Ouça o álbum completo:
A todo momento, a inesgotável riqueza do barroco italiano nos proporciona surpresas e música da mais alta qualidade de invenção. É o caso do CD desta semana,intitulado “Locatelli: il virtuoso, el poeta”, que traz concerti grossi e concertos para violino de Pietro Locatelli, nascido em Bérgamo em 1695 e morto em Amsterdã, em 1764. Ele viveu um itinerário interessantíssimo. Em 1711 estudou em Roma a tempo de ter aulas com Corelli, que morreria dois anos depois, em 1713. Seus concerti grossi – aqueles que contrapõem um grupo de solistas, chamado concertino, ao tutti – seguem a vereda aberta por Corelli, mas inovam na monumentalidade. Em 1729, quando chega a Amsterdã, então centro mais importante de edição de partituras, destacou-se graças a uma agilidade técnica e potência sonora legendárias, combinadas com uma doçura incomparável em seu cantabile.
Em 1728, travou um duelo violinístico com o francês Jean-Marie Leclair em Cassel. Um contemporâneo escreveu que Leclair tocou como um anjo, e que Locatelli, por sua extraordinária virtuosidade, tocou como um demônio. Prefiguração da imagem que tornou Niccolò Paganini celebridade em todo o continente nas primeiras quatro décadas do século 19.
Resumindo: já retirado da vida pública, Locatelli manteve às quartas-feiras, um concerto em sua bela casa em Amsterdã. Com um detalhe: não queria músicos profissionais, só amadores. Preferia o puro prazer de fazer música, sem egos disputando espaço entre si, imagino.
A esta altura, você já se convenceu de que vale muito a pena conhecer e ouvir mais a música de Locatelli. O álbum lançado nos meses finais do ano passado pela formidável violinista Isabelle Faust,que já tocou várias vezes na Sala Sâo Paulo, traz dois concerti grossi, dois concertos para violino e uma pastoral que é um movimento do concerto grosso opus 1,no.8. Faust não deixa por menos ao escolher como parceiros os músicos de Il Giardino Armonico e o regente Giovanni Antonini. Solista, músicos e regente não gravam nada que não lhes pareça importante do ponto de vista artístico. Não precisam fazer concessões.
Daí a qualidade extraordinária do repertório e das interpretações.
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