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Reprodução da Internet.
Reprodução da Internet. Hansjörg Albrecht

Ouça o álbum completo:


Em 1988, o maestro Lorin Maazel obteve uma enorme repercussão com um projeto revolucionário: sintetizou em 70 minutos as cerca de 16 horas que duram as quatro óperas da tetralogia “O Anel do Nibelungo”, de Richard Wagner. Na esteira do sucesso desta empreitada, outros se lançaram a aventuras semelhantes. A mais recente, de 2017, é da Staatskapelle Weimar e seu maestro Hansjorg Albrecht.

Agora, eles lançam um ”Tristão e Isolda – uma paixão orquestral” pelo selo Oehms Classics. É um “Tristão e Isolda sem palavras: os principais temas da célebre ópera de Richard Wagner foram arranjados para orquestra por Henk de Viegler. Outro detalhe a se ressaltar: a Staatskapelle Weimar existe desde 1491 e participou ativamente de vários momentos da carreira de Wagner, especialmente na metade do século 19, quando Franz Liszt foi seu diretor musical e promoveu firmemente suas óperas.

Este tipo de arranjo faz sentido porque a orquestra é o supremo recurso expressivo de Richard Wagner. Ele lhe outorga papel decisivo em suas óperas, como ressalta o filósofo judeu-alemão Ernst Bloch (1885-1977). Ele nos ensina a ouvir o que Wagner tem de melhor: a música. Escreve que o compositor foi um “mestre que quis precisamente erigir a orquestra como supremo recurso expressivo; a transparência e o vazio metálico nas vozes orquestrais triunfam”. Anota ainda que “quem decide é o Wagner músico, não o presumido pintor ou arquiteto teatral, como tampouco o diretor de cena ou inclusive o autor do libreto, que aqui intervém sempre de acordo com uma concepção musical prévia. A relação com este mundo torna a música um sismógrafo social, ela reflete fraturas sob a superfície social, expressa desejos de transformação, convida á esperança (...) O som exprime o que ainda está mudo no ser humano”.

O filósofo também nos aconselha como começar a escutar Wagner. “Respondo com uma só palavra: com humildade. Só assim um hóspede de Wagner novato e muito curioso está em condições de conhecê-lo”.
Algumas informações pra você curtir melhor este “Tristão sem palavras”. Wagner trabalhou por mais de uma década, desde o início dso anos 1850, em duas frentes: no Anel e em Tristão. Em 1852, em Zurique, Wagner conheceu o industrial Otto Wesendonck e sua esposa Mathilde. Ele foi seu mecenas; ela, sua amante. Durante meses, concebeu os primeiros esboços do Anel.

Naquele momento, fascinou-se com a leitura de “O Mundo como vontade e representação” do filósofo Arthur Schopenhauer (1788-1860). Encontrou sua alma gêmea quando leu que existe um sofrimento fundamental no homem, e o papel da arte é justamente o de aliviar este sofrimento, fazer com que ele o esqueça. Chegou a pensar em criar um drama musical budista, Os vencedores, mas a idéia não prosperou. Ao contrário, a paixão secreta por Mathilde crescia cada vez mais. E Wagner atendeu aos reclamos do coração, largando tudo e concentrando-se na lenda celta dos amores de Tristão e Isolda.

Alegou que este era um tema mais acessível ao grande público. Secretamente, desejava homenagear o amor por Mathilde ao contar a história de uma paixão provocada pelo filtro do amor. Este substitui o filtro da morte, mas será fatal ao casal, pois o destino dos amores proibidos é com certeza a morte.

“Tristão e Isolda” foi composto com extrema rapidez. O prelúdio ficou famoso por traduzir em sons duas noções contraditórias como amor e morte, a ponto de ter sido muito utilizado pela cultura de massa nestes 130 anos. No Brasil, um uso inteligente desta peça foi feito pelo maestro John Neschling, fazendo dele a música-tema da minissérie “Os Maias”, baseada na obra de Eça de Queiroz. O casal morre na ópera, mas na vida real sua esposa Minna explodiu de ciúme e exigiu a separação, que de fato ocorreu.