Ouça a coluna completa de Leão Serva:

Dados levantados pela COIAB – Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – apontam que a cada duas mortes de indígenas por covid-19 somente uma é registrada pelo Ministério da Saúde. “Isso significa que 50% dos casos estão sendo escondidos embaixo do tapete do órgão em Brasília”, analisa Leão Serva. Segundo o jornalista, o fato ocorre não por falta de capacidade estatística, mas por uma ideologia que considera indígenas somente aqueles que moram em aldeias ou em terras demarcadas. “É como se o Ministério da Saúde dissesse que os judeus brasileiros não são judeus porque não moram em Israel”, compara. “Ou como se os árabes brasileiros não fossem árabes apenas porque não moram nas Arábias”.

Leão Serva cita o caso dos índios da etnia Pankararu, que moram na favela Real Parque, no Morumbi, zona sul de São Paulo. Eles são originários de Pernambuco, mas fugiram da seca no estado e vieram trabalhar na construção civil. E já são em maior número na capital paulista do que no local de origem. “Queira ou não o Ministério da Saúde, eles são Pankararu na favela do Real Parque, em Pernambuco ou na China. Isso faz parte do DNA deles”, explica.

O colunista descreve como ideológica e “talvez racista” a decisão do Ministério da Saúde e da Secretaria de Saúde Indígena de não reconhecer os índios que vivem em grandes cidades. E alerta: a Secretaria de Saúde Indígena está vacinando contra a covid-19 os garimpeiros que moram em terras indígenas, como a Yanomami.

O jornalista Leão Serva, diretor de Jornalismo da TV Cultura, fala sobre questões relacionadas aos povos indígenas todas as segundas-feiras, no programa Estação Cultura.