Ouça o álbum completo:
O grande maestro russo Mariss Jansons, que nos deixou no dia 1º. de dezembro de 2019, aos 76 anos, costumava identificar uma grande performance como “Cósmica”: é quando músicos e plateia respiram juntos. “Nossa missão”, dizia, “é atingir o nível de expressar o que está por trás das notas o tempo todo. Esse é o nível que chamo de ‘cósmico’. É como escapar da órbita, do magnetismo, da gravidade da Terra. Não mais questões de afinação, precisão, notas longas ou curtas demais, tudo é finito. Em vez disso, só atmosfera e imaginação. SE você consegue isso, então está no cosmo”.
Músicos não são máquinas, dizia Jansons. Nos ensaios, dizia que fazia cada obra, nos ensaios, entrar na “corrente sanguínea” dos músicos: “Se os músicos sentem que a peça está subensaiada, a música não corre em suas veias. Eles precisam sentir-se seguros de que tecnicamente tudo está perfeito; só assim estarão livres para fazer música”.
Quando compartilhou com um jornalista inglês estas reflexões, Jansons era o titular da Orquestra do Concertgebouw de Amsterdã. Mas por onde passou conseguiu resultados excepcionais na prática musical. Nascido na Letônia, mudou-se com a família, aos 13 anos, para São Petersburgo. Assistente do lendário Evgeni Mravinsky na Filarmônica de Leningrado, terminou sua carreira como titular da concetgebouw e da Orquestra da Rádio da Baviera em Munique.
Como todos os concertos eram gravados, o selo BR=Klassik, da Orquestra da Ràdio da Baviera possui um acervo impressionante de registros de Mariss Jansons. E os vem lançando periodicamente. Um dos mais recentes é o álbum ideal para homenagear este que foi um dos grandes, dos maiores da regência orquestral moderna na passagem dos três anos de sua morte, ocorrida no dia 1º. de dezembro de 2019.
O álbum reúne três obras sacras dos séculos 20 e 21 que combinam alta criatividade com poder de impactar nossos ouvidos de modo memorável. Em todas participa o coral da orquestra da Bavária e na obra de Stravinsky a solista é a soprano Genia Kühmeier. A mais recente é a “Missa Berlinense”, composta pelo estoniano Arvo Pärt, 87 anos, estreada em 1990, a propósito da reunificação da cidade – um dos grandes fatos históricos do século 20. A mais antiga é a “Sinfonia dos Salmos”, do período neoclássico de Igor Stravinsky, composta em 1930. Detalhes: ele constrói sonoridades inovadoras ao destacar a harpa, dois pianos e os tímpanos. E entre ambas, está o Stabat Mater do compositor francês Francis Poulenc, que nesta obra de 1950 chora a morte de um amigo.
Pärt, Poulenc e Stravinsky são três compositores que, não importa o que tenham composto, merecem ser ouvidos sempre. Porque sua arte invariavelmente nos toca. Com estes três, não existe a obra de ocasião, descartável.
A cada semana o crítico musical João Marcos Coelho apresenta aos ouvintes da Cultura FM as novidades e lançamentos nacionais e internacionais do universo da música erudita, jazz e música brasileira. CD da Semana vai ao ar de terça a sexta dentro da programação do Estação Cultura e Tarde Cultura.
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