Ouça o álbum completo:
Eles se conheceram numa festa na noite de Natal de 1966 em Londres, na casa do pianista chinês Fou Ts’ong. Ela estirada no sofá, ao lado de seu violoncelo Davidov. Daniel Barenboim, então com 21 anos e já celebridade, falou para Jacqueline du Pré, com exatamente a mesma idade: “Você não tem jeito de violoncelista”. Ela levantou-se, chamou Fou T’song e juntos tocaram a conhecidíssima sonata de César Franck, original para violino, aqui em transcrição para cello e piano. Em seguida, perplexo, Daniel sentou-se ao piano e eles “conversaram” musicalmente, sem trocar nenhuma palavra, por cerca de quatro horas fazendo música juntos. Em 2017, ele relembrou com lágrimas nos olhos aquela primeira noite de amor musical: “Ela não fazia música, ela era a música”.
Eles viveram uma versão musical/afetiva de romeu-e-julieta no século 20. Gravaram juntos extensivamente, viveriam felizes para sempre – não fosse a esclerose múltipla que a vitimou em 1973. Irreversível. Ela morreu em 1987, aos 42 anos.
Contei esta história porque resolvi compartilhar com vocês esta semana o álbum duplo do início da década de 1970 em que Du Pré, Daniel e um terceiro parceiro muito amigo do casal, o notável Pinchas Zukerman, tão bom ao violino quanto na viola que o celebrizou. Estes discos – ainda bolaçhões LPs nos anos 1970, claro – fizeram a minha cabeça em termos de ideal de prática da música camerística.
Três personalidades tão fortes que surpreendentemente abdicam de seus egos para compor performances emocionantes dos trios para piano e cordas de Beethoven. Esta gravação marcou época. Este é o CD, ou melhor, CDs, desta semana em que Daniel Barenboim comemora seus 80 gloriosos anos, em plena atividade.
A cada semana o crítico musical João Marcos Coelho apresenta aos ouvintes da Cultura FM as novidades e lançamentos nacionais e internacionais do universo da música erudita, jazz e música brasileira. CD da Semana vai ao ar de terça a sexta dentro da programação do Estação Cultura e Tarde Cultura.
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