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Shakespeare era um homem de seu tempo, e viver entre os séculos XVI e XVII não devia ser nada fácil. Os incessantes conflitos políticos aliados a crises sanitárias que varriam a Europa com toda sorte de pandemias faziam da sobrevivência algo bastante desafiador. Uma pessoa que ultrapassasse os 40 anos de idade com saúde já era uma vencedora. Normalmente se morria muito antes disso. A vida era breve, atribulada e extremamente difícil. Shakespeare sabia de tudo isso, especialmente, sabia que o teatro era um departamento das diversões públicas em que as pessoas tinham a possibilidade de se reunir para celebrar a vida, a resistência de permanecerem vivas a despeito dos regimes tirânicos, das doenças, das fatalidades. Ir ao teatro era um ato público e político. A festa, desde os mais recônditos tempos, tem essa função importantíssima: a de funcionar como uma válvula de escape às dificuldades de um mundo adverso. E não tenham dúvida disso: o teatro de Shakespeare é uma baita festa. E uma festa de caráter popular.
Como Gostais é a única contribuição de Shakespeare para o gênero pastoral, no qual a natureza é o lugar onde prevalece o bem, e a corte é o lugar onde prevalece o mal e a traição. O escritor latino Horácio – que viveu em um século anterior ao nascimento de Cristo – talvez tenha sido o primeiro a fazer essa mesma defesa, cunhando a famosa expressão “fugere urbem”, que traduzido do latim quer dizer: fugir da cidade. Outro famoso nome da filosofia, Jean Jacques Rousseau, organizou sua obra no século XVIII a partir da tese de que a civilização corrompe os costumes do homem, que nasce naturalmente bom. Henry David Thoreau, autor e filósofo americano, produziu – já no século XIX - um texto batizado pelo título Walden, uma reflexão sobre a vida simples cercada pela natureza. Seja como for, parece que Shakespeare – na peça Como Gostais – tornou concreta a mesma ideia de que a confusão das metrópoles afasta o ser humano de sua verdadeira essência.
Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós. Um programa que mistura palavras e sons, paisagens sonoras e músicas, tudo para fazer ecoar o maior poeta e dramaturgo de todos os tempos.
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