contraditórios, ou seja, humanos na essência da palavra. E em contrapeso ao aspecto religioso, as personagens desenvolvem seus argumentos em uma arena de embate cujo assunto principal é a justiça – será ela infalível quando se apoia na letra fria da lei? E é sobre este enfoque que vamos tratar este texto shakespeariano. Uma comédia sombria... e também problemática.

Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós. Um programa que mistura palavras e sons, paisagens sonoras e músicas, tudo para fazer ecoar o maior poeta e dramaturgo de todos os tempos.