Ouça o álbum completo:
Nascida em Viena de família do Kosovo 39 anos atrás, a mezzo-soprano Flaka Goranci cresceu na República do Kosovo, onde teve as primeiras aulas de piano. Na Academia Albanesa de Música a mezzo kosovar concluiu o bacharelado e estreou como Rosina em “O barbeiro de Sevilha” aos 22 anos. Concluiu mestrado em Telavive, Israel, mas foi em Viena que iniciou sua carreira internacional.
Desde que engravidou, a mistura de emoções ao atuar em palco levou-a a pensar mais nas mulheres da música, nas suas experiências, mas também nos seus desafios.
Seu álbum da Naxos recém-lançado intitulado “La femme” entrelaça suas raízes no Kosovo com criações musicais de mulheres que foram recalcadas ao longo de muitos séculos. E ainda são, em pleno século 21.
Por séculos a história das mulheres foi contada através dos homens, mas "La femme" vira esta narrativa de cabeça para baixo. A jornalista, musicóloga e radialista vienense Irene Suchy escreve no encarte do CD desta semana na Cultura FM que “As mulheres mostradas nos quadros foram pintadas principalmente por homens: Susanna em seu banho, A caçada de Diana. Quando se canta sobre as mulheres, canta-se principalmente com palavras de homens. Durante muito tempo, a linguagem dos homens deu voz às mulheres. A história tornou-se “a história-deles”, na qual as mulheres cientistas e artistas foram preteridas, os êxitos das mulheres foram atribuídos aos homens e documentos biográficos foram destruídos. Mulheres que se destacaram publicamente foram declaradas outsiders, exceções ou diletantes”.
Resumindo: a história das mulheres nas artes e na música foi contada por homens. Portanto, soava natural a consolidação de um itinerário e repertório canônico que excluía as mulheres. A discriminação fez com que Aurore Dupin, por exemplo, assumisse uma figura pública masculina, não só ao se vestir, mas no nome: George Sand. A compositora Amy Beach assinava A.Beach, tentando driblando o preconceito de gênero.
O álbum de Flaka Goranci desfila música de mulheres. “Todas”, escreve Irene Suchy, “sabiam da desvantagem do seu género e muitas vezes de outro estigma, a cor da sua pele. No entanto, elas compunham e, além disso, estavam comprometidas com os direitos humanos e das mulheres, com o pacifismo, com os seus colegas compositores e obstinadas em ter os mesmos direitos que os homens sobre suas criações musicais”.
“La Femme” é um caleidoscópio variado. Ao lado de músicas de compositoras europeias, também acolhe, sem preconceito algum com a música popular, a mexicana Consuelo Velásquez, autora de “Besame mucho” ou da africana Miriam Makeba e sua imensamente popular “Pata Pata”.
REDES SOCIAIS