Ouça o programa completo:
Uma praça de alguma cidadezinha qualquer. Lá está um velho senhor com seu realejo. Ele convida as crianças a solicitar a sorte do dia. O papagaio, tão centenário quanto seu dono, se equilibra precariamente naquela geringonça artesanal. Sua tarefa é conhecida de todos, imutável ao longo das gerações: bicar um papelzinho aleatório da gaveta da máquina e entregá-lo seu dono de barbas brancas. Ao ler o que nele está escrito, o velho senhor pigarreia um pouco e anuncia o início de mais uma história. Uma fábula que só será crível se a audiência souber embaralhar a fantasia com a realidade. A pracinha daquele deserto de cidade – uma cidade que poderia ser qualquer cidade - torna-se um palco, o maior palco do mudo que cabe dentro de um precário realejo acionado por pelas manivelas enferrujadas da imaginação.
A história de hoje não é propriamente uma comédia. Também não é uma tragédia. Um drama, tampouco. É uma história com tudo isso, e mais alguma coisa. O ingrediente que junta tudo talvez seja a inverossimilhança, o total desprezo pelo equilíbrio lógico que deveria erguer uma fábula teatral em seus pilares básicos: a ação, o espaço, e o tempo. E também porque diferente do que acontece na vida, aqui as personagens boas tem um desfecho feliz; as más caem por sua conduta. Cimbelino é um conto moral, provavelmente. E não há problema algum que assim seja. Estamos diante de um Shakespeare já maduro, que já escreveu todas as suas grandes peças de teatro, e que agora se delicia em criar uma verdadeira sinfonia desconcertante.
Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós. Um programa que mistura palavras e sons, paisagens sonoras e músicas, tudo para fazer ecoar o maior poeta e dramaturgo de todos os tempos.
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