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ECM Records
ECM Records Keith Jarrett

O pianista de jazz Keith Jarrett provou, ao longo de uma fulgurante carreira, que nenhuma música deveria exigir pré-requisitos para ser, senão compreendida em sua plenitude, ao menos curtida por todo tipo de público. Isto é, música boa deveria usufruir o melhor dos dois mundos: ser entendida por sua profundidade por públicos mais especializados, mas também deixar-se degustar sem resistências por todos os ouvidos.

Reinventou o recital de piano tal como inventado por Franz Liszt no século 19, introduzindo-o no reino do jazz em 1975 com “Koln Concert”. Sem temas, apenas parte I e Parte II – 66 minutos e 8 segundos de improviso sem temas previamente definidos. Um álbum que já vendeu praticamente 4 milhões de cópias físicas, antes da era dos downloads e likes das plataformas de streaming.

O que muita gente esquece é que ele é também um grande pianista clássico. Gravou boa parte da música para teclado de Bach no piano moderno assim como sonatas de Haendel ao cravo, concertos para piano de Samuel Barber e o terceiro de Bela Bartók, Arvo Pärt (“Tabula Rasa”, outro campeão de vendas da ECM) e os prelúdios opus 87 de Dmitri Shostakovich, entre outros.

O CD desta semana é uma gravação ao vivo, do primeiro livro do Cravo Bem Temperado de Bach realizada em recital em março de 1987 no Troy Savings Bank Music Hall em Nova York e só lançada comercialmente pela ECM no final de 2019. O recital aconteceu um mês depois de Jarrett ter gravado o Cravo em estúdio (os álbuns saíram naquele mesmo ano). ‘Quando toco Bach”, declarou o pianista logo depois deste registro, “praticamente ouço o pensamento se processando. Qualquer acréscimo não tem nada a ver com este processo”. Atento à partitura, seu piano flui de modo natural. Como, talvez, Bach, emérito improvisador, soaria ao tocar estes prelúdios e fugas.

Escolher esta gravação como CD da Semana é um gesto de admiração a Jarrett num momento particularmente difícil de sua vida. No último dia 22 de outubro, Nate Chinen, crítico do jornal “The New York Times”, entrevistou-o por telefone. Ele está com 75 anos. E revelou, pela primeira vez, que teve dois derrames, AVCs, em fevereiro e maio de 2018, razão do seu silêncio desde então. Levou um ano para conseguir andar com bengala em casa. E está com seu lado esquerdo – o que inclui sua mão – paralisado. Diz que tentou tamborilar algo no estilo de Bach com a mão direita, mas que não se considera mais “como um pianista”. Lamentou perda parcial de memória. “Não sei qual será o meu futuro”, acrescentou. “Não me sinto como um pianista. Isso é tudo que posso dizer sobre isso. "

Tudo isso é muito triste para todos os que gostam de música de invenção, que um músico de sua estatura criativa seja obrigado a se afastar do que o faz viver – a música. Sua última aparição pública aconteceu em 2017 no Carnegie Hall, em Nova York, onde fez severas críticas ao então recém-empossado Trump na presidência.

A entrevista do “New York Times” antecedeu em alguns dias o lançamento, pela ECM, de um álbum duplo intitulado “Budapest Concert”, o segundo gravado em sua turnê europeia em 2016.


A cada semana o crítico musical João Marcos Coelho apresenta aos ouvintes da Cultura FM as novidades e lançamentos nacionais e internacionais do universo da música erudita, jazz e música brasileira. CD da Semana vai ao ar de terça a sexta dentro da programação do Estação Cultura e Tarde Cultura.