Os músicos brasileiros ou aqui radicados vivem sempre um dilema quando têm a chance de gravar um álbum: música brasileira ou internacional? Contemporânea ou um clássico? Todas as alternativas são válidas, desde que realizadas com um ótimo nível artístico.
É o caso do recém-lançado álbum da Azul Music contendo duas sonatas de Beethoven, interpretadas pela pianista da Osesp Olga Kopylova. Ela nasceu 41 anos atrás em Tashkent, capital do Uzbequistão. Formou-se no Conservatório Tchaikovsky, em Moscou, onde estudou com Tatiana Galitzkaya, Liudmila Roshina e Mikhail Kollontai.
Aos 21 anos, veio para o Brasil onde, desde 2000 é pianista titular da Osesp e professora da Academia de Música da fundação.. Seu primeiro CD por aqui foi dedicado a compositores russos. No segundo, do primeiro semestre deste ano, ele toca peças da francesa Cécile Chaminade, conhecida por suas miniaturas para piano. E agora, este mês, esta lançando o álbum Beethoven.
É um sinal de vitalidade da vida musical brasileira quando uma pianista local – ela hoje é mais bsrasileira do que uzbeque – grava o chamado grande repertório.
Curiosamente – e isso é bom -- Olga escolheu duas sonatas pouco tocadas. A terceira de um pacote do opus 2 contendo as três sonatas iniciais de Beethoven, compostas em 1795 e dedicadas a seu então professor Haydn; e a primeira das três do opus 31, composta entre 1801 e 1802. Um momento-chave em sua vida, quando ele constata a surdez permanente e escreve o célebre “Testamento de Heiligenstadt”, em 6 de outubro de 1802.
A sonata no. 3 em dó maior é a mais tocada entre as três do opus 2. Ela tem quatro movimentos, mas Beethoven reservou o melhor para o scherzo-Allegro e o Allegro assai que Olga juntou num só movimento: o scherzo brilhante vai até bem próximo dos 3 minutos e nos quase 4 minutos finais o Allegro assai brilha em forma de rondó-sonata em 6/8, cheio de leveza e graça.
Usei a palavra “curiosamente” porque Olga não escolheu a segunda sonata do opus 31, que traduz em música o momento trágico que vivia o compositor. Em vez disso, optou pela imponente sonata em sol maior, que um pesquisador definiu como. “a glória da síncope como elemento humorístico”.
Detalhe: ao contrário do rondó da sonata do opus 2, na sonata opus 31 no. 3 o rondó final é banal. O interesse está mesmo no vibrante Allegro vivace inicial, cheio de surpresas, desencontros propositais entre a mão esquerda e a direita logo nos primeiros compassos.
Durante esta semana os ouvintes da Cultura FM podem saborear quantas vezes quiserem estas leituras muito boas de Olga Kopylova.
A cada semana o crítico musical João Marcos Coelho apresenta aos ouvintes da Cultura FM as novidades e lançamentos nacionais e internacionais do universo da música erudita, jazz e música brasileira. CD da Semana vai ao ar de terça a sexta dentro da programação do Estação Cultura e Tarde Cultura.
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