Fundação Padre Anchieta

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Foto: Reprodução da internet
Foto: Reprodução da internet Júlio César

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Brutus e Antônio, dois grandes oradores. Qual dos dois, porém, dizia a verdade? Ou melhor... Qual dos dois, Brutus ou Antônio endereçava suas palavras em benefício do povo... este mesmo povo que desejavam convencer com seus argumentos? Estariam os dois agindo em proveito próprio, embelezando o verbo para salvarem a própria pele de atos inconfessáveis? Shakespeare não responde. E quanto ao fantasma de Júlio César? Se ainda vivo com sangue correndo nas veias, sua vaidade o gabaritaria a se tornar um tirano? E ainda que o tornasse, um assassinato seria justificado como um gesto profilático às hipotéticas ações que ele cometeria?

Júlio César, peça escrita por Shakespeare, é um tremendo manifesto em louvor da ambiguidade. Tudo é ambíguo: o homem, os fatos, os interesses, o povo. Ninguém parece se equilibrar direito em um lado só. Ao reverenciar o desequilíbrio, Shakespeare não só desvenda a natureza política que subjaz as engrenagens do poder político, como desnuda os agentes humanos por trás desta máquina de retórica afiada. Os heróis viram tiranos, os tiranos tornam-se heróis, conspiradores passa a vítimas de conspirações, e, ao final, já não se sabe direito quem é quem, ou quem foi quem. O povo representa o emblema máximo da confusão: ora aplaude, ora vaia a mesma pessoa, o mesmo comportamento, sem reconhecer a fragilidade de suas emoções. Todos são atores atrás de uma máscara ajustável à ocasião.

É por esta razão que o verdadeiro protagonista das peças de Shakespeare é o ator. Porque é o ator quem encampa melhor esta nossa natureza camaleônica, cínica, hipócrita de lançar mão de uma máscara que melhor se amolde ao nosso rosto para cumprir determinada necessidade. Ao brincar de ser outro, o ator muito seriamente escancara a essência humana. Shakespeare sabia disso, e é por isso que ele não tenta nos convencer de nada. Ao invés disso, nos mostra as engrenagens do argumento, e com elas, a dificuldade de chegar ao fundo de uma verdade cristalina. Tudo é opaco: falso e verdadeiro ao mesmo tempo, tudo é maravilhosamente misterioso…, misterioso e perigoso também.

Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós. Um programa que mistura palavras e sons, paisagens sonoras e músicas, tudo para fazer ecoar o maior poeta e dramaturgo de todos os tempos.