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Já pensou em assistir a um quarteto de cordas tocando suas próprias composições num concerto? Pois isso aconteceu em Viena, em 1784. A escalação foi a seguinte: Joseph Haydn (1732-1809) e Karl Ditters von Dittersdorf (1739-1799) nos violinos; Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) à viola; e Jan Krtitel Vanhal (1739-1813) ao violoncelo. Os três primeiros austríacos, o último tcheco, mas radicado em Viena. Eles tocaram, claro, composições de seus integrantes: o Quarteto de Cordas no. 5 em sol maior, opus 33 de Haydn; o Quarteto no. 2 em lá maior, que coincidência, também o opus 33, só que de Vanhal; outra coincidência, o opus 33 de Dittersdorf, seu quarteto no. 5, em mi bemol maior; e o Quarteto no. 19 de Mozart, em dó maior, K.465, que ganhou o apelido de “Dissonante” ou “das dissonâncias” por causa do início do primeiro movimento, tão profeticamente dissonante que assustou até Haydn.
O tenor irlandês Michael Kelly, presente àquele concerto, anotou em seu diário que "os músicos eram sofríveis; nenhum deles se destacou no instrumento que tocava, mas havia um pouco de ciência entre eles". Atrevido, pois os quatro eram compositores dominantes em Viena, naquela década. Mozart, aliás, tratava Haydn como se fosse seu aluno, dedicou-lhe um grupo excepcional de seis quartetos, compostos entre 1782 e 1785, e que lhe deram, como deixou escrito, um enorme trabalho. O das dissonâncias é o derradeiro deles.
Bem contei toda esta história a propósito de um álbum especialíssimo lançado esta semana pelo quarteto checo Bennewitz. Mas, verdade seja dita, não foi coincidência, mas decisão deliberada do quarteto, conta o violinista Stepan Jezek: “A reunião historicamente documentada dos quatro compositores, sua amizade e inspiração mútua foram o incentivo perfeito para fazermos uma gravação com obras de todos eles. Escolhemos obras específicas com base nas datas em que foram compostas, para que coincidissem com o momento em que a reunião real ocorreu”. Reconhece que “é provável que elas tenham sido realmente tocadas naquela noite”.
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