Fundação Padre Anchieta

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Reprodução da Internet Raiff Dantas

Um álbum raro e ao mesmo tempo delicioso de se ouvir. É assim que se pode definir “Música brasileira para oboé e violoncelo”, do selo Azul Music, reunindo dois notáveis músicos – o paulistano oboísta Alexandre Ficarelli e o paraibano violoncelista Raiff Dantas Barreto – num repertório balanceado, que combina peças cheias de balanço com duas encorpadas obras solo.

O desafio fica por conta das duas obras solistas assinadas por Mário Ficarelli (1935-2014), justíssimo tributo a um dos mais destacados compositores do último meio século, que jamais fez questão de se autopromover, um modelo mesmo de retidão como criador musical. Os “Quatro Esboços para oboé” permaneciam inéditos até este belo registro de seu filho Alexandre. E Raiff interpreta a “Sonatina para violoncelo” inédita neste formato, já que é versão do original para viola, em três movimentos.

Ambos juntam-se no repertório mais acessível e igualmente pouco conhecido. Do cearense Liduíno Pitombeira, que em 2022 completará 60 anos, eles se divertem com a modinha e o baião, os dois movimentos de sua Seresta no. 18. Vale a pena, aliás, garimpar outras peças deste ciclo “in progress”, no qual Pitombeira explora este rico manancial popular bem brasileiro.

O álbum completa-se com peças de dois compositores pouco tocados – menos ainda gravados. José Guerra Vicente nasceu em Almofala, Portugal, em 1907. Aos 11 anos veio com a família para o Rio de Janeiro. Violoncelista, integrou a Sinfônica do Teatro Municipal do Rio e a Orquestra Sinfônica Brasileira. Em sua produção contam-se três sinfonias, um concerto para violoncelo, outro para trompete, música de câmara e instrumental. Daí a graça e desenvoltura de escrita do Divertimento para oboé e cello. Graça e desenvoltura também presentes em outro divertimento, composto por José Vieira Brandão, mineiro de Cambuquira que também veio para o Rio de Janeiro ainda criança, aos 7 anos, com a família, onde viveu e atuou. Morreu em 2002. Em dois movimentos, o duo começa com uma seresta e conclui com um desafio.

A peça mais divertida é o buliçoso “Frevo oboecélico” de Edmundo Villani-Cortes, mineiro de Juiz de Fora nascido em 1930 que já contabiliza mais de duas centenas de obras. Egresso da música popular, Villani-Cortes conserva o frescor e o swing em suas composições sempre atraentes.

Durante esta semana os ouvintes da Cultura FM podem escutar quantas vezes quiserem estas aventuras musicais surpreendentes do oboísta Alexandre ficarelli e do violoncelista Raiff Dantas Barreto.


A cada semana o crítico musical João Marcos Coelho apresenta aos ouvintes da Cultura FM as novidades e lançamentos nacionais e internacionais do universo da música erudita, jazz e música brasileira. CD da Semana vai ao ar de terça a sexta dentro da programação do Estação Cultura e Tarde Cultura.