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Numa palestra realizada em 2021, o pianista norte-americano Robert Levin, hoje com 75 anos, começa imaginando que um futuro estudo no ano de 2203 sobre o modo de se tocar piano hoje em dia não se baseará mais na obra dos compositores contemporâneos, mas sim num estudo aprofundado a respeito do modo como os grandes pianistas do nosso tempo tocam. Nomes como Rudolf Serkin, Sviatoslav Richter, Arturo Benedetti Michelangeli, Alfred Brendel, Martha Argerich e Maurizio Pollini.
Mas – e aí ele se volta para o compositor que vem sendo seu objeto de estudo de sua vida inteira – quando falamos da prática dos instrumentos de teclado nas décadas finais do século 18, aí o foco tem de ser sobre os compositores. Mais precisamente, sobre Mozart. Cito de memória: a música para teclado de Mozart não foi só genial, mas fundamento decisivo para a música de Beethoven, Hummel e Mendelssohn, entre outros.
Digo isso porque a ECM de Munique está lançando, em sete CDs, uma deslumbrante viagem cheia de descobertas de Levin por todas as sonatas para piano escritas por Mozart. Ele incluiu até movimentos isolados de sonata, na verdade fragmentos que ele completou.
Último detalhe que faz desta integral uma aventura diferenciada é o fato de que Levin toca num piano de 1782, fabricado por Anton Walter, e comprado por Mozart naquele ano em que se mudou definitivamente para Viena. Para vocês terem uma ideia do rigor musicológico de Levin, o encarte traz um longo ensaio dele relativo às suas escolhas interpretativas assim como dos fragmentos por ele concluídos, e outro ensaio de Ulrich Leisinger, diretor de pesquisa da Fundação Mozarteum de Salzburgo.
Levin, na verdade, acalentou este projeto desde 2005, quando gravou o primeiro álbum de sonatas para a Harmonia Mundi alemã num fortepiano Stein de 1777. A integral não se realizou. O instrumento não apresentava a doçura de timbre que o Anton Walter possui.
A integral contempla as dezoito sonatas, a revolucionária “Fantasia em dó menor K. 475”, e três movimentos de sonata completados pelo pianista: K. 42, K. 312 e K. 400. Duas características destacam-se: a música para piano de Mozart tem inspiração vocal, como acentua o pesquisador francês Guy de Sacre; e, conclui, ela mantém o perfume do improviso.
A cada semana o crítico musical João Marcos Coelho apresenta aos ouvintes da Cultura FM as novidades e lançamentos nacionais e internacionais do universo da música erudita, jazz e música brasileira. CD da Semana vai ao ar de terça a sexta dentro da programação do Estação Cultura e Tarde Cultura.
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